O programa curatorial do MAC para 2020-2024

Ana Magalhães e Marta Bogéa, respectivamente diretora e vice-diretora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP

 07/12/2020 - Publicado há 3 anos
Ana Magalhães – Foto: Divulgação/MAC

 

Marta Bogéa – Foto: Divulgação/MAC
P restes a completar sessenta anos, e instalado definitivamente em sua nova sede no Parque do Ibirapuera, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP é a mais importante instituição em seu gênero no País, com 10 mil obras de arte moderna e contemporânea nacional e internacional. Por ser um museu universitário, no qual as atividades de docência, pesquisa e curadoria estão necessariamente interligadas, ele se consolidou como um espaço de reflexão crítica e de formação (especializada e de extensão).

O programa curatorial da gestão 2020-2024 entende o MAC como um museu-laboratório, abrindo-se para o fomento à produção artística, e estimulando o envolvimento de estudantes, e parcerias interdisciplinares entre pesquisadores e docentes, dentro e fora da USP. As atividades de extensão aqui propostas, seja na sede do museu, seja em seu site e suas redes sociais, partem das premissas de suas linhas de pesquisa e do perfil de seu acervo. Diante da crise sócio-político-econômica e ambiental em que vivemos, os debates no campo das artes visuais têm se voltado para a revisão das relações entre cultura e natureza. Além disso, por sua localização no Parque Ibirapuera (em tupi, literalmente, “mata que já foi mata”, ou “capoeira”), o MAC deve ser visto como parte dessa paisagem maior. Assim, adotaremos a metáfora da floresta para designar os programas que compõem nossa proposta.

Clareira (térreo)

A clareira de uma floresta (em tupi, Baependi) é uma área de pouca vegetação, ou de vegetação rasteira localizada no interior de uma floresta ou de um bosque. Ela é fundamental para a renovação da floresta e para sua diversidade. No caso da floresta amazônica, por exemplo, são áreas nas quais grupos indígenas nômades estabelecem assentamentos temporários. Chamamos de clareira o espaço localizado no térreo do prédio do museu, junto ao acolhimento do público, no qual ocorreu a cerimônia de posse da nova diretoria. Este gesto busca afirmar uma programação anual diversa, que abrirá novas possibilidades de leitura do acervo do museu, envolvendo várias formas de manifestação artística, no diálogo com as artes visuais. Para isso serão convidados a colaborar com o MAC, músicos, performers, bailarinos, escritores, atores, por meio de apresentações aos sábados à tarde, pensadas em torno de questões candentes da contemporaneidade.

Floresta (andares de exposições)

Em língua tupi, chama-se uma floresta virgem de Caaguaçu, isto é, uma vegetação abundante, frondosa, com árvores de grande porte, capazes de nos dar a ver as camadas históricas do território original. O programa de exposições do museu, que trabalha prioritariamente com seu acervo, é visto como essa grande floresta. Ele estará distribuído entre o prédio principal do museu e seu Anexo Expositivo. O prédio principal possui seis andares de galerias, alguns deles divididos em duas alas, cada um com um ciclo expositivo. Outros serão tratados na sua integralidade. Retomaremos também o espaço do Anexo Expositivo, fechado desde 2015 para reformas, e que será reaberto a partir de 2021.

Mostra permanente de acervo (2022-2026) – 7º e 6º andares

A base de toda a pesquisa curatorial do MAC está fundamentada no estudo de seu acervo artístico. Sendo assim, a mostra permanente de acervo do museu pode ser entendida como as raízes (em tupi, Apó) das grandes árvores que formam o conjunto de nossa floresta virgem. Os 7º e 6º andares estão dedicados à exposição de longa duração do acervo, de modo a apresentar novas leituras da arte que ele é capaz de suscitar. Com uma periodicidade de quatro anos, a curadoria trabalhará nas especificidades do acervo, e, não para abarcar uma história global da arte do século 20, e sim revelar as histórias que ele guarda, irrigado a partir das questões atuais. A mostra de longa duração do acervo, além de ensejar o Laboratório de Curadoria (veja-se abaixo), foi base também para parceria com a São Paulo Companhia de Dança e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que resultou no vídeo Amálgama, com lançamento previsto para dezembro de 2020.

Novas aquisições (2021-2023 e 2023-2025) – 5º andar

O 5º andar do edifício do museu terá uma periodicidade de dois anos, menor que os demais, pois ele deve apresentar a arte do século 21 no acervo a partir das doações recentes do MAC. A primeira exposição pensada para este espaço, intitulada Lugar-Comum, se construirá em três etapas nas quais artistas serão convidados a trabalharem em colaboração com a curadoria do museu.

