Com o propósito de oferecer aos pacientes do Instituto do Coração (Incor) conforto emocional durante os períodos de internação no hospital, foi inaugurado ontem, dia 24 de julho, o Espaço Imaginário Marisa Monte. Localizado no quinto andar do Incor, o espaço conta com objetos que estimulam a produção artística.
Abrindo a cerimônia de inauguração, a professora da Faculdade de Medicina (FM), Ludhmila Abrahão Hajjar, teceu elogios à cantora Marisa Monte, a quem chamou de desbravadora. “Essa é a maneira como ela leva a vida e no que ela acredita. Ela difunde o amor, a alegria. Ela agrega, ela une. Acredito que esse é o compromisso que nós todos temos na nossa Universidade. Basta olharmos para esta plateia linda, unida, de professores, diretores, funcionários, médicos, colaboradores e artistas que ela conseguiu reunir. Marisa Monte é isso”, afirmou Ludhmila, que também é vice-presidente da Associação Portas, entidade responsável pelo novo espaço.
Marisa Monte contou que, ao assistir a um vídeo em que Ludhmila Hajjar cantava uma de suas músicas para uma paciente – a ex-presidente Dilma Rousseff -, percebeu a empatia da profissional. Foi a partir daí que as duas, juntas, idealizaram o projeto do Espaço Imaginário. “Eu fiquei encantada com aquilo. Comecei a prestar atenção na presença dela na vida pública e no trabalho que desenvolvia na medicina e na USP. Fiquei encantada com uma médica que tinha uma visão humana, empática, e que se preocupava não só com o bem-estar físico, mas também com a emoção. As mazelas de saúde têm uma série de efeitos também no campo emocional do paciente, que sente angústias, incerteza, medo, e, muitas vezes, o próprio médico não se atenta à necessidade de olhar para isso”, contou Marisa.
De acordo com a cantora, “o Espaço Imaginário é destinado a todas as pessoas dentro da experiência de internação — pacientes, acompanhantes, médicos, funcionários, enfermeiros —, para que possam encontrar um espaço lúdico, poético, criativo, de conexão com algo que não fosse essa luz fria, o apito, esse ambiente tradicionalmente hospitalar”.
O reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior lembrou que “esse espaço vem muito ao encontro de alguns princípios desta gestão reitoral, como o de cuidar das pessoas. Não podemos ter uma Universidade somente técnica, produzindo ciência, formando pessoas, se nós não tivermos também humanismo por trás dessas ações. Outro princípio que temos seguido é o de aumentar a relação com a sociedade e transferir para ela tudo aquilo que é gerado dentro da Universidade”.
Carlotti ainda reafirmou o pioneirismo da USP com essa ação: “quantos hospitais no Brasil não vão copiar essa iniciativa para que nós possamos ter locais mais agradáveis para os nossos pacientes e para as nossas famílias?”
Também prestigiaram a cerimônia a diretora da Faculdade de Medicina (FM), Eloísa Bonfá; o presidente do Conselho Diretor do Incor, Roberto Kalil Filho; o vice-presidente do Conselho Diretor do Incor, Fabio Biscegli Jatene; e o diretor da divisão de Pneumologia do Incor, Carlos Carvalho.
Espaço Imaginário Marisa Monte
No Espaço Imaginário Marisa Monte estão disponíveis instrumentos musicais, uma televisão, materiais para desenho e livros doados por diversas editoras. A decoração das paredes e dos móveis conta com as ilustrações do último álbum de estúdio da cantora, Portas (2021), cedidas pela artista plástica Marcela Cantuária.
Já no dia da inauguração, o Espaço Imaginário começou a ser utilizado por crianças, pacientes do Incor, que encontraram papéis e lápis de cor para desenhar e colorir. Próximo a elas, o menino Rodrigo Reis — que passou recentemente por uma cirurgia na instituição — tocava um violão.
Rodrigo, que aprendeu a tocar o instrumento há seis meses, mostrou um repertório musical vasto que fez os presentes – incluindo o músico Arnaldo Antunes – pararem para ouvir. Eliane Figueiredo, mãe do garoto, contou que ele estava com saudade de praticar violão. “É uma atitude muito humana. Às vezes, os pacientes, principalmente as crianças, ficam aqui por muito tempo e ter um espaço assim, que permite colocar as emoções para fora, é muito legal”, disse Eliane.
Ao Jornal da USP, Marisa Monte comentou a importância da iniciativa. “Estar presente com arte dentro de uma instituição de educação e de saúde pública no Brasil e fazer uma investigação sobre como a conexão com o imaginário e com a criatividade pode impactar o bem-estar das pessoas que estão passando pela experiência da busca da cura e da internação hospitalar é algo em que tenho muito interesse”, afirmou. “Eu recebo um feedback muito grande das pessoas sobre o quanto a minha música e todos os recursos que podem expandir o bem-estar e a consciência das pessoas as ajudam nos processos de cura”, considerou a cantora.
Marisa Monte também é embaixadora do programa USP Diversa, que tem como objetivo financiar bolsas de permanência estudantil por meio da doação de recursos de pessoas físicas e jurídicas. “A inclusão é uma coisa que, uma vez que acontece, ninguém tira de você. É algo que reflete na sua vida inteira, não envelhece, só melhora, só cresce e vai refletir nas gerações depois de você, inspirando as pessoas a acreditar que são capazes de viver essa experiência de ter acesso à educação de qualidade”, avaliou a artista.
* Sob supervisão de Erika Yamamoto
