USP registra dados de todos os casos de câncer diagnosticados no município de São Paulo

Dados coletados pela Faculdade de Saúde Pública desde a década de 60 servem de base para múltiplas pesquisas

 23/05/2018 - Publicado há 6 anos
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Registro de Câncer de Base Populacional de São Paulo foi implantado em 1969, pela Faculdade de Saúde Pública, para coletar e armazenar, de forma sigilosa, dados sobre todos os casos de câncer no município – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

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Os diversos tipos de câncer ainda estão entre as doenças mais desafiadoras para os médicos e mais temidas pela população. Para que sejam desenvolvidos avanços nos tratamentos, toda informação levantada é valiosa. A Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP faz parte do time que combate a doença com conhecimento: ela abriga o Registro de Câncer de Base Populacional de São Paulo (RCBP-SP), que coleta e armazena, de forma sigilosa, dados sobre todos os casos de câncer no município de São Paulo. Lá, o estudo é feito com base na incidência da doença, ou seja, nos casos novos, e isso provê dados importantes para pesquisas que buscam compreender melhor a doença em si e fatores de sua incidência como sexo, idade e localização geográfica.

Informação segura

A coordenadora geral do Registro de Câncer, professora Maria do Rosário, conta que o sigilo das informações e a proteção dos pacientes são muito importantes para o projeto, e que o processo de proteção dos dados ocorre de forma isolada da internet, com um software próprio, que exige o uso de senha e codifica os dados, tornando sua associação a um paciente impossível. “Nós temos mais de 300 fontes de laboratórios, hospitais, serviços de anatomia patológica. Enfim, todo mundo que pode de alguma forma estar coletando dados. A grande maioria nos fornece dados em planilhas, mas tem toda uma questão de sigilo, então eles não nos entregam planilhas de mão. Nós temos computadores que não têm acesso à internet, com um software próprio, então entra-se com a base de dados nesse software através de senha. Tão logo esses dados entram, eles são criptografados. Por exemplo, em ‘Maria do Rosário’, o ‘do’ já cai e fica Maria Rosário, e é um código, então fica M800R200, por exemplo. Então ninguém consegue saber quem é.”

O processo de proteção dos dados ocorre de forma isolada da internet – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Todo esse processo é seguido de uma rígida política de liberação de acesso às informações para pesquisas. O pesquisador deve enviar seu projeto ao Registro; o projeto será, então, encaminhado a um dos pareceristas. Se o parecer for favorável, o projeto segue para o Comitê Técnico Assessor (CTA), que tem permissão para decidir contra ou a favor da aceitação do projeto. Se, em todos essas etapas, a proposta tiver aceitação, o pesquisador pode utilizar os dados do Registro, que podem auxiliar na obtenção de resultados ricos no campo, como no estudo realizado por Max de Oliveira em sua tese de doutorado Desigualdades na incidência e mortalidade do câncer colorretal no Município de São Paulo e Brasil.

O câncer e a sociedade

O câncer colorretal é o que tem a segunda maior incidência no Brasil ー atrás do câncer de próstata em homens e de mama em mulheres ー e, segundo Max de Oliveira, ele tem uma associação com desigualdade social, “ele é mais incidente em países mais ricos”. Mas como o Brasil não tem dados quanto à incidência desse câncer para o Brasil todo, ele optou por trabalhar a mortalidade, e fez uma análise de tendência. Os outros dois aspectos pesquisados por Oliveira nesse estudo foram idade e sexo, estudados com enfoque no município de São Paulo.

Câncer colorretal – Ilustração: Indolences / Domínio público via Wikimedia Commons

Oliveira conta que há diferença na incidência quanto a esses dois critérios. “Existem alguns trabalhos que falam do efeito protetor dos hormônios femininos, então homens acabam tendo uma maior incidência do câncer colorretal. E, também, o risco do câncer, de modo geral, aumenta com a idade.” No entanto, sua pesquisa mostrou que, comparando os dados de 1999 a 2013, não há diferenças na incidência com relação à faixa etária e sexo no período inicial e no final, mas que há um aumento na tendência entre os jovens, que é reflexo da má alimentação, como fast foods e comidas congeladas, alimentos característicos de jovens de áreas com melhores condições socioeconômicas.

Mais informações: (11) 3061-7799, e-mail rcancer@fsp.usp.br

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