Já é consenso que a transformação social só vai acontecer com educação de qualidade para todos. Esse é o caminho para o Brasil ter cidadãos conscientes tanto de seus direitos como dos seus deveres. Mas essa transformação só vai acontecer se na escola crianças e adolescentes também forem estimulados a conhecer, discutir e se envolverem nos problemas do dia a dia do País.
Para ajudar nesse processo, alunos e pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, com a participação de professores e alunos do ensino fundamental de uma escola da cidade, desenvolveram a cartilha Liderança e Mobilização Social para crianças e adolescentes do ensino fundamental. O intuito é promover entre os jovens discussões sobre seus direitos, especialmente à saúde, e deveres, como indivíduos inseridos na sociedade.
A cartilha é dividida em nove capítulos, que trazem desde a história dos direitos humanos, com a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), passando pela criação do Sistema Único de Saúde no Brasil, com a promulgação da Constituição em 1988, até informações sobre os Conselhos Municipais de Saúde e dos Grêmios Estudantis, e, ainda, os direitos à saúde dos cidadãos brasileiros e sua importância na sociedade contemporânea. Tudo de maneira simples e compreensível, com desenhos feitos pelos próprios alunos do ensino fundamental, para melhorar o entendimento de outras crianças e adolescentes.
Maria Luiza dos Santos Barbosa, pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Enfermagem, Saúde Global, Direito e Desenvolvimento (Gepesades), destaca a importância dos capítulos de reflexão e de orientações sobre como tomar atitudes em assuntos relacionados à saúde. “Desejamos que os alunos ressignifiquem o conceito de saúde, discutam tanto os direitos e deveres individuais quanto coletivos e que conheçam e proponham novas formas de intervenção e resolução de problemas.”
A criação da cartilha
A ideia da publicação surgiu a partir da participação da professora Carla Aparecida Arena Ventura, coordenadora do Gepesades e do Centro de Educação em Direitos Humanos e Saúde (CEDiHuS) da EERP, no Programa Líderes em Equidade em Saúde, da George Washington University. O programa consistia em incentivar a formação de líderes mundiais para fortalecer a equidade dos indivíduos dentro do sistema de saúde.
Quando retornou ao Brasil, a professora deu início ao projeto Liderança e Mobilização Social: estimulando a compreensão da participação social em saúde em alunos do ensino público fundamental, cujo intuito, além de incentivar a participação social dos jovens do ensino fundamental na saúde, é também desenvolver habilidades de liderança entre eles.
Para aplicar o projeto, alunos da EERP foram a algumas escolas públicas da cidade de Ribeirão Preto para ensinar aos jovens sobre liderança e participação social e perceberam que tanto os alunos quanto os docentes não tinham conhecimento sobre as ações do Conselho Municipal de Saúde (CMS) nem sabiam quem pode participar desse órgão. Assim, nasceu a cartilha Liderança e Mobilização Social para crianças e adolescentes do ensino fundamental para conscientizar os jovens, entre outros assuntos, de que eles podem e devem participar do CMS.
Os alunos e professores das escolas participantes do projeto contribuíram na formulação da cartilha, mas, devido à pandemia, a entrega do material concluído foi adiada. A previsão é que a distribuição ocorra quando as aulas presenciais forem retomadas. “O estímulo ao pensamento crítico e reflexivo dos alunos vai além do desenvolvimento das habilidades de liderança e mobilização social, incentiva o desenvolvimento interpessoal entre os próprios alunos, professores e familiares”, destacou Maria Luiza.
Ainda segundo a pesquisadora, o projeto de promoção da liderança e mobilização social entre alunos deve se manter ainda mais forte, mesmo em tempos de pandemia. “Queremos que a cartilha seja usada para a reinvenção e construção de um mundo mais justo e equitativo, onde os jovens possam exercer de forma mais efetiva seus direitos humanos, principalmente por meio da participação social em saúde.”