A crise do jornalismo e as big techs

Carlos Eduardo Lins da Silva analisa a disputa que coloca de um lado do tabuleiro as empresas jornalísticas e, de outro, as grandes plataformas de tecnologia

 11/12/2023 - Publicado há 5 meses

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Empresa dona do Facebook, a Meta enfrenta um processo de US$ 600 milhões por concorrência desleal na Espanha, o que, para o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, não constitui surpresa, visto que, assim como ela, outros gigantes da tecnologia se deparam com a mesma situação em outros países do mundo, “por causa de suas práticas, que são realmente monopolísticas ou oligopolistas, pelo menos”.  Na Espanha, os principais veículos jornalísticos alegam que a Meta faz uso de dados pessoais que obtêm em suas plataformas (Facebook, Instagram e WhatsApp) e que lhe permitem conceber anúncios muito personalizados, “o que caracteriza uma competição desleal com os veículos tradicionais, que não têm acesso a todo esse tipo de informação como o Facebook tem, com o agravante de que o Facebook, como as outras plataformas de redes sociais, faz uso do conteúdo jornalístico dos veículos para atrair os seus clientes, a respeito dos quais obtém dados que depois são usados para exatamente se fazerem anúncios personalizados”.

Não bastasse isso, o conteúdo jornalístico também vem sendo alvo de disputas entre as empresas que produzem jornalismo e as de tecnologia, um problema que as empresas jornalísticas enfrentam já há algum tempo, a ponto de colocar em risco a própria sobrevivência do jornalismo. “As big techs usavam o argumento de que as plataformas não eram comandadas editorialmente por ninguém, que eram simplesmente como linhas telefônicas, que você não podia responsabilizar as conversas que se faziam através das plataformas, que eram similares, segundo elas, a linhas telefônicas. Esse argumento está completamente derrubado atualmente.”

Lins da Silva lembra que países como Canadá, Austrália e França já aprovaram lei que obriga as plataformas a negociar com as empresas de comunicação a remuneração pelo uso dos textos, imagens, vídeos e áudios elaborados pelos veículos jornalísticos, e o mesmo, embora ainda sem legislação, ocorre nos Estados Unidos, onde estão sendo feitos acordos entre os gigantes da tecnologia e veículos jornalísticos. No Brasil, essa questão também está em discussão, embora ainda de forma incipiente. “Na minha opinião, essa é a única maneira do jornalismo sair da crise estrutural em que ele se meteu. Só se as grandes plataformas, que são hoje as maiores e mais lucrativas empresas do mundo, resolverem pagar ou forem obrigadas a pagar, mesmo que não queiram, pelo conteúdo que utilizam é que o jornalismo terá condições de sobreviver, senão vai ser muito difícil”, conclui o colunista.


Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção  da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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