A Cidade Universitária abrigará a primeira estação experimental de abastecimento de hidrogênio renovável a partir de etanol do mundo. A planta-piloto ocupará uma área de 425 metros quadrados e terá capacidade de produzir 4,5 quilos de hidrogênio por hora, quantidade suficiente para abastecer até três ônibus e um veículo leve. A previsão é de que a estação experimental esteja operando no segundo semestre de 2024.
“Há anos a USP tem feito um esforço muito grande para que a inovação fizesse parte de sua agenda e estivesse presente em todos os seus ambientes. O momento atual é muito propício, e é cada vez mais clara a importância da interação entre o governo, as empresas, as universidades, os empreendedores e as agências de financiamento de capital de risco para gerar conhecimento e inovação, transformando o Brasil em um país mais inclusivo, mais desenvolvido do ponto de vista econômico, social e ambiental”, afirmou o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior, na cerimônia que marcou o lançamento da planta-piloto da estação, realizada nesta quinta-feira, dia 10 de agosto, no auditório do prédio da Engenharia Mecânica da Escola Politécnica (Poli).
A iniciativa surge como uma solução de baixo carbono para o transporte pesado, incluindo caminhões e ônibus. Os veículos deixarão de utilizar diesel e os tradicionais motores a combustão interna para começar a usar hidrogênio produzido a partir do etanol e motores equipados com células a combustível (fuell cell).
O hidrogênio produzido na estação vai abastecer os ônibus cedidos pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), que circularão exclusivamente dentro da Cidade Universitária, e também um veículo Mirai, cedido pela Toyota Brasil para testar a performance do hidrogênio.
Por Carlos Gilberto Carlotti Junior, reitor da USP, e Julio Romano Meneghini, professor titular da Escola Politécnica (Poli) e coordenador do RCGIA USP no caminho da economia verde
“Tenho muito orgulho em saber que o primeiro reformador do mundo capaz de transformar etanol em hidrogênio, nessa escala, está sendo construído aqui no Brasil, em São Paulo, na USP. É um protagonismo muito grande do Estado de São Paulo e temos tudo para liderar o processo de transição energética, diminuindo a pegada de carbono, sendo um exemplo de sustentabilidade e economia circular para o mundo”, afirmou o governador Tarcísio de Freitas.
O presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Marco Antonio Zago, ressaltou que “a ciência tem seu tempo. Esse projeto começou há mais ou menos 10 anos e só agora estão surgindo os primeiros resultados inovadores relevantes. Para dar suporte financeiro a projetos de longo prazo promissores como esse, é fundamental que as agências financiadoras tenham estabilidade ao longo do tempo. Curiosamente, no Brasil, apenas a Fapesp tem essa condição garantida pela legislação e pelo apoio constante do governo do Estado”.
“Com essa iniciativa, não estamos só falando de sustentabilidade, estamos demonstrando como a sustentabilidade está presente em nossas ações de uma forma mais ampla, que vai além do aspecto ambiental e inclui também o aspecto social e a viabilidade econômica”, reforçou o secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação, Vahan Agopyan.
Também estavam presentes na cerimônia o diretor técnico da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Daniel Maia Vieira; o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa; o CEO da Raízen, Ricardo Mussa; o presidente da Toyota Brasil, Rafael Chang; o CEO da Hytron, Marcelo Veneroso; e representantes das empresas participantes, do governo estadual e da Universidade.
Transformando etanol em hidrogênio
A estação de abastecimento é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) da Poli, em parceria com a Shell Brasil, a Raízen, Hytron, Senai Cetiqt e Toyota.
No conjunto de equipamentos que serão instalados na estação haverá um reformador a vapor, capaz de converter o etanol em hidrogênio por meio de um processo químico denominado “reforma a vapor”, que é quando o etanol, submetido a temperaturas e pressões específicas, reage com água dentro de um reator.
“A Shell é a companhia privada que mais investe em pesquisa e desenvolvimento no Brasil e esse projeto se encaixa perfeitamente na estratégia global da Shell, que se comprometeu a investir em pesquisas na área de energia renovável e combustíveis de baixa intensidade de carbono. Tenho a certeza de que, ao unirmos instituições fortes, com conhecimento técnico e a capacidade do brasileiro de ser criativo, estamos fadados ao sucesso”, afirmou o presidente da Shell Brasil, Cristiano da Costa.
Ao longo do funcionamento da estação experimental, os pesquisadores vão validar os cálculos sobre as emissões e custos do processo de produção de hidrogênio.
Para o diretor-geral do RCGI, Julio Meneghini, “o Brasil tem condições de ser um dos líderes mundiais na pesquisa de combustíveis renováveis pelo de fato de conseguirmos aliar agricultura, energia e engenharia, áreas do conhecimento que se tornarão cada vez mais importantes para vencer os desafios impostos pelas mudanças climáticas”.
Com sede na Poli, o RCGI é um centro de pesquisa em engenharia que desenvolve pesquisas voltadas para o uso sustentável de gás natural, biogás, hidrogênio, gestão, transporte, armazenamento e uso de CO2.