O tema do Saúde sem Complicações desta semana é sobre transplante de fígado, com o professor Orlando de Castro e Silva Júnior, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador do Grupo de Transplante de Fígado do Hospital das Clínicas (HC) da FMRP. Em agosto, o professor Orlando Castro e Silva Junior transferiu, oficialmente, a coordenação do Programa de Transplante Hepático do HC-FMRP ao professor Ênio David Mente.
O professor conta que, com a professora Ana Martinelli, foi responsável pela organização do Serviço de Cirurgia Hepática e Transplante de Fígado do HC-FMRP, que teve início no final dos anos de 1980. “A formação da equipe durou cerca de dez anos e, hoje, todos os profissionais foram formados no próprio HC-FMRP.”
O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto conta com um Centro de Transplantes com 25 leitos, cerca de dez destinados aos transplantados de fígado. “O procedimento é complexo, envolve mais de 50 profissionais entre médicos clínicos, cirurgiões, residentes, técnicos e enfermeiros. Também existe um engajamento grande dos alunos, principalmente na captação de órgãos.”
O professor lembra que atualmente de 70% a 80% das indicações de transplante são por doenças do fígado, como cirrose hepática, decorrente principalmente do alcoolismo ou de hepatite C e, em menor escala, de hepatite B, e, ainda, por uma doença relativamente nova, chamada esteatose hepática. “Todas essas doenças são passíveis de prevenção. Uma prevenção adequada poderia reduzir o número de transplantes. A hepatite C, por exemplo, é possível de ser controlada ou curada em 95% dos casos. Somente 20% dos casos são decorrentes de doenças que independem de prevenção, como a cirrose autoimune, doenças da infância, por exemplo.”
O fígado, segundo Silva Junior, é um órgão interessante, ao mesmo tempo vilão, qualquer problema estomacal ou dor de cabeça são facilmente atribuídos ao fígado. “O fígado, quando tem algum problema, não apresenta sintoma. A cirrose é um exemplo, ou é descoberta por acaso, ou por alguma complicação quando a doença já evoluiu”, alerta.
O transplante é indicado para aqueles pacientes que não têm perspectivas de vida, segundo o professor. No HC-FMRP, são entre 50 e 60 pessoas na fila do transplante de fígado. “No começo, as filas eram maiores, por ordem cronológica. Atualmente, com o uso da escala Meld, fórmula matemática que mede o grau de gravidade do paciente, houve uma racionalização dessa fila.”
A maioria dos transplantes de fígado em adultos no Brasil é feita a partir de doador falecido, de 80% a 90%. Em crianças são entre doadores intervivos. “As chances de complicações intraoperatórias são mínimas, estão diretamente relacionadas à gravidade do paciente, não passam de 2% para cada 100. A mais frequente é a rejeição, que tem tratamento. E tem a infecção, por isso a equipe fica muito alerta a essa condição.”
O Saúde Sem Complicações é produzido e apresentado pela locutora Mel Vieira com trabalhos técnicos de Mariovaldo Avelino e Luiz Fontana. Direção: Rosemeire Talamone.