Amilcar de Castro: arte em escalas que tocam o céu e o público

A vida e obra do artista são analisadas por Flávio Moura no terceiro livro da Coleção Prismas, da Editora da USP

 06/10/2023 - Publicado há 7 meses     Atualizado: 16/10/2023 as 14:07
Por
Escultura do artista mineiro Amilcar de Castro – Foto: Instituto Amilcar de Castro

 

Uma escultura que toca o céu. E chama a atenção de todos: 16 metros de altura, 4 metros de largura, 5 centímetros de espessura e 27 toneladas. Com a reflexão e análise sobre essa obra — destaque da comemoração em homenagem ao centenário de Amilcar de Castro (1920-2002) —, o crítico de arte Flávio Moura abre o terceiro livro da Coleção Prismas, da Editora da USP (Edusp), sob a coordenação de Jorge Coli.

Obra de Amilcar de Castro – Foto: Reprodução/Acervo MAC

Sem Título, de Amilcar de Castro traz a história da vida e obra do artista, empenhado em dialogar com o espaço através de suas obras públicas e partilhar entre as pessoas a percepção de sua arte. É esse movimento que o autor passa para o leitor, deixando fluir a estética e o pensamento do artista.

A exposição de Amilcar de Castro, apresentada entre fevereiro e setembro de 2021 no Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia (Mube), em São Paulo, para comemorar o seu centenário, está nas primeiras páginas do livro. Sob a curadoria de Guilherme Wisnik, Rodrigo Castro e Galciani Neves, reuniu esculturas, desenhos e pinturas. “Foi a mostra mais abrangente de seus trabalhos já vista em São Paulo”, observa o autor. “Apresentou desde os primeiros estudos, nos anos 1950, até obras concluídas pouco antes de sua morte, em 2002. Em meio a tudo que se via na exposição, uma obra ganhava destaque sobre as demais: uma escultura sem título, concluída em 1999, fixada na praça de entrada do museu, logo à direita de quem chegava pela portaria da Rua Alemanha.”

Segundo Moura, “a obra é típica da coleção de Amilcar: uma chapa de aço retangular, com um corte em diagonal que a atravessa até o topo. Unida pela parte de cima, a peça é dobrada, formando duas hastes quase triangulares e longilíneas, que se apoiam no chão de forma transversal, com um vão igualmente triangular entre elas”.

Essa solução na construção de esculturas que alia a arte à arquitetura nos espaços urbanos acompanha a produção do artista. “É difícil encontrar na história da arte brasileira quem tenha perseguido uma gramática tão simples e pessoal. Exceção feita a poucos períodos de sua trajetória, e deixando de lado sua atividade como designer e pintor, Amilcar de Castro fez basicamente a mesma escultura a vida inteira”, pontua o crítico.

O que muda, no entanto, é a magnitude da escultura feita a pedido de Marcelo Palmério, então reitor da Universidade de Uberaba, em Minas Gerais, para chamar a atenção do público e “embelezar a entrada da universidade”. A obra foi instalada e concluída em 1999, três anos antes da morte do artista. Porém, em 2021, em um esforço de logística, tempo e verba, foi para o Mube. Saiu de Uberaba, com 300 mil habitantes, para tocar o céu e a população de São Paulo. “Segundo contrato firmado pelo Mube e a universidade, a obra deve permanecer no museu paulistano até 2027”, informa Moura.

 

“Era, sem dúvida, um artista consolidado e vivia — discretamente, como de hábito — um momento de consagração”

 

O artista mineiro Amilcar de Castro – Foto: Reprodução/Instituto Amilcar de Castro

 

Flávio Moura traz uma síntese do pensamento e da história de Amilcar de Castro. “Quando executou a escultura de Uberaba, tinha 78 anos. Era, sem dúvida, um artista consolidado e vivia —discretamente, como de hábito — um momento de consagração. Naquele mesmo ano, foi realizada uma retrospectiva de sua obra de repercussão bastante expressiva no Rio de Janeiro, no Centro de Arte Hélio Oiticica e na Praça Tiradentes. Seus trabalhos de grande escala foram instalados na praça, em diálogo com a estatuária do Monumento a D. Pedro I, projetado por Louis Rochet em 1862, num contraponto ousado entre propostas radicalmente distintas.” O autor conta também sobre a inauguração do ateliê do artista, em abril de 2001, em Nova Lima (MG), em um espaço de 1.600 m², que vinha sendo construído desde 1997.

“Mas os caminhos da consagração de Amilcar não foram retilíneos. No âmbito internacional, por exemplo, ela se deu em proporção menor que a de alguns de seus colegas de geração, como Hélio Oiticica e Lygia Clark”, explica Moura. “Mesmo no Brasil, o processo se deu de forma tardia. Ao longo dos anos 1990, começou enfim a se consolidar um conjunto de leituras sólidas da obra de Amilcar de Castro, sedimentando alguns consensos sobre sua grandiosidade.” 

Sem Título, de Amilcar de Castro, de Flávio Moura, Coleção Prismas, Editora da USP (Edusp), 76 páginas, R$ 72,00.

 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.