Novidades no tratamento do Acidente Vascular Cerebral

O professor Octávio Pontes Neto fala esta semana sobre as novidades no tratamento do AVC isquêmico

 06/06/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 07/06/2017 às 13:33
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O AVC (Acidente Vascular Cerebral) é segunda causa de morte no Brasil e no mundo e a principal causa de incapacidade funcional. O professor Octávio Pontes Neto explica que o AVC é uma doença que tem tratamento, mas é uma emergência médica. “Em 80% dos casos, o AVC é do tipo isquêmico, ou seja, é causado pela obstrução de uma artéria que leva sangue ao cérebro. Quando isso acontece, os neurônios começam a sofrer com falta de oxigênio e morrem em uma taxa de 1,9 milhão de neurônios por minuto.”

Por isso, diz o professor, diante de um paciente com AVC, é muito importante que o tratamento seja rápido. O tratamento pode ser feito com remédios trombolíticos que, quando administrados na veia do paciente, podem dissolver os coágulos que entopem as artérias do cérebro. Pelo risco de sangramento, esse tratamento só pode ser dado até quatro horas e meia do início dos sintomas. Além disso, o tratamento trombolítico não consegue sozinho desentupir artérias de grande calibre do cérebro.

Tratamento trombolítico pode abrir até 80% dos vasos ocluídos e que traz excelentes resultados – Ilustração: Divulgação/Assessoria de Imprensa do HC-FMRP

Recentemente,uma nova modalidade de tratamento para o AVC está disponível e tem se mostrado bastante eficaz na recanalização das artérias cerebrais e na redução de sequelas do AVC. Trata-se do cateterismo cerebral, também chamado de tratamento endovascular ou trombectomia mecânica.  Basicamente, esse tratamento consiste em colocar um microcateter nas artérias da perna e avançar por dentro das artérias até alcançar a área entupida do cérebro.

Estudos de 2015 demonstraram que esse tratamento pode abrir até 80% dos vasos ocluídos e traz excelentes resultados, justamente quando as grandes artérias do cérebro estão entupidas, sendo, portanto, uma alternativa terapêutica quando o trombolítico endovenoso não resolve o problema.  

Entretanto,  na semana passada, o médico brasileiro Raul Nogueira, professor da Emory University, em Atlanta, nos Estados Unidos, apresentou resultados de ensaio clínico denominado Dawn, no Congresso Europeu de AVC, em que dividiu em dois grupos 206 pacientes com AVC. O tratamento para essas pessoas teve  início entre seis e 24 horas do início dos sintomas. Elas apresentavam uma oclusão de uma grande artéria do cérebro e um AVC ainda pequeno nos exames de neuroimagem.  “Um grupo recebeu tratamento clínico padrão e o outro grupo recebeu a trombectomia mecânica em até 24 horas do início dos sintomas.”

Os resultados mostraram que, após três meses do AVC, 48,6% do grupo tratado com trombectomia mecânica estava funcionalmente independente, comparado a somente 13,1% do grupo tratado com tratamento clínico padrão. Isto corresponde a um aumento relativo de 73% na chance de boa evolução com o tratamento endovascular, se comparado ao tratamento padrão que vinha sendo feito até hoje em todo o mundo.

O professor Pontes Neto lembra que a trombectomia mecânica não pode ser realizada em qualquer paciente com AVC. “Este tratamento é essencialmente para em torno de 15% dos pacientes com AVC que apresentam oclusão de um grande vaso do cérebro e que têm bom fluxo sanguíneo colateral.” Apesar de aprovado pela Anvisa para ser utilizado no Brasil, ainda não é reembolsado adequadamente pelo Sistema Único de Saúde. “O Ministério da Saúde está patrocinando o estudo Resilient, estudo nacional que está sendo feito para comprovar a exequibilidade e o custo-efetividade da trombectomia mecânica no Brasil”, conclui.


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