HC realiza primeiro transplante de útero da América Latina

O transplante de útero, de doadora falecida realizado no HC, é o terceiro no mundo; os outros dois aconteceram nos Estados Unidos e na Turquia

 06/10/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 05/12/2018 às 16:46

Ouça a entrevista do professor Edmund Chada Baracat, diretor da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas, à repórter Simone Lemos:

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Equipe médica do HC que realizou o transplante de útero / Foto: Portal do Governo do Estado/SP
Equipe médica do HC que realizou o transplante de útero – Foto: Reprodução via Portal do Governo do Estado/SP

A equipe de ginecologia da Divisão de Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em colaboração com o grupo de transplante hepático da instituição, realizou o primeiro transplante de útero de doadora falecida bem-sucedido da América Latina, e o terceiro no mundo. A paciente que recebeu o órgão não tinha útero, o que a impedia de engravidar. O dr. Edmund Chada Baracat, diretor da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas, em entrevista à repórter Simone Lemos, frisa que esse é um projeto experimental e que, ao menos por enquanto, não está aberto à população em geral, embora tenha sido aprovado em todas as instâncias éticas do HC da Faculdade de Medicina e do Conep (Conselho Nacional de Ética e Pesquisa) e conte com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Outros dois transplantes similares foram realizados em Cleveland (EUA) e na Turquia. No procedimento de Cleveland, o útero teve de ser retirado logo após a cirurgia, enquanto no segundo caso, na Turquia, a paciente sofreu um aborto espontâneo. A Suécia também realizou transplantes de útero, mas de doadora viva  – em um desses casos, a mãe doou o órgão para a filha.

Instituto Central do Hospital das Clínicas de São Paulo - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Instituto Central do Hospital das Clínicas de São Paulo – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

De acordo com o dr. Baracat, o procedimento foi  idealizado tanto para ser realizado em ovelhas quanto em seres humanos, e o plano inicial prevê a realização do transplante em três pacientes, todas elas, preferencialmente, com ausência de útero. Outra condição é a de que a ausência do órgão seja congênita e não motivada por algum fator externo. O procedimento é longo – a cirurgia para implante do órgão levou um tempo estimado de dez horas, sem contar o tempo necessário para a retirada do órgão da doadora que faleceu.

Como todo procedimento cirúrgico, este também oferece riscos. Além do risco de rejeição, é preciso acompanhar como será a receptividade do útero na paciente, analisando as condições do órgão antes que possa receber o embrião. O dr. Baracat estima a perspectiva de gravidez em um ano após a realização do procedimento. “É uma condição sine qua non para o procedimento que a paciente tenha condições de gestar.” Além da demora, o procedimento também é dispendioso.

Segundo o especialista, o transplante de útero, recém-realizado no HC, mostra o papel inovador que a Faculdade de Medicina da USP possui, o que, de certo modo, não chega a surpreender. “O Brasil é um país já consagrado na realização de transplantes, e o transplante uterino coloca o País em condição de realce, tendo em vista que os dois casos já realizados de transplante de doadora falecida não foram bem-sucedidos”, finaliza o dr. Baracat, não sem antes acrescentar que um transplante dessa natureza é, psicologicamente, muito importante para a mulher.


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