Auxílio emergencial é importante, mas não resolve crise

Ao analisar projeções do Banco Mundial para a economia brasileira, Paulo Feldmann diz ser necessário investir também em infraestrutura e combater a pandemia e a falta de governabilidade

 16/06/2020 - Publicado há 4 anos

A maior pandemia do século 21 trouxe consigo, além da crise sanitária e de saúde, uma crise econômica generalizada. O Brasil, país que já se aproxima de quase 1 milhão de casos confirmados da covid-19 e 45 mil vidas perdidas, está com péssimas projeções do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020, emitidas por órgãos internacionais como o Banco Mundial, que aponta queda de 8%, e a Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE), com previsão de diminuição de até 9,1%.

Neste cenário, há escolhas a serem feitas para amenizar os impactos econômicos negativos, que vêm justamente no momento em que ainda não se sabe até quando se estenderá a crise provocada pela pandemia no Brasil. “Essas projeções são ruins, mas é difícil prever esse número. Eu acredito que nós [brasileiros] realmente teremos o pior ano da nossa história. A projeção do Banco Mundial parece ser a mais realista”, observa Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar.

De acordo com o economista, como ainda estamos na primeira onda de contágio, é possível que tenhamos mais uma pela frente, como já é reportado em outros países. As incertezas sobre o futuro são geradas justamente porque ainda não atingimos o pico de transmissões desta primeira onda, possivelmente devido às medidas de isolamento social, que não surtiram efeito esperado, somada à precoce flexibilização e liberação de comércio e circulação de pessoas. Um contraponto importante foi ativado com a criação do Auxílio Emergencial para a população mais pobre, que move as economias locais.

“Isso se irradia pela economia e ela volta a funcionar. O Auxílio Emergencial funciona como vetor que impede uma crise maior”, avalia Feldmann. Para ele, o programa deveria ser estendido de forma inteligente até, pelo menos, dezembro de 2020. Isso porque já se sabe que muitas pessoas estão recebendo o valor de R$ 600 de forma indevida, por pertencerem a uma camada da sociedade com relativa estabilização financeira. “É fraude e deveria ser coibido.”

Pessoas formam filas enormes em frente às agências da Caixa para resolver problemas com Auxílio Emergencial – Imagem: Roberto Parizotti/FotosPúblicas

Outra grande saída para a crise é o investimento em infraestrutura, muito deficitária no Brasil, com carência de boas malhas de ferro e aeroportuárias. “Temos estudos na FEA que mostram que a cada R$ 80 bilhões, 1% do PIB investido em infraestrutura, são gerados 3 milhões de empregos.” Feldmann reforça que o investimento de 4% do PIB, em torno de R$ 320 bilhões, geraria 12 milhões de empregos e resolveria o problema da infraestrutura e do desemprego.

Mas, para que seja feito isso, é preciso que um dos principais entraves atuais, além da pandemia, seja combatido: a falta de governabilidade. O governo federal, os estaduais e municipais nunca estiveram em consonância no combate da pandemia. “Essa falta de governabilidade acontece no Brasil inteiro e é fruto da situação política completamente instável. Tudo isso tem imediata repercussão no exterior”, critica Paulo Feldmann. A consequência é a fuga do investidor estrangeiro, que não vê seguridade em investir aqui, não só por problemas do combate à pandemia, mas também com a já manchada imagem do País em relação à falta de proteção do meio ambiente pelo governo Bolsonaro. Sem contar as frequentes críticas brasileiras à China, nosso principal parceiro comercial, vindas inclusive de ministros de Estado, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Ouça a entrevista completa no player acima.


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