Duzentos anos depois da Independência política, o Brasil é visto pelos outros países do mundo com um misto de admiração e de decepção. A admiração é despertada pelo gigantismo territorial do País, pela grandiosidade do seu ambiente natural e pela riqueza cultural representada pela sua população numerosa e diversa. Já a decepção decorre da percepção do atraso que respalda a manutenção da pobreza e da concentração da renda e as políticas de degradação ambiental, numa situação de violência social extrema.
É o que diz o professor Pedro Dallari em sua coluna desta semana. “A independência do Brasil deu origem a um País territorialmente gigante, com uma população que veio a crescer de maneira intensa e rápida ao longo dos 200 anos seguintes”, destaca Dallari. “Mas também a um País marcado por injustiças sociais gritantes e permanentes, que fizeram com que fosse um dos últimos do mundo a abolir a escravidão e que até os dias atuais ostenta péssimos indicadores de qualidade de vida, piores do que os da grande maioria dos demais países da América Latina.”
Dallari lembra que o “Patriarca da Independência”, o santista José Bonifácio, utilizou sua enorme cultura para orientar o processo de separação política. Ele buscou preservar a unidade territorial e administrativa da nova nação e, ao mesmo tempo, promover profundas mudanças na organização social brasileira herdada de Portugal, inclusive com a abolição do trabalho escravo, na melhor tradição do Iluminismo europeu. “Se obteve êxito no seu propósito de evitar a fragmentação territorial do Brasil, José Bonifácio foi derrotado no objetivo de promover mudanças na sociedade da época”, afirma Dallari. “Realmente, a manutenção da família Bragança, a que pertencia Pedro I, contribuiu, como queria o Patriarca, para garantir a integridade do território, mas acabou também por preservar uma ordem política extremamente conservadora e contrária a qualquer transformação na estrutura econômica e social do novo País.”
Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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