Exposições em parceria com outras instituições – Rede São Paulo (2021, 2022, 2023 e 2024) – 5º andar

Na galeria expositiva menor do 5º andar, será implantado um programa de exposições anuais centrado no conceito de paisagem a partir de várias disciplinas. Aqui, o MAC se abre mais concretamente ao seu entorno em que a curadoria do museu se propõe a estabelecer parcerias com outras instituições situadas no Parque do Ibirapuera, mas também com algumas unidades da USP. Para tanto, serão convidados colegas colaboradores do que chamamos Rede São Paulo, construída a partir dos webinários sobre processos curatoriais realizados entre setembro e outubro de 2020. Para 2021, está prevista parceria com o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM); para 2022, com a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP; e, em 2023, com a Escola de Comunicações e Artes da USP.

O andar da pesquisa curatorial do MAC (2022 e 2024)

O 4º andar é dedicado à extroversão da pesquisa curatorial realizada no MAC, seja com recortes específicos do acervo, seja por meio de projetos curatoriais mais pontuais que envolvam grupos de pesquisa do museu ou pesquisadores convidados, como doutorandos ou pós-doutorandos. Em março de 2021, a exposição Video_MAC, com curadoria do pós-doutorando Roberto Cruz (2017-2019), será inaugurada presencialmente, depois de ocupar o site do museu. Em agosto, será a vez de abrir a exposição Projetos para um cotidiano moderno no Brasil, 1920-1960, com curadoria do Grupo de Pesquisa CNPq “Narrativas da Arte do Século XX”. Neste mesmo espaço, o museu deverá abrigar uma exposição retrospectiva da obra do artista Sidney Amaral, com curadoria do crítico e artista convidado Claudinei Roberto da Silva.

Edital de Exposições para Artistas Emergentes (2021 e 2022)

Desde 2020, a ala menor do 3º andar do museu é reservada ao Edital de Exposições para Artistas com ciclo de três exposições selecionadas para cada ano. Durante esta gestão, deverão ser realizados dois editais, com ciclos de um ano e meio, voltados para artistas emergentes. Ainda em 2021, fecharemos o programa do edital de 2019-2020, que ficou inconcluso devido à pandemia da covid-19, que manteve o museu fechado para o público na maior parte do ano de 2020. Em fevereiro, será inaugurada a exposição Universo Invisível, do artista Paulo Nenflídio; e em junho de 2021 será a vez do Grupo Empreza ocupar o museu com performance e ações.

Exposições temporárias externas

A ala maior do 3º andar é reservada a propostas de exposições externas selecionadas tendo como base a política de exposições do MAC e financiadas com recursos angariados pelos próprios proponentes. Em maio de 2021, o Museu acolherá a exposição La belleza salverà il mondo. Organizada por uma curadora italiana, com apoio do Instituto Italiano de Cultura e o Consulado Geral da Itália de São Paulo, a mostra reunirá trabalhos produzidos durante a pandemia da covid-19, por artistas de vários países. Sua produção arrecadou recursos para as ações sanitárias na Itália em 2020.

Reserva em obras

Pretende-se que a ala maior do 3º andar seja também utilizada alternadamente como espaço de exposições que deem a ver os bastidores do MAC. A exemplo do que o museu realizou em 2011, com a exposição MAC em obras, a ideia de Reserva em Obras é criar um projeto expográfico no qual trabalhos de documentação e conservação possam ser realizados diante do público. Deste modo, será possível dar a ver o que significa, efetivamente, o ciclo curatorial e discutir com o público do museu a curadoria em toda a sua complexidade. Reforça-se, assim, a atividade curatorial fundamentada na pesquisa e nas discussões teóricas suscitadas por um acervo de artes visuais, ao mesmo tempo em que se estabelecem subsídios teóricos para o Projeto Temático Fapesp que o MAC sedia.

Reserva técnica visível

Desde 2018, o 2º andar funciona como parte da reserva técnica do museu. Neste programa curatorial, a reserva técnica passará a ser visível para o público, assim como o trabalho da equipe em seu interior. Tal estratégia, adotada em museus no mundo inteiro, visa a reforçar a curadoria como uma cadeia de recepção, guarda e identificação de obras, que não se resume apenas às atividades de extensão.

Afluente (Anexo Expositivo)

O anexo ao edifício principal do museu é um espaço privilegiado para projetos mais experimentais de arte contemporânea. A programação pensada para ele terá início com a exposição retrospectiva Regina Silveira: Outros Paradoxos, prevista para abril de 2021, que integra a parceria entre o MAC e a 34ª Bienal de São Paulo. A mostra apresentará o conjunto de obras da artista que o museu possui, complementado pela generosa doação por ela feita em 2018. O MAC é hoje o maior guardião público da produção de Regina Silveira, o que reforça a ligação dessa artista com a história institucional do museu e amplia a representatividade de seu acervo de arte contemporânea.

Em 2022 e 2023, pretende-se transformar o anexo expositivo do Museu em uma espécie de laboratório de experiências artísticas transdisciplinares, por meio de oficinas, cursos, debates, ocupações e exposições, tendo como fio condutor os projetos MAC 22 e MAC 72. O primeiro buscará reavaliar a Semana de Arte Moderna de 22, enquanto o segundo irá propor uma reavaliação da história institucional do museu, a partir das exposições Jovem Arte Contemporânea, por ocasião dos 60 anos do MAC.

