A economia nacional passa por uma fase delicada. A previsão de crescimento está paulatinamente próxima à casa de 1%, semelhante à expectativa de expansão populacional. Ou seja, haveria uma estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. No fim de abril, eram 13,4 milhões de desempregados no Brasil.
Em vista disso, o primeiro Momento Sociedade discutiu a tese de doutorado de José Jobson de Nascimento Arruda, desenvolvida no programa de História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). No ensaio, Florescência Tardia Revisitada, o pesquisador analisou a ascensão da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos anos 90, a fim de entender o efeito do investimento acionário sobre o capital produtivo. “O estudo apontou que, no período avaliado, portadores do capital especularam, em vez de proporcionar investimentos baratos, que, de fato, ajudam a indústria”, comenta o apresentador do podcast José Luiz Portella, ex-secretário executivo dos Ministérios do Esporte e dos Transportes e doutorando da FFLCH.
Ele explica que a busca desenfreada por rentabilidade ocasiona preferência pela especulação, diminuindo progressivamente o lastro (garantia física que sustenta o ativo) dos papéis, os desvinculando da realidade. Segundo Portella, uma subversão, dado que “sua função original seria o financiamento de empresas… no fim, o capital financeiro, ou fictício, subjuga a bolsa”. A análise de Arruda se ampara na rápida ascensão da Bovespa, meio a absorção de suas concorrentes regionais e a crise da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ) frente aos golpes especulativos. Observação-chave à conjuntura atual, já que, de acordo com o ex-secretário, contradiz pertinência e eficácia do neoliberalismo, paradigma adotado pelo ministro da Economia Paulo Guedes.
Portella, então, chama um debate mais aprofundado sobre maneiras de financiar o desenvolvimento brasileiro. Deixa a pergunta: “(Se a reforma da Previdência passar) como ficará o mercado? Se for contrária à partilha e caminhar rumo à capitalização, cada pessoa terá sua própria aplicação, futuramente administrada pelos agentes financeiros”. Essa seria a razão da grande expectativa do mercado pela reforma, argumenta o ex-secretário.
Fora a tese de Arruda, Portella também cita os estudos e artigos recentes do economista André de Lara Resende. Em texto publicado na revista Valor Econômico, Lara Resende criticou o purismo neoliberal de Guedes, defronte às teorias monetárias e políticas de juros contemporâneas. “Como no governo Collor, a Escola Monetarista aparece agora como salvação. Ou abraça seus pensamentos, ou se instaurará o caos. Funciona como um dogma”, comenta o ex-secretário. Por isso, existe a necessidade dessa reflexão profunda. De se dar um passo para trás e analisar com sobriedade a postura do Brasil. “Uma chance única, visto o interesse público. Antes, pautas como a Previdência eram discussões restritas ao Congresso”, assinala.
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Momento Sociedade
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