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A leitura de trechos de Macunaíma pela cantora Maria Bethânia, lembrando as vicissitudes do herói negro, índio e branco, considerado, por muitos, como símbolo de um povo em formação¸ marcou a última sessão do seminário USP Pensa Brasil
A violência em Canudos reverberou 100 anos depois, no massacre do Carandiru em São Paulo. Dois momentos violentos em que a elite brasileira, instalada no poder, teve dificuldade em reconhecer o povo de seu país. Dois momentos destacados por José Miguel Wisnik, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, na abertura da mesa Impasses da Cultura Brasileira, no encerramento do seminário USP Pensa Brasil na sexta-feira, 2 de setembro.
Impasses não são necessariamente violentos, como os dois acima citados. Podem também ser culturais, como demonstrou a Semana de Arte Moderna de 1922, que aninhou os embates entre o novo e o tradicional, na literatura, na música, na dramaturgia, no espaço do Teatro Municipal de São Paulo – e em alguns outros pontos e momentos por todo o Brasil.
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José Miguel Wisnik – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Ilustrando o embate, Wisnik imaginou uma cena paulistana em que a burguesia se postava do outro lado do Vale do Anhangabaú em relação ao Teatro Municipal da cidade, os modernistas bradavam no fundo do Vale e o povo, empregados, trabalhadores, pobres, transitavam pelo Viaduto do Chá, que atravessa o Vale, vaiando a todos.
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Os jardins do Anhangabaú e viaduto do Chá, com os palacetes Prates e o edifício Sampaio Moreira, década de 1920, onde se deram os embates imaginários citados por Wisnik – Foto: Wikipedia
Wisnik lembrou o esforço de intelectuais, ao longo de nossa história literária, “em dar vozes aos que não falavam” – o povo –, identificando esse esforço em Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Mas hoje, segundo ele, o povo fala diretamente por intermédio de seus artistas, sendo Emicida um dos símbolos dessa tendência. “Hoje, os artistas populares falam por si mesmos”, disse ele.
A necessária regulação dos algoritmos
“A indiferença pública é responsável pela fragilidade das instituições culturais brasileiras”, lamentou, por sua vez, baseado em sua longa experiência à frente de órgãos do setor, Carlos Augusto Calil, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
“O grande capital cultural do País é a sua diversidade”, disse, depois de relatar suas andanças, com sucessos e fracassos, por órgãos do setor. E constatou: “Nosso tempo é o de desfrute via celulares”, os milhões de mensagens que espalham informações sérias ou falsas e cultura de boa ou má qualidade.
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Carlos Augusto Calil – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Como se aproveitasse o “gancho” levantado por Calil, Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, defendeu a imediata adoção de modelos jurídicos para regulamentar os algoritmos – o sistema usado pelas redes sociais para distribuir conteúdo entre seus frequentadores. O objetivo seria evitar a distribuição de mensagens falsas, distorcidas, sem base real, fidedigna, entre os utilizadores dessas mídias.
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Eduardo Saron – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Ao final, José Leonardo do Nascimento, professor de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), lembrou que o impasse entre nacionalidade e modernismo atravessa o século 20. “O impasse vitaliza, potencializa a evolução da cultura brasileira”, disse.
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José Leonardo do Nascimento – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Assista à fala de Maria Bethânia e à íntegra do seminário no vídeo abaixo a partir da marca 9:38:15
Seminário USP Pensa Brasil
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