Produção de órgãos em laboratório promete revolucionar pesquisas em medicina

Segundo Gabriel Liguori, médico do Incor e fundador da startup TissueLabs, a técnica permite maior verossimilhança com o organismo humano do que modelos animais e placas de petri

 19/02/2021 - Publicado há 3 anos

 

Graças à biotecnologia, é possível produzir diversos órgãos, mas ainda deve levar algum tempo até a bioimpressão de órgãos complexos – Imagem: Canva
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O médico Gabriel Liguori, do Instituto do Coração (InCor) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), foi considerado um dos profissionais mais inovadores abaixo dos 35 anos da América Latina pela edição em espanhol da lista Innovators Under 35 LATAM 2020, do MIT Technology Review, revista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. O reconhecimento é fruto do trabalho desenvolvido pelo médico na criação de órgãos em laboratório por meio de sua startup, a TissueLabs.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Gabriel Liguori, doutor em Cirurgia Torácica e Cardiovascular pela Faculdade de Medicina da USP, pesquisador e fundador da TissueLabs, explica que a criação da empresa foi pela necessidade de ampliar os investimentos e as pesquisas sobre produção de órgãos em laboratório. O interesse do médico pela medicina regenerativa surgiu após uma conferência em que o tema foi abordado. Depois, Liguori se aprofundou nos estudos sobre o tema até possibilitar a criação da startup, que hoje é capaz de produzir tanto os equipamentos necessários quanto os órgãos.

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Graças à biotecnologia, é possível produzir diversos órgãos, mas devido à complexidade das estruturas e de os estudos serem recentes, ainda deve levar algum tempo até a bioimpressão de órgãos complexos. Liguori informa que o primeiro passo é produzir tecidos mais simples, como pele, cartilaginosos e ortopédicos. Depois, o objetivo é desenvolver órgãos de média complexidade, como tireoide, pâncreas e fígado. Por último, os órgãos de maior complexidade, como o coração, poderão ser produzidos em laboratório.

O caminho ainda é longo. A medicina regenerativa é uma área nova e ainda experimental. Atualmente, ensaios clínicos em humanos não são permitidos. Os produtos desenvolvidos são geralmente utilizados em pesquisas, tanto in vitro quanto em animais. Liguori acredita que nos próximos cinco anos os estudos terão evoluído a ponto de aplicações em humanos começarem: “Hoje não existe nenhum grupo no mundo que consiga já aplicar em humanos. É algo que esperamos que comece a surgir nos próximos três ou cinco anos. Hoje o foco está principalmente no desenvolvimento de pesquisas”.

O fundador da TissueLabs acredita que os órgãos criados em laboratório serão o futuro da pesquisa em medicina, já que permitem maior verossimilhança com o organismo humano do que modelos animais e placas de petri: “Cada vez mais os pesquisadores vão passar a fazer suas pesquisas em tecidos tridimensionais fabricados em laboratório, porque esses tecidos têm uma representatividade muito maior. É nesse tipo de pesquisa que estamos focando. Acreditamos que isso vai acontecer nos próximos dez anos”, finaliza.


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