Em parceria com a USP, centro internacional no Chile vai investigar biodiversidade regional

Inaugurado em maio deste ano, Centro Internacional Cabo de Hornos vai estudar três linhas transdisciplinares de investigação sobre mudanças climáticas, homogeneização e conservação biocultural 

 14/08/2023 - Publicado há 9 meses
Centro Internacional Cabo de Hornos em Puerto Williams, no Chile – Foto: Camilo Quidel/CHIC

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Uma parceria entre universidades chilenas e estrangeiras, entre elas a USP, vai colaborar com as atividades do novo Centro Internacional Cabo de Hornos para Estudos de Mudanças Climáticas e Conservação Biocultural (CHIC, acrônimo para o nome em inglês), inaugurado no mês de maio no Chile, em Puerto Williams, considerada a cidade mais austral do mundo. São três linhas transdisciplinares de investigação a serem desenvolvidas conjuntamente pelas instituições: Sentinelas das Mudanças Climáticas, Sentinelas da Homogeneização Biocultural e Conservação Biocultural em Múltiplas Escalas. Como parte da cooperação Brasil-Chile, a equipe do Centro de Estudos virá ao Brasil, entre os dias 20 e 31 de agosto, para visitar a USP. 

O centro é codirigido pela Universidade de Magalhães (Umag), juntamente da Universidade do Chile, a Pontifícia Universidade Católica do Chile e a Universidade do Norte do Texas, nos Estados Unidos. Na ocasião da inauguração do centro, a presença dos pesquisadores da USP, representados pelo professor Flávio Berchez e a doutoranda Beatriz Sinelli Laham, do Instituto de Biociências (IB) da Universidade, fortaleceu o convênio firmado com a Universidade de Magalhães. 

A USP tem colaborado com o grupo desde 2009 e está envolvida no financiamento de um recém-aprovado programa da Agencia Nacional de Investigación y Desarrollo (Anid), com duração de cinco anos e possibilidade de renovação por mais cinco anos, a mais longa e abrangente linha de recursos do Chile, envolvendo centenas de pesquisadores nacionais e internacionais. “Esse programa tem como objetivo equipar e desenvolver atividades de conservação biocultural no recém-inaugurado Centro Internacional Cabo de Hornos”, contam os pesquisadores no material de divulgação. 

Pesquisadores locais, nacionais e estrangeiros na I Conferência Internacional sobre Mudanças Globais e Conservação Biocultural – Foto: Divulgação/ CHIC

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Rede Brasil-Chile

Como parte do projeto Rede binacional Brasil-Chile de colaboração em docência e pesquisa na ecorregião subantártica de Magalhães, financiado pela subdireção de redes, estratégia e conhecimento (REC) da Anid, será organizado um Curso Internacional de Pós-Graduação, de caráter rotativo, multicultural e transdisciplinar, envolvendo diversos aspectos da pesquisa sobre os habitats marinhos do Brasil e do Chile. Também serão definidos os detalhes sobre o intercâmbio de alunos chilenos ao Brasil e vice-versa, atividades essas que serão finalizadas durante um workshop na USP, onde estarão presentes pesquisadores de outras universidades brasileiras que participam do projeto. Ao final da estadia, será promovido um seminário, com duração de um dia, onde serão apresentadas à comunidade científica, aos estudantes e ao público em geral as diversas frentes das pesquisas a serem realizadas.

Entre as pesquisas está previsto o projeto de avaliação da Homogeneização Biocultural, que possui uma abordagem transdisciplinar. A pesquisa abrangerá o Estado de São Paulo, a Região Subantártica Chilena e o México, visando à compreensão das diferenças e semelhanças no grau de homogeneização cultural e biológica nessas áreas, uma vez que a perda de noção sobre a biodiversidade regional e local é um dos fenômenos causados pela globalização, com consequências sociais e para a conservação.

Pinguins-de-magalhães na região de Magalhães e Antártida Chilena e, à direita, Glaciar Romanche, na Reserva da Biosfera Cabo de Hornos – Foto: Gabriel Soto

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Reserva Austral

A cidade de Puerto Williams, que sedia o CHIC, localiza-se na região de Magalhães e Antártida Chilena e faz parte da Reserva da Biosfera Cabo de Hornos, uma das mais preservadas do planeta. Estabelecida junto à Unesco em junho de 2005 e localizada ao sul da Terra do Fogo, a reserva é a mais austral do mundo e a maior do Cone Sul, compreendendo 4,9 milhões de hectares, entre áreas marinhas e terrestres. A reserva abriga uma floresta, que conta com alta taxa de endemismo de espécies lenhosas e de líquens, briófitas e hepáticas, principais responsáveis pela riqueza da região. Em sua porção marinha, abrange os bosques submarinos perenes de kelps, algas gigantes que fornecem alimento e abrigo para outras espécies, oferecendo proteção contra radiação ultravioleta, além de mitigarem o efeito estufa por meio do sequestro do carbono atmosférico.

A conservação dos ecossistemas locais desempenha um papel importante em termos ecológicos e econômicos, uma vez que a pesca constitui uma importante atividade econômica. Espécies marinhas de macrocrustáceos, como a centolla, conhecido por “caranguejo-rei”, e ouriços-do-mar são capturados por pescadores artesanais. Além disso, a região possui alto potencial para o desenvolvimento de turismo associado à natureza, contando com a trilha ao cume da montanha Dientes de Navarino, glaciares que podem ser avistados por meio do turismo de alto-mar e atividades de avistamento de aves.

Pesquisadores da USP e da Universidade de Magalhães, do Chile, em reunião de colaboração – Foto: Gabriel Soto

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Por ser uma das áreas mais primitivas do planeta e contar com alta taxa de endemismo, a região desperta o interesse de cientistas de diversas áreas. Um exemplo é o
Parque Etnobotânico Omora, situado em Puerto Williams, que integra a Rede de Pesquisas Socioecológicas de Longo Prazo do Chile (LTSER – Chile, acrônimo em inglês). A criação do CHIC pretende fomentar o desenvolvimento de pesquisas na região, tanto por meio de seus pesquisadores associados, quanto por convênios firmados com pesquisadores de outras regiões e intercâmbio de estudantes.

Além de promover pesquisas de interesse nacional e internacional, o centro vai atuar diretamente no desenvolvimento da região ao promover ações de fomento à sua economia. Uma das primeiras iniciativas do centro foi a inauguração de um curso técnico de Turismo Biocultural, voltado à capacitação da população local para a atuação no setor. Além disso, os pesquisadores também trabalham para desenvolver a gastronomia local, contando com um laboratório gastronômico que desvenda e valoriza a identidade e a cultura local.

Para saber mais sobre o Centro Internacional Cabo de Hornos, acesse a página do centro.

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