Para resolver a questão dos moradores de rua em São Paulo, o governo do Estado quer inseri-los como trabalhadores em um programa de agricultura familiar. Porém, na opinião da professora Raquel Rolnik, apesar de anunciar uma coisa absolutamente benfazeja, no sentido de apoiar a agricultura familiar e o morador de rua, “o que ele faz e o que ele propõe é exatamente o contrário. Em primeiro lugar, antes de mais nada, porque famílias e indivíduos que estão na rua, alocá-los em propriedades de agricultura familiar para aquela ideia da recuperação através do trabalho, num contexto rural, que é um contexto que muitas vezes não tem absolutamente nada a ver com essas famílias. Propriedades rurais de agricultura familiar, que muitas vezes são marcadas também por vulnerabilidade, por uma situação de renda bastante baixa, nós estamos falando de uma situação que não necessariamente tem recursos para poder lidar com pessoas que estão na rua há muito tempo e que exigem, além de um acolhimento de uma moradia, muitas vezes outro tipo de atenção psicossocial, de apoio, que absolutamente essas famílias não têm nenhuma condição de dar”, frisa a colunista.
Raquel Rolnik explica que a agricultura familiar envolve pequenos agricultores, camponeses, comunidades quilombolas e comunidades tradicionais, além de assentados da reforma agrária, e é uma agricultura que historicamente foi muito preterida em relação à agricultura comercial de grandes proporções.”É o tipo de agricultura que sustenta, por exemplo, uma produção orgânica no Brasil e que normalmente é tocada pela própria família muitas vezes num nível de subsistência […] nós estamos, simplesmente, duplamente desprezando completamente aqueles que estão na rua e não entendendo as suas necessidades, mas também não entendendo as necessidades dos agricultores familiares e tentando juntar isso como uma espécie de factoide social que, evidentemente, não vai enfrentar a situação.”
Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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