Dente pode desvendar mistério dos denisovanos, parentes extintos do Homo sapiens

Pesquisadores encontraram o dente de uma criança denisovana em uma caverna no Laos, no sudeste da Ásia, revelou estudo publicado na revista Nature Communications

 09/06/2022 - Publicado há 2 anos
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– Imagem: Demeter, F. et al./Nature Communications)
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Em um estudo publicado na revista Nature Communications, uma equipe internacional de pesquisadores revelou a descoberta de um dente de um parente extinto do homem moderno ainda pouco conhecido: os denisovanos. Os cientistas analisaram a morfologia do material e concluíram se tratar de um molar de uma criança entre 3 e 8 anos de idade, mas o estado ruim de preservação não permitiu que a datação fosse precisa.

Para o pesquisador João Carlos Moreno de Sousa, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos do Instituto de Biociências (IB) da USP, pesquisas como essa são necessárias para que possamos entender mais detalhes sobre esse capítulo pouco conhecido da história humana. Até o momento, a presença dos denisovanos era conhecida na Rússia siberiana e no Planalto do Tibete. “Essa é a primeira evidência que a gente tem de uma ocupação no Sudeste Asiático, onde até então a gente só tinha vivência da presença de Homo erectus. Isso traz também algumas perguntas como: até onde os denisovanos foram?”, questiona.

João Carlos Moreno de Sousa – Imagem: Arquivo Pessoal

Arqueólogo com enfoque na evolução biocultural humana, Sousa destaca que a história evolutiva dos denisovanos não pode ser entendida somente a partir de aspectos biológicos. “A gente precisa também dos aspectos culturais. Cada vez mais as evidências vão sugerir que há uma relação de coevolução entre cultura e biologia na linhagem do nosso gênero homo e ela não pode ser entendida separadamente”, destaca ele.

Durante o trabalho, os estudiosos sugeriram que o molar compreende um período entre 164 mil e 130 mil anos, a escala é ampliada, já que o estado de preservação não permitiu uma análise precisa. Para a datação aproximada, Sousa explica que foram aplicadas diferentes técnicas no processo: dentes de animais encontrados na mesma camada de sedimento do dente denisovano foram datados por meio da luminescência e ressonância de spinning eletrônico. Os métodos identificam há quanto tempo os materiais não recebem a incidência de luz e o período de formação do esmalte dental.

O pesquisador esclarece que são poucos os estudos sobre esses parentes extintos do Homo sapiens até o momento, já que representam uma espécie descoberta recente, em 2010, em uma gruta da Sibéria. “Os denisovanos são uma das espécies com menos informação até o momento, principalmente por se tratar de uma espécie descoberta muito recentemente”, complementa Sousa.

Por enquanto, as evidências de remanescentes biológicos dos denisovanos se resumem a poucos ossos e dentes. Ainda não foi encontrado um esqueleto mais completo ou crânio de um denisovano para análises mais completas.

Contudo, de acordo com o especialista, a partir da descoberta recente será possível aprofundar as investigações da arqueologia para compreender as complexidades da evolução humana e, possivelmente, mais detalhes sobre esse capítulo pouco conhecido da nossa história. 


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