Cepids lançam primeiro banco público de dados genômico do Brasil

No dia 13 de novembro, aconteceu o lançamento da Brazilian Initiative on Precision Medicine (BIPMed) – Iniciativa Brasileira em Medicina de Precisão –, que terá um banco público de dados genômico inédito no país, com informações reunidas ao longo de vários anos sobre estudos realizados em diferentes instituições e grupos de pesquisa. A BIPMed é resultado do trabalho de pesquisa envolvendo cinco Cepids, dois deles são sediados na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

 16/11/2015 - Publicado há 8 anos
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A iniciativa é de cinco Cepids, dois deles coordenados pela USP; Acessibilidade aos dados genômicos deverá ajudar no avanço da pesquisa nessa área no Brasil

Na sexta-feira, dia 13 de novembro, na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em São Paulo, foi lançada a Brazilian Initiative on Precision Medicine (BIPMed) – Iniciativa Brasileira em Medicina de Precisão –, que terá um banco público de dados genômico inédito no país, com informações reunidas ao longo de vários anos sobre estudos realizados em diferentes instituições e grupos de pesquisa.

Essa ferramenta permitirá que os pesquisadores possam utilizar dados que reflitam a diversidade genética da população brasileira, em vez de dados de referência de outros grupos populacionais, de distintas regiões do mundo, atualmente disponíveis. No futuro, espera-se que o banco ofereça também dados fenotípicos da população brasileira.

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A BIPMed foi lançada na sede da Fapesp, em São Paulo

A BIPMed é resultado do trabalho de pesquisa envolvendo cinco Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), apoiados pela Fapesp: o Centro de Pesquisa em Engenharia e Ciências Computacionais (CCES, na sigla em inglês), o Centro de Pesquisa em Terapia Celular (CTC), o Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC, na sigla em inglês) e o Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (CRID, na sigla em inglês), liderados pelo Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (Brainn), na sigla em inglês). Dois deles, o CTC e o CRID, são sediados na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.

A medicina de precisão considera o conhecimento científico-tecnológico como base para a medicina do século 21, a partir da investigação translacional, da medicina genômica e da personalizada, propondo um novo nível de integração de dados para a melhoria dos cuidados com a saúde humana. Com as informações obtidas, pode-se fazer prevenção de riscos, impedir ou retardar o aparecimento da doença.

Primeiro banco on-line a agrupar grande quantidade de informações genômicas na América Latina, o banco da BIPMed estará baseado, inicialmente, em uma plataforma eletrônica, construída segundo diretrizes e princípios da Aliança Global para Genômica e Saúde – Global Alliance for Genomics and Health (GA4GH, na sigla em inglês).

A Aliança é uma iniciativa internacional que reúne mais de 300 instituições de pesquisa da área da saúde, formada para acelerar o potencial da medicina genômica por meio da troca de informações entre pesquisadores, em benefício da saúde humana. A participação na GA4GH permitirá que os pesquisadores tenham acessos a outros bancos de dados no mundo.

Apresentação

Na abertura da cerimônia, o presidente da Fapesp, José Goldemberg, festejou o fato de a medicina estar se voltando para a precisão, assim como as ciências exatas. O coordenador do Brainn, Fernando Cendes, ressaltou que a BIPMed é uma colaboração que irá receber e ofertar dados não só aos membros dos Cepids, mas também para toda a sociedade.

O vice-presidente da Fapesp, Eduardo Moacyr Krieger, também enfatizou a importância da medicina de precisão no avanço da área médica. “Quando tivermos a medicina personalizada, poderemos fazer a medicina preventiva, tratando o paciente e não a doença. Por isso, fico feliz de ver a Fapesp assumir um papel importante que irá contribuir com a sociedade”, afirmou.

Depois, os membros da BIPMed fizeram apresentações sobre a importância da iniciativa. Uma das pesquisadoras do Brainn  e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Iscia Lopes Cendes, disse que foram oito meses de intenso trabalho até o lançamento da BIPMed, cuja missão é “ajudar na implantação da Medicina de precisão no Brasil, agindo como elemento catalisador para promover colaboração entre diferentes líderes: cientistas, médicos, hospitais e sociedade”, destacou Iscia.

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No evento, que teve participação de diversos pesquisadores, o reitor Marco Antonio Zago ressaltou a importância da BIPMed no contexto dos Cepids e para o avanço da pesquisa

Segundo a professora, o banco público de dados genômico é o primeiro “produto” da BIPMed, que ajudará a entender mais sobre o mecanismo de doenças e fazer um diagnóstico melhor, possibilitando um tratamento individualizado, diminuindo os efeitos colaterais.

A vice-diretora do CCES e professora do Instituto de Computação da Unicamp, Claudia Maria Bauzer Medeiros, disse que a BIPMed traz, além da interação entre os vários Cepids, a oportunidade de ter interface em diferentes áreas do conhecimento, como a computação, ajudando a desenvolver a ciência médica.

Um dos pesquisadores do CTC e professor da FMRP, Wilson Araújo da Silva Junior, explicou que a maioria dos países desenvolvidos está fazendo iniciativas na área de medicina de precisão, pois “é importante conhecer nosso patrimônio genético, que é bem diverso, para podermos aplicar uma medicina personalizada”.

“Com o banco de dados, conseguimos um controle dos dados em diferentes níveis que, no momento, está disponível com cerca de 10 milhões de variantes”, esclareceu outro pesquisador do Brainn, Benilton de Sá Carvalho, também professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, e que está à frente do desenvolvimento da plataforma da BIPMed.

Avanços

O reitor Marco Antonio Zago retomou o que Goldemberg disse sobre a medicina de precisão e recordou como a medicina avançou desde quando era estudante na FMRP e como eram feitos os diagnósticos durante as consultas, que levavam em conta as características aparentes das pessoas e não eram baseados totalmente em dados. “Com a medicina de precisão, os diagnósticos e os tratamentos podem ser melhorados”, reforçou Zago.

Ele ressaltou também a importância da BIPMed no contexto dos Cepids e para o avanço da pesquisa e comparou a iniciativa com a criação e implantação do Projeto Genoma, do qual foi um dos coordenadores, “que foi altamente produtivo, apesar das dificuldades”, e resultou na publicação e citação de diversos artigos a respeito.

Zago contou que, na Islândia, o conhecimento dos genes possibilitou saber previamente que a população daquele país tem maior chance de desenvolver Alzheimer, por exemplo, e com isso se pôde pensar em melhores tratamentos. “Tenho certeza de que vamos aproveitar muito ao olhar e acessar os dados dos outros Cepids e dos disponíveis na Global Alliance. Mas, estou convencido de que isso é apenas o começo”, considerou o reitor.

(Fotos: Ernani Coimbra)


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