De sala em sala, aluno busca desmistificar universidade pública

Estudante da USP em Ribeirão Preto criou projeto para difundir informações entre jovens de escolas públicas

 30/01/2017 - Publicado há 7 anos
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Estudantes após encontro do Projeto Salvaguarda - Foto: Arquivo Pessoal
Estudantes após encontro do Projeto Salvaguarda – Foto: Arquivo Pessoal

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Vinícius Andrade, 21 anos, morador de um bairro humilde em Ribeirão Preto, estudou boa parte da vida em escolas públicas. Durante o ensino, ingressou em um colégio particular como bolsista, fez cursinho e conquistou sua vaga na Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto (FEARP) da USP. Um ponto fora da curva, o estudante percebeu o número mínimo de alunos de baixa renda na faculdade e a enorme falta de conhecimento de seus vizinhos sobre o assunto vestibular. Resolveu agir, assim nascia o Projeto Salvaguarda.

No início de 2016, preparando questionários socioeconômicos junto a perguntas sobre o ingresso no ensino superior, Andrade visitou quatro turmas de terceiro ano do ensino médio, em escolas públicas na região de Ribeirão, afim de obter informações sobre aquele problema antes de agir.

O primeiro choque foi notar que alguns alunos possuíam dificuldade para leitura; muitos não sabiam que a USP era uma universidade pública, ou seja, onde não é cobrada nenhuma mensalidade, e outros desconheciam a existência de bolsas, isenções e auxílios de diversas instituições.
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 A USP como possibilidade: Bilhete enviado por aluna após visita do Projeto Salvaguarda
A USP como possibilidade: bilhete enviado por aluna após visita do Projeto Salvaguarda – Foto: Arquivo Pessoal

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Vinícius decidiu continuar as visitas, pediu autorização das coordenações nas escolas para um novo encontro com os estudantes, no qual falariam sobre os cursos oferecidos em diversas universidades públicas, já que muitas pessoas não conseguem escolher uma carreira e acabam simplesmente desistindo dos vestibulares.

“Tudo bem, só não traz Medicina porque é sonhar demais!”, foi a resposta que recebeu de uma das responsáveis de um colégio onde esteve. Indignado, convidou outros universitários da região, inclusive futuros médicos, para uma conversa horizontal com os estudantes.

Vinícius Andrade, 21 anos, idealizador do Projeto Salvaguarda
Vinícius Andrade, 21 anos, idealizador do Projeto Salvaguarda – Foto: Arquivo Pessoal

Tirando dúvidas, desmistificando boatos e aproximando cada vez mais a realidade de vestibulando aos colegas, os voluntários mostraram a possibilidade de isenção nas inscrições, os benefícios das universidades, as cotas, tudo. “Eles têm muitos direitos que não são usados, apenas porque não os conhecem. Isso faz com que se sintam realmente inferiores”, comenta Vinicius.

Apesar do sucesso no ano passado, outro problema surgiu: o ambiente familiar e escolar estava destruindo toda esperança depositada nas conversas entre estudantes e universitários. Com a descrença da própria família e dos professores, muitos alunos acabavam desistindo daquele novo sonho: o de prestar vestibular e ingressar em uma universidade pública.

Salvaguarda: Logo do Projeto
Salvaguarda: logo do projeto

“Em 2017, o projeto vai ser diferente”, diz Vinícius, “As visitas vão ocorrer durante o ano todo, em mais de 20 colégios. Inscreverei os alunos nos vestibulares: Enem, Fuvest, Vunesp, Unicamp. Vamos levar bastante informação, faremos visitas à USP e workshops. Vão ser criados grupos on-line para tirar dúvidas de exercícios e redação. Busco professores voluntários para, se tudo der certo, promover ‘aulões’ aos sábados nas escolas.”

O objetivo do idealizador não é a divulgação apenas da USP, mas sim empoderamento dos jovens. “Quero mudar essa realidade. Sei que é complexo e difícil, mas existe futuro. Vários alunos de escolas que visitamos se inscreveram em cursinhos. Antes eles nem sabiam que existia cursinho.”

Em todos os encontros, Vinícius tira foto com os alunos e recebe bilhetes, falando sobre o sonho que alimenta na vida de cada estudante, ou melhor, vestibulando. “Estou muito esperançoso para mostrar que são capazes, que podem atingir seus objetivos através do estudo, já que muita gente diz o contrário a eles.”

Para se voluntariar e participar do projeto, basta entrar em contato com o Vinicíus: (16) 99390-7355

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