Laboratório de curadoria (2021 e 2023)

Este programa, pensado para a formação de jovens pesquisadores, se dará através de uma convocatória, na qual alunos de pós-graduação de qualquer programa do Estado de São Paulo poderão se inscrever para propor verbetes sobre uma obra ou conjunto de obras que integram as exposições do 6º e 7º andares (mostra de longa duração de acervo) e uma obra ou o conjunto das obras que constituem uma exposição de esculturas, no 1º andar do prédio (em frente às salas de aula do MAC). A cada edição, serão selecionados sete textos curatoriais através de uma comissão de pesquisadores/curadores convidados. Pretendemos realizar duas convocatórias entre 2021 e 2024.

Olho d’água (MAC On-line)

A partir de agosto de 2020, demos início a uma série de ações através das redes sociais do museu e seu website. Nosso programa curatorial entende que será fundamental dar continuidade e reforço a essas ações, que envolvem séries de lives, webinários, ação educativa e cursos de extensão – cujo alcance é muito maior através dos meios digitais.

Iniciamos com as séries MAC-USP Bastidores (sobre mostras em fase de projeto e montagem) e MAC-USP Depoimento (com curadores e diretores). Retomaremos o projeto MAC USP encontra os artistas (iniciado em 2013) em versão on-line através do canal do Museu no YouTube.

Inauguramos nossa primeira exposição virtual (ver exposição Video_MAC). Esta primeira experiência abriu possibilidades para pensarmos em ações expositivas e artísticas, que podem explorar outros modos de interação entre o museu e seu público. Também trabalhamos com uma proposta com o artista Tadeu Jungle, que usou nossa conta no Instagram e no Facebook para realizar uma ação de disseminação de seus poemas visuais. Assim, teremos um projeto anual de ações artísticas no site do museu e um projeto anual de mesma natureza nas redes sociais do MAC USP.

Seminários / webinários

Como mencionado anteriormente, este ano realizamos os webinários MAC USP Processos Curatoriais – Rede São Paulo, cujo tema principal são os processos curatoriais. Pretendemos dar continuidade a este programa de webinários, realizando-os anualmente, focando em tópicos candentes para a pesquisa curatorial. O de 2021, MAC USP Processos Curatoriais: Curadoria Crítica e Estudos Decoloniais em Artes, será organizado com a co-coordenação da artista Rosana Paulino, e terá o apoio da Getty Foundation, através do projeto Connecting Art Histories.

Os webinários de 2022 e 2023 deverão ser parte dos projetos de exposição e disciplinas vinculados, respectivamente, aos tópicos de reavaliação da Semana de Arte Moderna de 1922 e dos 60 anos do MAC.

Disciplina “Estudos em Arte dos Estados Unidos e suas Conexões” (PGEHA 2022-2024)

O MAC, em colaboração com colegas dos programas de pós-graduação em história da arte da Unicamp e da Unifesp, e com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, propôs a criação da disciplina “Estudos em Arte dos Estados Unidos e sua Conexões”, com a colaboração de um professor visitante a cada ano, patrocinado pela Terra Foundation for American Art. Ela pretende introduzir os alunos à história da arte estadunidense a partir de três grandes temas: arte indígena, arte afrodescendente e imigrações e suas contribuições para o desenvolvimento das artes visuais nos Estados Unidos. Nosso objetivo é propor uma leitura crítica da narrativa hegemônica da arte estadunidense, comparada a estudos de caso em acervos brasileiros – partindo do acervo do MAC e da Pinacoteca – nessas mesmas chaves temáticas.

Continuação de programas existentes

Daremos continuidade à série MAC Essencial, dos quais já temos 17 exemplares no Portal de Livros Abertos da USP. Inicialmente dividida em quatro categorias, em 2021, inauguraremos a linha Arte Educação, para a qual a equipe de educadores do MAC preparará uma coletânea de ensaios sobre os programas já realizados pelo Serviço Educativo do museu nos últimos anos. A série terá continuidade através das exposições e eventos acadêmicos programados pelo MAC até 2024, e deverá também prever um volume especial sobre a história do museu para 2023.

Também daremos continuidade ao programa Música no MAC, que existe desde 2018. A seleção dos grupos musicais e programas que se apresentarão tem sido feita com base em parcerias preestabelecidas com instituições e grupos locais.

Este Programa Curatorial está sendo desenvolvido em diálogo e participação das equipes do museu, bem como seu Conselho Deliberativo. Para tanto, já começamos a envolver as equipes em grupos de trabalho multissetoriais para preparar o MAC para sua reabertura ao público e organizar os espaços de visitação e galerias para acolher as iniciativas aqui propostas. Esperamos assim que o Museu de Arte Contemporânea da USP consolide seu papel como instituição de qualidade, de reflexão crítica e de valor inestimável para seu público.

 


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