Os problemas bucais mais frequentes na população são: a cárie dentária, a doença periodontal, o câncer de boca, além de problemas ortodônticos e, mais recentemente e menos conhecido, o desgaste dentário erosivo. Muitos desses problemas estão diretamente relacionados aos hábitos alimentares e à má higiene bucal. Para falar sobre a relação entre hábitos alimentares e saúde bucal, o Momento Odontologia desta semana conversou com Ana Carolina Magalhães, pós-doutora em Bioquímica Bucal e professora do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP.
Durante o bate-papo a professora foca na relação entre alimentação e cárie, doença periodontal e desgaste dentário erosivo. “Não vou abordar aqui o impacto da alimentação no desenvolvimento de câncer de boca e problemas ortodônticos porque ambos têm um cunho genético muito forte e influência de fatores locais ambientais. Não dá para descartar o fato de o câncer de boca estar relacionado ao consumo de bebidas alcoólicas e ao tabaco.”
A professora explica que a cárie dentária e a doença periodontal são doenças dependentes de microrganismos, então para que elas aconteçam é necessário ter um biofilme dentário, que é rico em diferentes tipos de microrganismos. “A cárie dentária, aquela lesão que acomete os dentes, envolve a presença de bactérias na coroa do dente e amam açúcar, já a doença periodontal envolve bactérias que adoram proteínas.”
O consumo frequente e grande de açúcar, incluindo os carboidratos, diz, tem uma relação muito forte com aparecimento da cárie dentária. “Temos diferentes tipos de carboidratos que podem ser cariogênicos: glicose, frutose, sacarose, lactose, amido, todos esses estão presentes em frutas, mel, no açúcar industrializado, nos doces, no pão, no bolo, nas raízes, no macarrão, arroz. Mas o carboidrato mais cariogênico é a sacarose, aquele açúcar comum que temos em casa e que é adicionado aos alimentos industrializados. Por isso temos que fazer um consumo racional dos alimentos ricos em açúcar, pois eles têm um efeito local nas bactérias, que usam açúcar para obter energia e produzem ácido que destroem os nossos dentes.”
Já na doença periodontal as bactérias ficam alojadas dentro do sulco gengival por impacto indireto dos alimentos. “Indivíduos obesos e com diabete têm uma inflamação crônica generalizada e são mais suscetíveis a desenvolver doenças periodontais, esse é o impacto dos alimentos de forma sistêmica, uma das consequências do alto consumo de produtos industrializados ricos em açúcar e em gordura ruim.”
Todo alimento que tem ácidos pode causar danos à estrutura dentária e levar ao desgaste dentário, “além disso, fatores mecânicos, como o hábito de ranger os dentes e a forma incorreta de escovação também podem potencializar o desgaste dentário”. Portanto, diz Ana Carolina, “alimentos ricos em ácidos, como refrigerantes, sucos de frutas cítricas, isotônicos e algumas bebidas alcoólicas, como vinho, devem ser ingeridos com equilíbrio”.
Já entre aqueles que são importantes para manter a saúde bucal, a professora cita os alimentos ricos em cálcio, mineral que está presente no dente, além de probióticos. “Atualmente há muitos estudos com probióticos, ou seja, bactérias boas que poderiam até impedir de uma certa forma o desenvolvimento da cárie dental.”
Mesmo que o indivíduo não tenha uma alimentação tão equilibrada e com consumo periódico de açúcar, a professora diz que uma higienização bucal impecável e o uso frequente de fluoreto diminuem a chance de desenvolver cárie. Ana Carolina lembra que o uso incorreto da escova dental, empregando técnicas de força das cerdas pode piorar o desgaste da estrutura do dente.
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