O professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Antonio Candido de Mello e Souza, foi homenageado postumamente com o título de Professor Emérito da USP. A cerimônia que marcou a homenagem foi realizada no dia 31 de agosto e transmitida de forma on-line da Sala do Conselho Universitário.
A concessão da honraria foi aprovada pelo Conselho Universitário, no dia 9 de março deste ano, quando também foram homenageados os professores Erney Felício Plessmann de Camargo, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), e Walter Colli, do Instituto de Química (IQ).
O título de Professor Emérito é concedido a professores aposentados que se distinguiram por atividades didáticas e de pesquisa ou que tenham contribuído, de modo notável, para o progresso da Universidade. Desde a fundação da USP, em 1934, foram outorgados 20 títulos a docentes da instituição.
A saudação ao homenageado foi feita pelo professor da FFLCH e crítico literário Roberto Schwarz, considerado um dos principais continuadores do trabalho de Candido, de quem foi amigo por mais de 60 anos.
“Antonio Candido pertence a pequeno grupo dos grandes intelectuais brasileiros do século 20. Seu lugar na estante fica ao lado de Mário de Andrade, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior e Celso Furtado. Essa proeminência deve-se à sua obra admirável de crítico, de historiador e teórico da literatura, à sua atividade longa e fecunda de professor, bem como à conduta exemplar de resistência à ditadura entre 1964 e 1985”, afirmou Schwarz, que discorreu sobre os estudos e as obras produzidas pelo docente durante sua trajetória acadêmica e destacou seu “enorme apreço pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, da qual se sentia profundamente devedor”.
Em seguida, o reitor Vahan Agopyan entregou o diploma de Professor Emérito às netas de Candido, Elisa Escorel e Maria Clara Vergueiro.
A filha do homenageado, Ana Luisa Escorel, ressaltou que “esta homenagem, sem sombra de dúvida, sensibilizaria Antonio Candido de forma muito particular, porque, os que sabem dele, identificam o papel decisivo desempenhado pela antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras desta Universidade na formação do jovem destinado à medicina que, após longas e sofridas equações domésticas, se encaminhou para o Direito, no Largo São Francisco, condição que lhe abriria a possibilidade de cursar simultaneamente Ciências Sociais em uma instituição de ensino recém-criada, que alguns combatiam e outros não alcançavam bem a que tinha vindo”.
O reitor da USP lamentou que a outorga do título não tivesse sido feita ainda em vida ao homenageado e que, em função da pandemia, a cerimônia de entrega não pudesse ser feita com todos os rituais acadêmicos festivos merecidos por “este nosso grande professor Antonio Candido”. “Nossos antecessores eram muito ousados. A então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, quando da sua criação, em 1934, recebeu quase 40 cientistas do exterior, que imaginavam que a nova Universidade não fosse somente uma junção de unidades. Eles imaginaram que a faculdade seria responsável por amalgamar todas essas unidades por meio da pesquisa. E tivemos o privilégio de manter em seus quadros um professor do gabarito de Antonio Candido de Mello e Souza. Com isso, a Universidade se fortaleceu e pôde contribuir para o desenvolvimento da nossa sociedade e de nosso país”, ressaltou.
O homenageado
Escritor, ensaísta e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Antonio Candido de Mello e Souza foi um dos mais importantes críticos literários brasileiros. Em 1937, iniciou os cursos de Direito e de Ciências Sociais na USP. Formou-se em Ciências Sociais em 1941. Tornou-se livre-docente de Literatura Brasileira em 1945 e doutor em Ciências em 1954.
Em 1974, passou a professor titular de Teoria Literária e Literatura Comparada, cargo em que se aposentou em 1978, mas continuou atuando na pós-graduação e orientando trabalhos acadêmicos até 1992.
De suas obras de crítica literária, a mais importante é Formação da Literatura Brasileira (Momentos Decisivos), de 1959. Como ensaio sociológico, é considerado clássico seu estudo sobre o caipira paulista e sua transformação, Os Parceiros do Rio Bonito (1964). Sua trajetória intelectual transitou por diversas áreas das humanidades, abordando a literatura com um olhar amplo, analisando o valor estético de uma obra e também seus elementos históricos, sociais e psicológicos.
Recebeu o título de Professor Emérito da FFLCH e da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), e o de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Morreu em 12 de maio de 2017.
Assista, a seguir, à íntegra da cerimônia, que contou com a presença do diretor da FFLCH, Paulo Martins; da professora da faculdade e filha de Candido, Laura de Mello e Souza; do vice-reitor da USP, Antonio Carlos Hernandes; e do secretário geral da Universidade, Pedro Vitoriano de Oliveira.
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