Multiculturalismo das seleções de futebol deve ser destaque na Copa do Mundo 2022

A seleção francesa, atual campeã do mundo, contou com uma equipe multicultural em suas duas conquistas mundiais; trabalho apresentado na USP dá origem a livro sobre o tema

 23/08/2022 - Publicado há 2 anos
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Seleção francesa, campeã da Copa do Mundo de 2018, na Rússia – Foto: Kremlin.ru/Wikimedia Commons

 

As práticas esportivas estão diretamente conectadas com questões da sociedade, afinal o esporte faz parte delas. Pensando nas relações de influência entre futebol e sociedade, o jornalista Guilherme Freitas produziu o livro As seleções de futebol da União Europeia: identidade, migração e multiculturalismo através da bola, que acaba de ser publicado pela Editora Dialética.

Guilherme Freitas – Reprodução: Acervo pessoal

A obra é uma adaptação de sua dissertação de mestrado intitulada As seleções de futebol multiculturais da União Europeia, apresentada em 2017 na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP. Na pesquisa, Freitas analisou os efeitos de movimentos migratórios e seus impactos no futebol em países da União Europeia, como França, Alemanha, Holanda e Portugal. “O futebol nesses países é visto como uma espécie de plataforma de ascensão social. É uma chance de melhorar de vida, de ter mais oportunidades, já que a porcentagem de jovens de origem imigrante que vão chegar a cargos altos em uma empresa, ou em um nível educacional elevado, é muito menor do que os nativos. Então, existem essas relações entre esporte e sociedade”, conta Guilherme.

 

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Das relações entre esporte e sociedade que a pesquisa analisa, as práticas de racismo e xenofobia marcam presença dentro e fora de campo. Além das agressões verbais cometidas por torcedores contra jogadores de origem imigrante, a pesquisa identificou que o futebol foi utilizado em discursos nacionalistas de extrema-direita como instrumento de oposição ao multiculturalismo nesses países. 

Publicado cinco anos depois da dissertação, o livro possui atualizações, como o efeito positivo que o jogador egípcio Mohamed Salah causou para diminuição do preconceito religioso no Reino Unido, especialmente na cidade de seu clube, Liverpool. “Ele chegou na Inglaterra e virou ídolo da torcida. Isso fez com que a torcida diminuísse cânticos islamofóbicos e, na própria comunidade de Liverpool, caíram as denúncias de islamofobia principalmente por causa dele. A gente vê que quando o atleta atinge certo patamar de admiração, ele acaba impactando e influenciando o comportamento social”, destaca.

Mohamed Salah – Reprodução: Wikimedia Commons

 

O livro também conta com um capítulo adicional, que dá mais espaço ao futebol feminino. Nele o autor ressalta que o movimento multicultural está presente na modalidade, ainda que em menor escala. “O futebol feminino está crescendo, conquistando mais espaço. Hoje os jogos da seleção feminina passam na TV aberta, o Campeonato Brasileiro, e até mesmo os próprios campeonatos europeus. Esse impacto de multiculturalismo nas seleções já acontece, na última copa também houve um aumento de jogadoras com esse perfil”, conta.

 

As seleções de futebol da União Europeia: identidade, migração e multiculturalismo através da bola
Editora Dialética, 144 páginas


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