Ferramenta prática ajuda a identificar Transtorno do Espectro Autista

O M-Chat é uma das ferramentas usadas desde que consultas pediátricas no Sistema Único de Saúde (SUS) passaram a ter triagem obrigatória para detecção da condição

 14/11/2023 - Publicado há 6 meses
Por
O M-Chat é uma das ferramentas mais simples e eficientes na detecção do TEA na primeira infância – Foto: Hugo Luque

 

Logo da Rádio USP

Para lidar da melhor forma possível com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é fundamental que o diagnóstico saia o quanto antes na vida de uma pessoa. Por conta disso, as consultas pediátricas do Sistema Único de Saúde (SUS) contam, obrigatoriamente, desde 2017, com ferramentas que ajudam na detecção da condição. Uma das mais simples, efetivas e populares atualmente se chama M-Chat, que vem do inglês Modified Checklist for Autism in Toddlers.

Embora não seja definitivo no diagnóstico, o recurso traz 23 perguntas binárias, com respostas de “sim” e “não”, para que os pais ou responsáveis respondam. A pontuação total, que atribui diferentes pesos a determinadas questões, indicará se a criança, normalmente na primeira infância, tem risco de autismo.

Luiz Roberto Verri de Barros – Foto: Hugo Luque

Médico pediatra formado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, Luiz Roberto Verri de Barros atende na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Vila Lobato, também no município. O especialista garante que, por lá, os médicos seguem à risca o que é recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Verri explica que o M-Chat “foi indicado para ser feito em crianças entre 1 ano e meio e 2 anos e meio por conta do desenvolvimento neuromotor, neuropsicossocial da criança, para poder definir quem precisaria de uma estimulação precoce”.

Na UBS em que atende, o pediatra conta que já foram detectados alguns casos suspeitos que foram confirmados. “Um número preciso necessitaria de uma outra abordagem em estatística, mas em sete anos aqui na UBS eu já presenciei uma meia dúzia de casos com certeza. Acho que, com essa abordagem que a gente tem feito, facilitou também o fato de detectar mais casos. Então, é importante fazer esse tipo de avaliação justamente para prover a criança de um desenvolvimento adequado, mesmo com a situação que a dificulte.”

Objetivo, mas pede confirmação

O M-Chat é fácil de ser aplicado e totalmente objetivo. É possível encontrar o questionário na internet e já existe até mesmo o Projeto de Lei Estadual 1437/2023, do último mês de setembro, que está em análise na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) da Assembleia Legislativa, que busca instituir sua aplicação nas redes pública e privada de educação infantil em todo o território paulista. A simplicidade dessa ferramenta evidencia, no entanto, a necessidade de uma confirmação além do resultado no papel, com a ajuda de uma equipe multidisciplinar. Verri detalha que, através de um encaminhamento para fonoaudiologia, o paciente é direcionado ao Núcleo de Atenção ao Deficiente (Nadef) da Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto. “Lá, ele também passaria por terapeuta ocupacional, psicologia neuroinfantil e tem casos em que eles acabam também caminhando para a própria Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).”

Este é o ponto em que, segundo o especialista, muitas crianças são prejudicadas. “A gente sabe também que é um tratamento mais elaborado, demanda vários profissionais e a gente pede agilidade para a Prefeitura nesses casos, porque, de vez em quando, acaba tendo poucas vagas. Há pouco tempo teve o retorno de um paciente que fez esse caminho: começou um tratamento de fonoaudiologia, com a suspeita justamente nessa idade de 2 anos, foi para o SUS e de lá foi encaminhado para a Apae, só que esse encaminhamento não vingou.”

Portanto, o pediatra enxerga, em sua realidade como médico da UBS, que o cada vez mais popular M-Chat é bem utilizado, muito por conta de sua simplicidade, mas que o tratamento precoce ao TEA continua um desafio. Segundo ele, a recomendação do uso do questionário deve ser seguida tanto no setor público como no privado. “Com certeza, o pediatra, quando tem uma boa comunicação com o grupo em que trabalha, recebe a recomendação de usar o M-Chat. Imagino que isso é feito em todos os setores.”

*Estagiário sob supervisão de Ferraz Junior


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.