“Manhã com Bach” mostra obras da época de Weimar

Programa apresenta uma peça para órgão e uma cantata, compostas entre 1708 e 1717

 12/01/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 19/02/2019 as 14:26
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A edição do programa Manhã com Bach que foi ao ar nos dias 12 e 13 de janeiro de 2019, pela Rádio USP (93,7 MHz), apresentou a Fantasia e Fuga em Dó Menor (BWV 562), para órgão, e a cantata Ich hatte viel Bekümmernis, “Eu tive muitas aflições” (BWV 21), duas obras compostas por Johann Sebastian Bach (1685-1750) no período em que atuou como músico no corte de Weimar, entre 1708 e 1717. A peça para órgão foi interpretada pelo organista holandês Ton Koopmann e a cantata foi executada pela Chapelle Royale e pelo Collegium Vocale de Gent, na Bélgica, sob a regência de Philippe Herreweghe.

Ouça nos links acima a íntegra do programa.

Em razão das férias, esta edição de Manhã com Bach reapresentou o programa transmitido nos dias 24 e 25 de fevereiro de 2018.

Bach em Weimar

Bach foi contratado pelo duque Wilhelm Ernst, de Weimar, em julho de 1708, para ser organista e violinista da corte. Nos seis primeiros anos, de 1708 a 1714, o compositor se dedicou principalmente à composição de música para órgão.

Em março de 1714, Bach foi nomeado pelo duque mestre de concerto da corte. Nessa nova função, ele tinha o compromisso de compor pelo menos uma cantata por mês.

Como resultado do seu trabalho em Weimar, Bach legou o maior e melhor repertório para órgão já produzido e ainda cerca de 20 cantatas sacras, compostas para serem executadas na capela da corte de Weimar, comandada por um rigoroso luterano ortodoxo, o duque Wilhelm Ernst.

É dessa época também a composição da primeira cantata secular de Bach, a cantata Was mir behagt, ist nur die muntre Jagd, “O que me agrada é só a alegre caça” (BWV 208), conhecida como Cantata da Caça, criada em homenagem ao duque Christian de Weissenfels.

Em Weimar nasceram os primeiros filhos de Bach com Maria Barbara Bach, com quem ele se casara no ano anterior à sua chegada à corte. Entre esses rebentos estão a filha mais velha do compositor, Catharina Dorothea, dois gêmeos que não sobreviveram – o menino nasceu morto e a menina morreu três semanas depois – e dois meninos que se tornariam grandes músicos, Wilhelm Friedemann e Carl Philipp Emanuel.

Em Weimar Bach criou a maior parte de sua vasta obra para órgão. A maioria das peças que compõem o Orgelbüchlein, o Livrinho de Órgão, foi composta naquela corte, assim como a quase totalidade das centenas de prelúdios e fugas para órgão hoje preservadas.

A cantata Ich hatte viel Bekümmernis

A maior parte das cerca de 20 cantatas compostas por Bach em Weimar tem texto de Salomon Franck, o mais famoso poeta daquela corte. É dele a letra da cantata Ich hatte viel Bekümmernis, “Eu tive muitas aflições” (BWV 21), apresentada no programa.

Concluída em 1714, essa é uma das mais profundas cantatas de Bach. Ela expressa as dores, aflições e angústias que o ser humano enfrenta neste mundo, passando pelo sentimento de desamparo, até encontrar em Deus o consolo, o conforto e a salvação.

Com 38 minutos de duração, essa cantata está dividida em duas partes.

Na primeira parte, prevalece o lamento do ser humano que sofre aflições. Após o primeiro movimento, formado por uma belíssima e tocante sinfonia, e depois do coro inicial, uma ária para soprano, no terceiro movimento, expõe a miséria humana, cheia de suspiros, lágrimas, preocupações, necessidades, medo e morte, que assolam o coração. No quarto movimento, um recitativo, a alma se sente abandonada por Deus:

Ach! Kennst du nicht dein Kind?                                       Ah, tu não conheces o teu filho?

Ach! Hörst du nicht das Klagen                                        Ah, tu não ouves o lamento

Von denen, die dir sind                                                       Dos que estão ligados a ti

Mit Bund und Treu verwandt?                                         Em união e lealdade?

Os lamentos continuam no quinto movimento, uma ária para tenor, em que se diz que “um mar de tristezas quer enfraquecer meu espírito e minha vida”.

No sexto e último movimento dessa primeira parte, o coro consola a alma que sofre citando o Salmo 42: “Por que estás abatida, ó minha alma? Espera em Deus, pois ainda o louvarei”.

Na segunda parte da cantata, ocorre um diálogo entre Jesus e a alma humana. Esse tipo de diálogo é uma característica dos textos de Salomon Frank.

Diz a alma sofrida:

Ach, Jesu, meine Ruh,                                                          Ah, Jesus, meu descanso

Mein Licht, wo bleibst du?                                                  Minha luz, onde tu estás?

Ao que Jesus responde:

O, Seele, sieh! Ich bin bei dir                                             Ó, alma, vê! Eu estou em ti

Bei mir?                                                                                 Em mim?

Hier ist ja lauter Nacht                                                     Aqui é alta noite

Ich bin dein treuer Freund                                              Eu sou teu fiel amigo

Der auch im Dunkeln wacht                                           Que vigia mesmo no escuro

Finalmente, no último movimento, o coro canta um hino de louvor a Deus pelo livramento das angústias.

O fim do período de Bach em Weimar foi tempestuoso. Em agosto de 1717, ele recebeu um convite do príncipe Leopold, de Köthen, para dirigir a orquestra daquela corte.

Bach solicitou demissão do seu cargo na corte de Weimar, mas o duque Wilhelm Ernst não aceitou o pedido. Bach foi tão insistente que o duque, furioso, mandou prender Bach na torre do castelo da corte. O compositor ficou preso ali durante 26 dias, de 6 de novembro a 2 de dezembro de 1717. Então o duque despediu com desonras o compositor, que se transferiu para Köthen.

Manhã com Bach é transmitido sempre aos sábados, às 9 horas, com reapresentação no domingo, também às 9 horas, inclusive via internet, pela Rádio USP (93,7 MHz).


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