A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou que Duda Luizelli será a nova coordenadora da seleção brasileira feminina e que Aline Pellegrino assumirá a coordenação de Competições Femininas. A presença de mulheres na gestão da entidade é uma novidade e representa mais um passo na busca pela igualdade de gênero na modalidade mais popular do País. Na avaliação de Giovana Capucim e Silva, pesquisadora da história do futebol feminino na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, a medida é positiva, mas só obterá sucesso se a CBF “der os recursos que as executivas precisam para fazer o projeto funcionar”.
“Outro exemplo de algo que parecia que ia, mas não foi, é a contratação da Emily, a primeira treinadora mulher da seleção. Ela prometeu uma renovação e, após alguns empates, ela foi mandada embora. No lugar entrou o Vadão, que colecionou derrotas e não foi demitido. O que mostra que não havia um real interesse em deixá-la à frente da seleção”, relembra a especialista.
As contratações, anunciadas pelo presidente da CBF, Rogério Caboclo, fazem parte de um projeto que visa, a longo prazo, a alavancar o futebol feminino no Brasil. Desde 2019, por exemplo, a confederação exige que todos os times que disputam a série A do Brasileirão mantenham uma equipe feminina de futebol, tanto adulta quanto de base. Além disso, a seleção brasileira feminina é, desde o ano passado, treinada por uma mulher: a sueca Pia Sundberg.
Por sinal, o ano de 2019 é um grande divisor de águas na história do futebol feminino brasileiro, devido à Copa do Mundo. No Brasil, as transmissões dos jogos da seleção alcançaram picos de 30 milhões de telespectadores. Os recordes de audiência, além de mostrarem que a modalidade tem, sim, apelo popular, jogaram luz sobre o fato de que, em termos de planejamento, o futebol feminino brasileiro estava extremamente defasado.
“Ela [Copa] é a prova de que o futebol brasileiro, que já chegou em finais, semifinais de olimpíadas e Copa do Mundo em coisa de oito anos atrás, não consegue mais competir. Isso porque equipes como a própria França evoluíram muito, e os lapsos de genialidade da Marta, da Formiga, da Cristiane não dão mais conta. É um nível que o Brasil não pode acompanhar sem a organização que a Aline e a Duda querem trazer, que a Emily tentou trazer”, comenta Giovana.
Apesar de tal reformulação ser um passo importante em busca do crescimento do futebol feminino brasileiro, Giovana alerta que “a CBF várias vezes prometeu mundos e fundos para o futebol feminino e nem sempre isso se converteu em realidade. Por exemplo, quando houve a criação da seleção permanente, um selecionado de jogadoras que atuavam no Brasil. Elas iam ficar só treinando e só jogariam pela seleção e ganhariam um salário de R$ 9 mil registrado em carteira. Só que, com o passar do tempo, isso não se converteu em realidade”.