Para professor, a presença do negro na Universidade é quase invisível

Nos cursos em que a disputa é mais acirrada, como a Medicina, por exemplo, a presença do negro é mínima

 10/05/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 11/05/2017 as 15:12
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Os negros sempre tiveram um espaço muito reduzido na sociedade brasileira, reflexo talvez dos tempos da escravidão e do preconceito racial. Vítimas de uma escravidão invisível, que se dá por outras formas, eles também têm presença reduzida nos cursos universitários. Que o diga o professor Ivan Siqueira, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, vice-presidente da Câmara Brasileira de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação e coordenador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre o Negro Brasileiro da USP (Neinb).

Ele admite, porém, que houve um certo progresso quando se pensa a educação de uma perspectiva histórica. Em meados dos anos 1950, a maioria da população, sobretudo a mais carente, era praticamente analfabeta – de cada 100 alunos, apenas um chegava ao nível superior. “Não houve, no Brasil, ao longo do século 20, políticas que tivessem sido efetivas e que de fato conseguissem favorecer a educação como uma conquista nacional”, observa o professor Siqueira, acrescentando que o século passado terminou em situação de fragilidade no que se refere à educação em nosso país, mesmo em comparação a nações da América Latina, que também tiveram dificuldades.

Alunos do movimento negro na USP têm feito várias manifestações cobrando a adoção de cotas para negros na Universidade – Foto: Gabriela Korossy / Câmara dos Deputados

No caso específico da USP, ele admite que a inserção dos pobres e dos negros nos cursos da área de humanidades sempre foi mais robusta, o que não ocorre, porém, naqueles cursos em que a disputa é mais acirrada, geralmente da área de exatas ou biológicas, como a medicina, nos quais  a presença do negro é quase zero. Segundo ele, a presença rarefeita do negro na USP espelha, de certo modo, a situação do Estado de São Paulo como um todo.

No âmbito nacional, houve uma melhora significativa em função das políticas de ações afirmativas, que se mostraram eficientes na inserção de um número maior de negros nos cursos universitários, principalmente em instituições federais de ensino. Ainda segundo o professor Siqueira, as políticas adotadas pela USP e pelo Estado de São Paulo, com algumas poucas exceções, não se mostraram tão efetivas e a situação não mudou muito nos últimos anos.


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