Estima-se que o câncer em crianças e adolescentes corresponda a até 3% de todos os tumores malignos, sendo uma das principais causas de óbito entre esses indivíduos. Um estudo realizado pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP acerca da epidemiologia do câncer nessa faixa etária, no município de São Paulo, entre os anos de 1997 e 2016, aponta que, apesar da crença de que a maioria das crianças não desenvolve doenças graves, a questão apresenta-se como um problema de saúde pública.
Beatriz Bertuzzo Möller, mestranda da FSP e autora do estudo, explica que, com a redução da mortalidade por doenças transmissíveis, o câncer se tornou uma das principais causas de óbito em crianças de 0 a 14 anos e adolescentes de 15 a 19 anos.
Saúde pública
O desenvolvimento do câncer nessa faixa etária apresenta-se como um importante problema do sistema de saúde pública nacional, já que indica impacto direto no suprimento do serviço — por meio de alterações no fornecimento de assistência, a necessidade do acompanhamento contínuo da doença e pelas implicações significativas na qualidade de vida.
Um dos pontos mais importantes para o sucesso terapêutico em crianças e adolescentes é o diagnóstico precoce. Assim, é possível observar que, ainda hoje, o avanço nos tratamentos disponíveis não é uniforme para toda a população, sendo possível observar, em muitos casos, que o nível de desenvolvimento econômico está diretamente associado ao acesso aos serviços de saúde. “Apesar do câncer ser considerado uma doença rara nessa faixa etária, são esperados, apenas em 2023, cerca de 430 mil casos novos no mundo e 8 mil casos no Brasil”, aponta a pesquisadora.
Métodos
Para a realização da pesquisa, Beatriz explica que a obtenção dos dados sobre os casos novos — que ocorreram entre os anos de 1997 e 2016 — se deu a partir do Banco de Dados do Registro de Câncer de Base Populacional de São Paulo, que se localiza no Departamento de Epidemiologia da FSP. As informações sobre os óbitos, que ocorreram entre os anos de 1997 e 2021, foram obtidas por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde na página eletrônica do DataSUS.
A pesquisadora comenta, dessa forma, que durante a maior parte do período foi possível observar uma queda das taxas de incidência e de mortalidade. A queda da segunda já era esperada pela maioria dos pesquisadores, contudo, é importante avaliar que a queda da incidência pode estar associada à falta de diagnóstico. Beatriz explica que isso acontece, pois os sintomas de câncer nessa idade podem estar associados à ocorrência de outras doenças, o que acaba dificultando o diagnóstico.
Para uma melhora desse cenário, a capacitação dos profissionais que trabalham na área faz-se necessária. Atualmente, o câncer em crianças e adolescentes é dividido em 12 grupos principais, com destaque para a leucemia, os linfomas e os tumores que atingem o Sistema Nervoso Central. Esses tipos também são os mais comuns em outros países e regiões, sendo possível notar que esse não é um padrão exclusivamente nacional.
Por fim, a pesquisa concluiu que a taxa de incidência no Brasil, no período entre 1997 e 2016, foi de 195 por milhão — valor considerado alto quando comparado a outros países da América Latina, mas que é semelhante aos casos europeus. A taxa de mortalidade em 1997 e 2021 foi de 47,9 por milhão, valor que é considerado alto quando comparado aos países da Europa e da América do Norte, mas que é semelhante aos dados da Ásia e da África.
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