Projeto da USP registra os sons da quarentena nas ruas e janelas da cidade

Coordenado pela professora Giselle Beiguelman, projeto Janelas Desobedientes coletou um banco com quase 2 mil áudios que registram mudanças na paisagem sonora durante isolamento e a efervescência política que eclodiu nas cidades

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 22/07/2020 - Publicado há 4 anos
Jornal da USP +
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Projeto da USP registra os sons da quarentena nas ruas e janelas da cidade
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Dentre as muitas mudanças trazidas pela longa e inconstante quarentena que vivemos, uma das mais marcantes tem sido a transformação da paisagem sonora das nossas grandes cidades. O barulho constante de buzinas diminuiu e, em grandes centros urbanos, é possível até mesmo ouvir o canto dos pássaros no meio do dia. Entretanto, em diferentes cantos da mesma metrópole, o isolamento social causou um aumento dos ruídos do cotidiano que, em bairros distintos, são caracterizados por crianças brincando nas ruas, vendedores ambulantes disputando espaço e música alta das janelas.

Nas primeiras semanas da quarentena, uma turma da pós-graduação em Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP começou a discutir, em encontros on-line, os efeitos da mudança na paisagem sonora ao nosso redor. Juntos, os pesquisadores teorizaram sobre como a quarentena se projeta de forma particular em cada região da cidade. Dessa discussão surgiu o projeto Janelas Desobedientes, que resultou em um banco de áudios com quase 2 mil arquivos.

Para a professora Giselle Beiguelman, coordenadora do projeto, “o som é um documento da multiplicidade que o isolamento social projeta no espaço urbano”. Ela e seus alunos se comprometeram a captar os sons da cidade, cada um da sua casa, a princípio em três faixas horárias do dia.

Após semanas de coleta de registros, para a professora os áudios demonstraram, entre diversas outras conclusões, como a pandemia causada pelo novo coronavírus adquiriu contornos ideológicos e políticos no Brasil, destacando a disputa de narrativa anunciada pelos gritos e panelaços, que aconteciam em reação a decisões, demissões ou pronunciamentos do Executivo.

De acordo com Giselle, “o som é a membrana mais porosa para se compreender as dinâmicas da cultura urbana em um período tão particular como este que nós estamos vivendo”. Os áudios coletados serão organizados numa plataforma que será disponibilizada em breve na internet.

Leia mais: Como são os sons da cidade na quarentena?

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Ficha técnica

Reportagem: Giovanna Stael
Produção: Denis Pacheco
Edição: Guilherme Fiorentini


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