Mostra cinematográfica “ERRO_404” lembra os 30 anos da internet

Nesta semana, o Cinema da USP exibe filmes sobre a rede mundial de computadores e suas implicações na sociedade

 21/10/2019 - Publicado há 4 anos
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Buscando… (Estados Unidos, 2018), de Aneesh Chaganty, inteiramente filmado sob a perspectiva das telas de computadores, em uma investigação a partir do Facebook, Facetime, Youtube, Instagram e Google Maps – Foto: Divulgação / Cinusp

 

A World Wide Web – ou o famoso www que inicia todos os sites da internet –, rede mundial de computadores implementada pelo cientista Tim Berners-Lee, completa 30 anos em 2019. Para lembrar essa data, o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) preparou uma mostra que reúne títulos em vários formatos e gêneros, de vídeos-ensaios e documentários, romances, ação e até terror, que apresentam o crescimento e a transformação da internet, para o bem ou para o mal. ERRO_404 será exibida nesta semana, de 21 a 27 de outubro, em sessões gratuitas, de segunda a sexta, às 16 e 19 horas, no Cinusp, na Cidade Universitária, e no sábado e domingo, às 18 e 20 horas, Sala Carlos Reichenbach do Centro Universitário Maria Antonia. Também nesta semana, no dia 24 de outubro, estreia a mostra Clássicos do Mosfilm no Cinusp, que reúne quatro produções do cinema soviético e russo (leia matéria abaixo).

O impacto das redes sociais na vida de uma estudante do ensino fundamental é tema do longa Oitava Série (Estados Unidos, 2018), de Bo Bumham – Foto: Divulgação / Cinusp

ERRO_404 reúne obras realizadas inteiramente no ambiente on-line e tramas que só poderiam existir em um mundo conectado, em que as pessoas estão continuamente interligadas e vigiadas. A rede aparece em obras de diretores como Werner Herzog, Spike Jonze e Kiyoshi Kurosawa. “Embora a internet existisse antes do www, a sua criação foi muito importante em relação à forma como o usuário acessa diferentes tipos de informação através de sites, browsers, abas”, afirma o curador da mostra, Lucas Gabriel de Barros Silva. Segundo ele, “a mostra pretende retratar não como o mundo mudou nos últimos 30 anos desde o surgimento do www, mas como a internet passou a fazer cada vez mais parte das nossas vidas e como ela está presente no cotidiano das pessoas, em atividades de trabalho, de serviços e de lazer, tornando-se fundamental nos dias de hoje”.

Há filmes como o marcante Cidadãoquatro (2014), de Laura Poitras, vencedor do Oscar de Melhor Documentário, que traz um dos grandes casos de hacktivismo, acompanhando em tempo real a decisão do programador Edward Snowden de revelar o amplo sistema de vigilância e coleta de dados criado pelo governo americano, e distopias estimuladas pelo rápido avanço tecnológico, como o clássico Matrix (1999), superprodução americana das irmãs Wachowski, que combina efeitos especiais revolucionários para apresentar os limites entre o mundo virtual e o real.

Na mesma linha de Matrix, a mostra traz Kairo (2001), filme icônico do cinema de terror japonês, com direção de Kiyoshi Kurosawa, que apresenta uma visão apocalíptica da internet e reflete sobre a questão do isolamento e desconexão com o mundo real. Ainda sobre a internet do início dos anos 2000, será exibido o techno-thriller Demonlover – Espionagem na Rede, do francês Olivier Assayas, filme centrado no potencial da rede como veículo de conteúdo carregado de violência física e sexual e da perda da sensibilidade à violência que ela causa nos usuários.

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O terror japonês Kairo (2001), com direção de Kiyoshi Kurosawa, que apresenta uma visão apocalíptica da internet – Foto: Divulgação / Cinusp
O techno-thriller Demonlover – Espionagem na Rede (2002), do francês Olivier Assayas, centrado no potencial da rede como veículo de conteúdo violento – Foto: Divulgação / Cinusp

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A história da internet está presente em Eis os Delírios do Mundo Conectado (Estados Unidos, 2016), de Werner Herzog, que traça um panorama da rede mundial de computadores, desde o início em campi universitários até o longo e abrangente alcance que ela tem atualmente, abordando também seu futuro de incertas e inúmeras possibilidades. Destaque ainda para o premiado Her (Estados Unidos, 2013), de Spike Jonze, ambientado em um tempo não tão distante, mas no qual as inteligências artificiais avançaram de tal forma que elas se confundem com os seres humanos. Segundo o curador, nesse filme, a inteligência artificial ganha personalidade, tem ideias e se relaciona com pessoas, desenvolvendo até sentimentos.

“Há também títulos sobre a relação com as redes sociais, temática que foi crescendo ao longo dos anos 2000, e tornando-se muito forte nos anos 2010”, informa Silva, citando o recente Oitava Série (Estados Unidos, 2018), filme de estreia do youtuber, cineasta e escritor Bo Bumham. O longa mostra o impacto das redes sociais na vida de uma estudante do ensino fundamental, abordando como a internet afeta a sua autoestima e a sua visão de mundo. Contexto também de outro filme atual, Buscando… (Estados Unidos, 2018), de Aneesh Chaganty, inteiramente filmado sob a perspectiva das telas de computadores, que tem como narrativa o desaparecimento de uma menina e a investigação do pai em programas, links e sites, como Facebook, Youtube, Instagram, Facetime e Google Maps.

