Mostra de filmes celebra a diversidade do cinema nacional

Até 15 de junho, Cinema da USP (Cinusp) apresenta “Novíssimo Cinema Brasileiro”, com 25 produções recentes

 17/05/2022 - Publicado há 2 anos
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Banner de divulgação da nova mostra do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) – Foto: Divulgação/Cinusp

 

Entre 16 de maio e 15 de junho, o Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp) abre espaço para as diferentes facetas do audiovisual nacional na mostra Novíssimo Cinema Brasileiro, evento anual que reúne filmes brasileiros lançados no ano anterior. Após dois anos de um hiato motivado pela pandemia, a edição de retorno da mostra conta com a exibição de 25 filmes independentes, lançados nos últimos três anos. A programação, que inclui longas que tiveram suas estreias prejudicadas pelo período de isolamento e os mais recentes destaques em circuitos e festivais cinematográficos, também conta com pré-estreias, debates, exibições especiais e uma homenagem ao cineasta Geraldo Sarno, que morreu em fevereiro de 2022.

Os títulos selecionados apresentam ao público diferentes temáticas, estéticas e gêneros do cinema brasileiro. Um exemplo é o protagonismo indígena, que marca presença à frente e atrás das câmeras em três longas da grade de exibição: A Última Floresta (2021), dirigido por Luiz Bolognesi e coroteirizado pelo xamã Davi Kopenawa, combina realidade e fantasia para retratar o cotidiano no território indígena Yanomami e denunciar o garimpo ilegal na região. Já Yãmĩyhex, as Mulheres-Espírito (2019) acompanha rituais específicos da aldeia Verde Maxacali, em Minas Gerais. A mostra ainda conta com um filme falado nas línguas indígenas tukano e tikuna — A Febre (2020), de Maya Da-Rin, premiado em uma série de festivais de cinema ao redor do globo. 

Cena do longa A Última Floresta – Foto: Divulgação/Cinusp

 

“Na mostra, outras lutas também encontram eco sobre o ecrã (tela)”, afirma a curadoria do evento em nota divulgada pelo Cinusp. É o caso de Marighella (2019), filme que enfrentou uma batalha burocrática até chegar às salas de cinema. A obra, que retrata a luta do guerrilheiro Carlos Marighella — uma das principais figuras da resistência contra a ditadura militar (1964-1985), considerado até mesmo inimigo público pelo governo da época —, foi alvo de polêmicas após o diretor Wagner Moura fazer acusações de censura contra a Agência Nacional de Cinema (Ancine). Por outro lado, Cadê Edson? (2020) retrata a luta por moradia travada por centenas de moradores de ocupações, e Libelu – Abaixo a Ditadura (2020) traz entrevistas com ex-militantes do movimento estudantil Liberdade e Luta, surgido na USP em 1976.

 

Marighella, filme de estreia do diretor Wagner Moura – Foto: Divulgação/Cinusp

 

O diretor do Cinusp, Eduardo Morettin, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, conta que as várias temáticas e gêneros encontrados na mostra constroem um panorama do cinema brasileiro atual. Um formato cinematográfico diferente, por exemplo, é apresentado em Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente (2021), animação stop-motion que busca homenagear a vida e obra do cartunista Angeli. 

Dentre os filmes em exibição, Morettin também destaca A Cidade dos Abismos (2021), longa experimental gravado em formato analógico, e Deserto Particular (2021), selecionado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na categoria de melhor filme internacional no Oscar, em 2022. “Ambos pensam sobre a juventude LGBT”, diz o professor. 

A identidade LGBTQIA+ é tópico proeminente entre as sessões especiais de pré-estreia na programação do Cinusp. No documentário Para Onde Voam as Feiticeiras (2020), registros de manifestações artísticas e conversas com um grupo de performers do centro da cidade de São Paulo levantam o debate sobre gênero e política. Já Os Primeiros Soldados (2021) reconta a história da primeira onda da epidemia de Aids no Brasil, e Seguindo Todos os Protocolos (2022), dirigido e estrelado por Fábio Leal, desenvolve o tema do contato humano durante a quarentena.

Para homenagear o roteirista e diretor de cinema baiano Geraldo Sarno, o Cinusp promove uma exibição especial de Sertânia (2021) — último filme do cineasta —, seguida de debate sobre sua vida e obra, no dia 31 de maio, às 19 horas. Sarno ficou conhecido por retratar, em sua filmografia, o movimento migratório brasileiro e a cultura popular nordestina. 

Novíssimo Cinema Brasileiro é a segunda mostra presencial do Cinusp após o fim das medidas de isolamento impostas pela pandemia. Eduardo Morettin comenta que a resposta do público ao retorno foi “excepcional”. “Nas primeiras quatro semanas, recebemos aproximadamente 3.500 espectadores. O Cinusp traz espetáculos gratuitos, com ótima qualidade de exibição, o que colabora para esse clima agradável de retorno aos cinemas”, comemora o diretor. Fora da grade de programação atual, Morettin lembra que o cinema programou sessões extras de dois filmes muito concorridos da mostra anterior, Para Gostar de Cinema: Espetacular, que terminou no dia 13 passado. Um deles é O Castelo Animado (2004), animação do premiado diretor japonês Hayao Miyazaki, exibido nesta terça-feira, dia 17, às 13h45, e The Rocky Horror Picture Show (1975), musical de terror considerado um clássico cult, a ser mostrado nesta quinta-feira, dia 19, às 14 horas.

A mostra Novíssimo Cinema Brasileiro, do Cinema da USP Paulo Emilio (Cinusp), está em cartaz de 16 de maio a 15 de junho, de segunda a sexta-feira, às 16 e às 19 horas, na rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo. Grátis. São necessários uso de máscara e apresentação de comprovante de vacinação. A programação completa da mostra e mais informações estão disponíveis no site do Cinusp.


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