No Engenho dos Erasmos, curso vai mostrar os hábitos da Santos antiga

A moda, o consumo e os costumes na cidade do litoral paulista nos séculos 19 e 20 vão ser discutidos por especialistas nos dias 8, 15, 22 e 29 de outubro

 04/10/2016 - Publicado há 8 anos
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Santos no começo do século 20, em tela de Benedito Calixto – Foto: Reprodução

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Durante os séculos 19 e 20, a cidade de Santos era fundamental para a economia do País. O Porto de Santos recebia diariamente produtos da Europa, que abasteciam o mercado local e eram requisitados pela população da cidade. Para falar sobre esse período, o Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos da USP, em Santos, promoverá neste mês o Curso de Difusão História de Santos nos Séculos 19 e 20: Moda, Consumo e Sociabilidades, em que serão abordados assuntos relacionados à história de Santos e sua formação social. Gratuito, o curso será realizado nos dias 8, 15, 22 e 29 de outubro, sempre aos sábados, das 9h às 13h. Os professores serão Wilma Therezinha F. de Andrade (dia 8), Gilvan Leite (dia 15), Joana Monteleone (dia 22) e Carlos Finochio (dia 29).

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O centro da cidade no início do século 20 – Foto: Reprodução

Para começar o curso, a professora Wilma irá explicar como foi o surgimento da cidade de Santos. Os colonizadores portugueses chegaram ao litoral paulista em 1502. Foi uma colonização exploradora cartográfica – com objetivo de descrever a terra encontrada -, comandada por Gonçalo Coelho e com a presença de Américo Vespúcio. Por meio de expedições, Coelho descobriu uma ilha e decidiu chamá-la de Ilha de São Sebastião. Depois, encontrou outra ilha, que foi nomeada de Porto São Vicente. “A partir desse momento, a região de São Vicente passa a ser frequentada por navios, principalmente espanhóis, que iam ao Rio da Prata para passar pelo Estreito de Magalhães e chegar às Índias para pegar especiarias”, diz Wilma.

Após a fase de pré-colonização, começa o cultivo do açúcar, que foi o principal produto de exportação da colônia até a primeira metade do século 19. “A elite era formada pelos comerciantes e havia uma concentração de pessoas que moravam perto do porto, como artesãos, funcionários do porto e escravos, que eram usados para diversos tipos de serviço”, diz o professor Gilvan Leite. A partir da segunda metade do século 19, começa o predomínio do café e a cidade passa a sofrer mudanças urbanas e sociais, que ficam ainda mais evidentes com o fim da escravidão.

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O Porto de Santos – Foto: Reprodução

Nos primeiros anos do século 19, diferentes cidades comercializavam com Santos. Na segunda década do século, o Rio de Janeiro começa a ter destaque entre os parceiros comerciais e torna-se responsável por 80% das movimentações do Porto de Santos. Entre 1801 e 1819 a cidade de Santos teve um crescimento de 858,54% no comércio exportador.
A indústria ainda não tinha força no Brasil. Por isso era necessário importar itens de outros países, geralmente da Inglaterra e França. “Era comum os brasileiros comprarem produtos por meio de catálogos de lojas estrangeiras que tinham todo tipo de produtos, como, por exemplo, formas de bolo, facas, cartolas masculinas e lingerie”, diz o professor Carlos Finochio.

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Ponta da Praia, Santos – Foto: Reprodução

Segundo Gilvan Leite, a população de Santos também sofreu alterações nesse período. Em 1798, a cidade contava com 3.370 pessoas e em 1836 o número aumentou para 5.857, um crescimento de 73,79%. Nesse mesmo tempo analisado, a população livre teve um crescimento de 76,03% e a população negra cresceu 7,88%. Isso mostra que a população cresceu como um todo, mas com um equilíbrio dos grupos que a compunham. Em 1872, eram 9.121 habitantes, sendo 7.585 livres e 1.606 escravos.

No século 20, o comércio continua e fica ainda maior como principal agrupamento social e econômico da cidade baseado no trabalho livre e o surgimento de uma cidade extremamente cosmopolita e urbanizada, com muitos conflitos sociais em virtude dos movimentos operários que se desenvolvem no Porto de Santos. “A cidade se divide majoritariamente em dois grupos. Continuam os grandes comerciantes, que são chamados de ‘comissários de café’, pessoas que fazem a intermediação do café que vem do interior de São Paulo e a exportação, e os trabalhadores urbanos. Grande parte da classe operária estava ligada aos trabalhos no porto”, diz Leite.

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Na segunda metade do século 20, expansão urbana se intensificou – Foto: Reprodução

Como forma de lazer, a sociedade burguesa tinha o costume de promover festas de gala com jantares e danças, sempre muito bem elaboradas. O esporte também começa a se destacar com o surgimento de dois clubes esportivos na cidade: Clube XV e Tênis Clube de Santos. Como os equipamentos para praticar esportes custavam muito dinheiro, essa era uma atividade voltada à elite. “Para quem não pertencia à burguesia e procurava algum lazer, existiam as festas populares, passeio na praia e início do futebol de várzea”, diz Finochio.

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O centro de Santos nas primeiras décadas do século 20 – Foto: Reprodução

A moda sofreu muitas mudanças ao longo dos anos mas sempre com influências europeias. As roupas simbolizavam status social e poder aquisitivo de quem as vestia. Quem tinha mais dinheiro, fazia encomendas de roupas em ateliês famosos e com tecidos caros. “Os tecidos mais usados vão depender do período, mas algodão, seda, musseline e tafetá eram muito populares”, diz a professora Joana Monteleone.

Nessa época, as mulheres costumavam passar a maior parte do tempo em casa, então não precisavam se preocupar em vestir roupas chiques e geralmente usavam apenas um robe. Mas quando saíam para ir a festas ou à igreja, era comum elas usarem espartilhos e vestidos pesados, com muitas camadas de tecidos. Segundo Joana, o vestuário dos homens tinha grandes influências militares. “Os homens usavam fraques pretos e cartolas, bengalas, relógios de bolso tipo cebolão. A ênfase estava no corte e não nas cores, que ficavam relegadas aos uniformes militares, às comendas e medalhas.”

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O Curso de Difusão História de Santos nos Séculos 19 e 20: Moda, Consumo e Sociabilidades ocorrerá nos dias 8, 15, 22 e 29 de outubro, sábados, das 9h às 13h, no Monumento Nacional Ruínas Engenho São Jorge dos Erasmos da USP (rua Alan Ciber Pinto, 96, em Santos). As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 6 de outubro ou enquanto houver vagas pelo telefone (13) 3229-2703 ou pelo e-mail resjesantos@gmail.com.

 


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