Além disso, a mostra apresenta dois curtas. Um deles é Transformers: o Premake (Estados Unidos, 2014, 25 min.), vídeo-ensaio experimental de Kevin Lee que, dentro de sua própria área de trabalho, traça um panorama completo do lado explorador e oportunista da Hollywood contemporânea por meio de pesquisas, artigos e arquivos diversos de áudio e vídeo sobre o filme Transformers 4: A Era da Extinção. O outro curta é o brasileiro Nunca é Noite no Mapa (2016, 6 min.), realizado sob a ótica do Google Street View, em que o documentarista Ernesto de Carvalho levanta questões sobre o registro da história e da geografia, comparando a mesma área urbana em diferentes anos e sua transformação, além do papel dos mapas virtuais nos dias de hoje.

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O vídeo-ensaio Transformers: o Premake (Estados Unidos, 2014), de Kevin Lee – Foto: Divulgação / Cinusp
O curta-metragem brasileiro Nunca é Noite no Mapa (2016), de Ernesto Carvalho – Foto: Divulgação / Cinusp

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Segundo o curador, estão surgindo muitos filmes que pensam a internet como um novo formato de se realizar cinema. “Atualmente, grande parte do que é feito no audiovisual utiliza a internet, e cada vez mais ela se torna um veículo de distribuição e exibição de filmes e vídeos”, afirma. “A mostra foi pensada em uma linha entre o virtual e o real, sua separação e união. Os filmes apresentam como o virtual impacta o mundo real, e como às vezes essa distinção fica muita clara e em outras vezes, não.” O curador ainda ressalta que há questões negativas, como dependência e falta de privacidade de dados, como o próprio título da mostra, ERRO_404, pressupõe, mas isso não quer dizer que a internet é onipresente e ruim, “porque há também filmes que mostram várias nuances que não são só negativas, mas também neutras, ambíguas e positivas”.

A mostra ERRO_404 será exibida de 21 a 27 de outubro, em sessões gratuitas, de segunda a sexta-feira, às 16 e 19 horas, no Cinusp (Rua do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colmeias, Cidade Universitária), e no sábado e domingo, às 18 e 20 horas, no Centro Universitário Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações neste link.
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Clássicos do cinema russo

Outra mostra que entra em cartaz nesta semana, na quinta-feira, dia 24 de outubro, é Clássicos do Mosfilm no Cinusp, reunindo quatro produções do maior, mais antigo e mais importante estúdio da Europa. A mostra é resultado de uma parceria entre o Cinusp e o CPC-Umes Filmes, braço do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo, que representa e distribui as produções do estúdio russo no Brasil. As sessões acontecem sempre às 14 horas, e prosseguem nas três quintas-feiras seguintes, com cópias restauradas dos filmes.

“Foram selecionados títulos que representam períodos distintos do cinema soviético e russo, como também de períodos históricos diferentes”, informa Igor Oliveira, membro do CPC-Umes Filmes. A programação abre com Lenin em Outubro (URSS, 1937), de Mikhail Romm, ambientado em 1917, quando a frota do Báltico e unidades do exército se encontram sublevadas contra o governo Kerenski, unindo as vozes às dos operários e camponeses que exigem paz, ou seja, a retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial. Segundo Oliveira, esse é um filme produzido na década de 30, considerada muito rica para o cinema soviético, assim como a década de 40, além de retratar um momento histórico fundamental, que é a Revolução Russa.

No dia 31 de outubro, será exibido O Quadragésimo Primeiro (URSS, 1956), de Grigori Chukhray. Baseado na obra homônima de Boris Lavrenyov, conta a história de um romance ocorrido durante a guerra civil russa (1918-21) entre a jovem Mariutka, exímia atiradora do Exército Vermelho, e um prisioneiro sob sua escolta, o tenente Nikolaievich, do Exército Branco czarista. “Esse filme e o primeiro, Lenin em Outubro, são bem conhecidos do público brasileiro e fazem um contraponto com os outros dois, que poucas pessoas assistiram”, informa Oliveira.

Na semana seguinte, no dia 7 de novembro, é a vez de O Caminho para Berlim (Rússia, 2015), de Serguey Popov, premiado com a menção ecumênica do júri do Festival Internacional de Montreal de 2015. Baseado no romance Dois na Estepe, de Emmanuil Kazakevich, e nos diários de guerra de Konstantin Simonov, o filme evoca acontecimentos ocorridos no verão de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Mostra o relacionamento de amizade entre um prisioneiro e um soldado que precisa escoltá-lo até Berlim para o fuzilamento. “É baseado em um romance muito conhecido na Rússia, mas pouquíssimo conhecido aqui, e apesar de retratar um período histórico é recente e utiliza uma tecnologia moderna, com uma fotografia que salta aos olhos”, comenta.

A mostra se encerra, no dia 14 de novembro, com o filme A Filha Americana (Rússia, 1995), dirigido por Karen Shakhnazarov, que também é diretor do Mosfilm. É uma visão russa de um mundo recém-saído da Guerra Fria, que conta a história de um músico russo que ganha a vida se apresentando em restaurantes de Moscou e é abandonado pela mulher, que casa com um americano e leva a filha do casal. Anos depois ele vai aos Estados Unidos para rever a filha e, mesmo com a barreira da língua, sai com ela em uma aventura pela América, recheada de situações cômicas.

“Essa é a primeira mostra realizada em parceria com o Cinusp. Estamos sempre em contato com vários centros culturais, não só em São Paulo, mas no Brasil todo para levar ao público estudantil uma cinematografia pouco divulgada no País”, afirma.

A mostra Clássicos do Mosfilm no Cinusp tem apresentações nos dias 24 e 31 de outubro, e 7 e 14 de novembro, em horários especiais, às 14 horas, no Cinusp (Rua do Anfiteatro, 181, favo 4 das Colmeias, Cidade Universitária). Entrada grátis.

 

 

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