Quais são os passos que trabalhos científicos costumam seguir antes de serem publicados em periódicos de grande destaque e o que os tornam tão relevantes para o meio acadêmico? Essas e outras questões foram debatidas durante o evento Periódicos de Alto Impacto: Experiências Politécnicas, na Escola Politécnica (Poli) da USP, com a participação de professores referências no assunto: Reinaldo Giudici, do Departamento de Engenharia Química (PQI), e Vanderley John, do Departamento de Engenharia Civil (PCC).
A palestra, realizada no dia 31 de outubro, foi organizada pela Comissão de Pesquisa da Poli e teve o apoio do Departamento de Engenharia de Produção (PRO) e da Fundação Vanzolini. Ainda participaram do evento o diretor da Poli, José Roberto Castilho Piqueira, o presidente da Fundação Vanzolini, João Amato Neto, e o professor coordenador da Comissão de Pesquisa da Poli, Gilberto Francisco Martha de Souza.
Os três foram unânimes em seus discursos sobre a importância da divulgação do conhecimento proporcionada pelas publicações científicas. Para Piqueira, iniciativas como essa contam para ampliar a qualidade da produção acadêmica da Universidade. “Melhorar a publicação científica da USP é se preocupar não somente com os índices quantitativos, mas com a qualidade da mesma”, afirmou.
Tendo como objetivo melhorar a qualidade, o encontro procurou discutir estratégias a serem aplicadas na redação de artigos que resultem em publicações de alto impacto. Confira agora algumas das dicas compartilhadas pelos professores da Poli, pesquisadores experientes em seus campos de estudo:
1 – Redija e publique também em inglês
As publicações de alto impacto geram o reconhecimento necessário para atrair os investimentos de empresas, instituições de ensino e órgãos de fomento à pesquisa, principalmente se forem internacionais. “Os artigos redigidos e publicados em inglês possuem maiores chances de serem citados”, afirma John.
2 – Pense onde quer publicar desde o início
A publicação do artigo deve começar a ser pensada logo na concepção do projeto de pesquisa e não como uma etapa separada, após o término da tese ou da dissertação. Isso se deve ao fato de que os periódicos levam em conta a originalidade do paper na hora de decidir por sua publicação. “Isso é importante para não repetir assuntos que já foram publicados no journal”, destaca Giudici, que desde 2008 é editor-chefe do Brazilian Journal of Chemical Engineering.
3 – Revise atentamente a bibliografia
“A contribuição e a relevância que esse trabalho terá para o meio científico, e se ele preencherá alguma das lacunas existentes da literatura atual são coisas a serem pensadas”, explica Giudici. Revisar a fundo e com cuidado toda a bibliografia existente sobre o tema antes de qualquer outra etapa é o conselho do professor John.
4 – O critério de escolha do periódico não se resume à relevância
Ao escolher o periódico para submeter um artigo, não é somente a relevância que esse journal têm para o meio acadêmico que deve ser ponderada, apesar de ser um fator muito importante. “Os periódicos mais citados são conhecidos, geralmente, por seus rígidos e éticos critérios de seleção e devemos ter isso em mente ao escolhermos para quem enviar o trabalho”, defende Giudici. Contudo, revistas que sejam especializadas na área estudada costumam ter seu público-alvo bem definido, o que aumenta as chances do artigo receber citações posteriores.
Além disso, é preciso tentar evitar ao máximo o que o pesquisador definiu como “periódico predatório”. “Aquele journal, preocupado somente em ganhar dinheiro com a publicação, vai aprovar o artigo de qualquer forma. Isso não acrescentará em nada ao trabalho”, concluiu.
5 – Conheça as normas e formalidades
Giudici colocou que o primeiro passo ideal é conhecer as normas e formalidades do periódico, além de adaptar o texto de acordo com elas. “A forma definitivamente não melhorará o conteúdo, mas se ela não estiver adequada pode servir como critério de eliminação de um conteúdo muito bom.”
6 – Revise com cuidado e seja simples e direto na redação
John destacou ainda a importância de uma boa revisão. “Uma publicação científica necessita de uma ótima redação. Costumamos, no Brasil, escrever resumos e introduções extremamente extensas e muitas vezes desnecessárias.” O embasamento adequado em uma literatura relevante, a apresentação do objetivo do trabalho no contexto científico e a simplicidade e síntese na escrita ajudariam, segundo ele, a melhorar o artigo.
7 – Saia do óbvio ao redigir a cover letter
Outro ponto em que se deve prestar muita atenção é na chamada cover letter, ou carta de encaminhamento. Ela consiste em um texto de apresentação do artigo a ser enviado ao editor com o trabalho. Para Giudici, o segredo é sair do óbvio. “Essa carta, de certo modo, tem que convencer o editor de que aquele artigo é digno de ser avaliado.” Por isso, o texto deve enfatizar a relevância e a contribuição inédita do trabalho.
8 – Quantidade ou qualidade?
Uma prática muito criticada pelos dois professores foi a chamada salami science: quando uma tese ou dissertação é dividida em vários artigos a fim de gerar uma quantidade maior de publicações. De acordo com ambos, isso não é bem-visto entre os editores das revistas científicas.
Publicar resultados é obrigação do pesquisador para com a comunidade – segundo destacou o professor Giudici, a atividade científica é, antes de tudo, coletiva. Por isso, o pesquisador possui o dever de divulgar os resultados de seu trabalho com os colegas da profissão. O professor John reforça o argumento do colega docente. “A pesquisa é um trabalho cumulativo, qualquer coisa que estudemos vai se tornar parte de um processo que começou há pelo menos 250 anos”, explica. Contribuir para a formação do conhecimento de mundo deve ser, consequentemente, parte do objetivo de quem faz ciência.
Segundo os palestrantes, a quantidade de citações que um paper ou um periódico tem é fundamental para determinar o fator impacto dos mesmos sobre a comunidade acadêmica. Com relação a um journal, essa variável é medida pela quantidade de citações que ele recebeu durante dois anos, dividida pelo número de artigos publicados por esse periódico no mesmo período.
Para artigos científicos, a lógica é parecida: seu impacto é medido pela divisão do número de citações que a publicação recebeu pela quantidade de publicações que o autor já fez. Ou seja, o número de citações acaba sendo mais impactante que o número de publicações.
O evento terminou com uma reflexão do professor John a respeito dos investimentos em pesquisa brasileiros. “A Suíça gasta o equivalente a 40% do que o Brasil gasta com pesquisa. Contudo, ela publica a mesma quantidade de artigos do que o nosso país, com um impacto internacional três vezes maior”, concluiu.
Da Assessoria de Imprensa da Poli