É através das brincadeiras que as potencialidades e as habilidades sociais, afetivas, cognitivas e físicas das crianças são estruturadas. Para as portadoras de síndrome de Down, o brincar é uma atividade fundamental para o seu desenvolvimento: auxilia na evolução da linguagem e nas habilidades motoras e sociais. A “Evolução do comportamento lúdico de crianças com síndrome de Down” foi tema de artigo publicado na Revista de Terapia Ocupacional da USP. Assinam o artigo quatro terapeutas ocupacionais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A pesquisa aconteceu em uma brinquedoteca terapêutica de um hospital escola infantil entre os anos de 2014 e 2016. Foram observadas trinta crianças com síndrome de Down, com idades entre oito meses e quatorze anos. As sessões tiveram frequência de uma vez por semana, com duração de 90 minutos, 15 reservados para brincadeiras livres e 15 destinados a conversas com familiares sobre o desenvolvimento da criança. A proposta era avaliar o comportamento lúdico deste grupo antes e após as intervenções realizadas pelos terapeutas ocupacionais.
Segundo o artigo, a terapia ocupacional se mostra como um recurso importante para análise comportamental de crianças, independentemente das condições físicas, intelectuais ou sociais que elas apresentam porque este campo de conhecimento estuda o envolvimento do sujeito nas diversas áreas de ocupação. “Toda criança precisa brincar, e para as que possuem algum tipo de deficiência o brincar é ainda mais importante, pois impulsiona seu desenvolvimento e auxilia na evolução da linguagem e das habilidades motora e social”, descreve o artigo.
Durante as sessões, as crianças envolvidas nas atividades preferiram brinquedos sonoros e visualmente estimulantes, o que foi respeitado pelas terapeutas ocupacionais porque se esperava que “o brincar livre e espontâneo da criança”, aliado a sua capacidade de ação, concedesse autonomia a essas crianças, estimulando o deslocamento e o prazer pelos desafios. A maioria das crianças também demonstraram dificuldades de brincar de maneira não convencional, já que a imaginação era tarefa difícil para quem tem “o pensamento orientado ao concreto, dependente do situacional-imediato”. Nas entrevistas de reavaliação com os pais, eles disseram que após as intervenções ocupacionais, as crianças passaram a demonstrar mais prazer e iniciativa para o brincar, além de ampliaram seu gosto por desafios, envolvendo brinquedos e lugares novos. Assim, após um ano de atendimento terapêutico ocupacional, as crianças avaliadas tiveram evolução em relação aos seus interesses geral e lúdico e na capacidade e atitudes lúdicas.
As autoras destacam a importância do aperfeiçoamento de estratégias lúdicas que auxiliem a criança a expressar seus sentimentos, majoritariamente no emprego de palavras e frases para o grupo de crianças atendidas na brinquedoteca.
Esse Modelo Lúdico, cuja proposta é a aplicação organizada do brincar na prática da Terapia Ocupacional, “mostrou-se aplicável ao contexto da brinquedoteca, auxiliando no planejamento terapêutico ocupacional para as intervenções com enfoque no brincar” e como “instrumento para mensurar o comportamento lúdico de crianças com síndrome de Down com idade até 14 anos”.
Artigo
PELOSI, M.; MUNARETTI, A.; NASCIMENTO, J.; MELO, J. Evolução do comportamento lúdico de crianças com síndrome de Down. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 170-178, 2019. ISSN: 2238-6149. Acesso em: 15 fev. 2019.
Contatos
Miryam Bonadiu Pelosi – Terapeuta ocupacional e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail miryampelosi@ufrj.br
Andreza Santos Munaretti – Terapeuta ocupacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail andreza.munaretti@hotmail.com
Janaína Santos Nascimento – Terapeuta ocupacional Unicamp.
Juliana Valéria de Melo – Terapeuta ocupacional e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail julianamelo_to@hotmail.com
Margareth Artur / Portal de Revistas USP
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