Índices inflacionários e desvalorização do Real acentuam instabilidade econômica

Segundo Paulo Feldmann, professor da FEA, há um novo fato no quadro econômico: exportadores brasileiros canalizam dólar para outros países com maiores taxas de remuneração

 23/10/2020 - Publicado há 4 anos
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O Jornal da USP no Ar recebeu hoje (23) Paulo Feldmann, professor associado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, para tratar  do desempenho do Real e o crescimento da inflação em 2020. Sobre a alta do dólar, ele explica que tradicionalmente, tanto no Brasil quanto em outros países da América Latina, quando o país passa por uma instabilidade política, ou não se acredita nas propostas do governo, a moeda reflete isso. “Em um quadro instável, de desvalorização do Real, há uma procura muito grande pelo dólar. Um dos componentes dessa crise é esse: pessoas querem proteger seu capital e não há alternativas, nem renda fixa, imóveis ou ações”, aponta. 

A outra questão que Feldmann aborda são os índices inflacionários: o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no momento, apresentam resultados muito diferentes. O índice da FGV mostra uma inflação entre 18% e 20% ao ano, ao passo que o IPCA não passa dos 3%. Segundo o professor, há um medo de que o IPCA não esteja medindo corretamente a inflação e é, portanto, mais uma razão para que as pessoas queiram proteger seu dinheiro. 

De acordo com ele, há um fato novo a ser observado. Como o Brasil é um grande exportador de commodities, um grande número de dólar entrava no País. “Era um quadro muito bom, porque muita moeda entrava. Agora, a exportação de commodities continua, porém, esse dólar não entra no Brasil, pois os exportadores canalizam a moeda estrangeira para outros países, onde as taxas de remuneração e juros são maiores”, explica. Para ele, é provável que o governo tome alguma medida para que o dólar permaneça no País. 

O IPCA sempre foi usado, mas o mercado tem deixado de usar, já que chama a atenção a discrepância entre os índices. “O IPCA leva em conta principalmente alimentos, mas considera uma grande cesta, com mais de 300 tipos diferentes de alimentos, o que acaba sendo um problema, pois muitos não fazem parte da refeição do brasileiro”, aponta Feldmann. “Já o IGP-M leva em conta principalmente os alimentos essenciais para a população, além do fato de que leva em conta toda a cadeia de valores do mercado.” 

O IPCA também não registra o preço dos aluguéis que, segundo o professor, também tem subido. “Muitas coisas preocupam, como produtos importados, cuja base principal é o dólar. Isso o IPCA também não leva em conta. Hoje, infelizmente, importamos muitos produtos industrializados, já que a nossa indústria não consegue suprir as necessidades. E não temos dólar suficiente para pagar tudo isso”, completa.

Ouça a íntegra da entrevista no player.


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