USP oferece tratamento odontológico com sedação a pacientes com necessidades especiais

Parceria entre a Faculdade de Odontologia e o Hospital Universitário possibilita o atendimento de pacientes que não permitem a manipulação odontológica ambulatorial convencional

 07/02/2022 - Publicado há 2 anos
Sedação permite tratamento odontológico de pacientes com necessidades especiais – Foto: Divulgação / VanguardDentistry

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O tratamento odontológico de pacientes com necessidades especiais (PNE) é uma especialidade que não conta com número suficiente de profissionais e centros de atendimento que contemplem a demanda da população brasileira. Segundo o último censo demográfico, realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais de 45 milhões de pessoas com alguma necessidade especial (visual, auditiva, motora, mental ou múltipla) em situação desassistida. Junto à alta demanda de pacientes, apenas 718 cirurgiões-dentistas, de 328 mil registrados no Conselho Federal de Odontologia (CFO), possuem especialização em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais.

Mesmo que o Brasil disponha de legislação que garante às pessoas com deficiência o direito de acesso à saúde, a defasagem de profissionais especializados na área ocorre tanto em clínicas privadas quanto na rede pública. A saúde bucal também acaba negligenciada pelo fato do paciente dar prioridade a outros atendimentos, como fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia.

Para atender a este público, a Faculdade de Odontologia (FO) da USP desenvolve desde 1989 um trabalho de odontologia ambulatorial especializada, além de realizar atividades de ensino para graduação e pós-graduação, junto com pesquisa científica e clínica na área. As atividades são realizadas pelo Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape), que elaborou um projeto de tratamento odontológico sob sedação para pacientes com necessidades especiais não colaboradores.

“Há 13 anos fomos contemplados com um projeto de políticas públicas da Fapesp, cujo objetivo era implantar esse tipo de tratamento de sedação para pacientes com distúrbios mentais. Trabalhamos ininterruptamente tentando solucionar cada entrave encontrado, que foram muitos, para que fosse possível implantar esse tipo de atendimento nas dependências da FO, ou seja, fora do ambiente hospitalar”, conta a professora Marina Helena Cury Gallottini, docente titular da disciplina de Patologia Oral e Maxilofacial, que coordena o Cape e também atua na Secretaria Geral da USP.

Como a sedação é um procedimento regulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e exige uma série de medidas relacionadas à infraestrutura e à contratação de determinados profissionais para aprovação da contenção química de forma segura, o Cape deslocou a sede do projeto para o Hospital Universitário (HU) da USP e no final de 2021 pôde colocar em prática o primeiro tratamento odontológico sob sedação ambulatorial.

O paciente, de 34 anos e com autismo, estava com “dor de dente” há muitos meses, mas não permitia que os dentistas sequer olhassem a sua boca. “Ele foi sedado pela anestesista Eloisa Bonetti Espada, que faz parte do projeto, e em 90 minutos resolvemos o problema”, relatou Marina.

Marina Helena Cury Gallottini, professora da Faculdade de Odontologia da USP e coordenadora do Cape – Foto: Divulgação/FO

O procedimento de sedação agora disponível no Cape como tratamento associado ao HU, apresenta diferenças quanto à conhecida anestesia geral. Enquanto a segunda utiliza medicamentos mais potentes, colocando o paciente em estado de inconsciência, necessitando de aparelhos para respirar, na sedação o paciente passa a maior parte do procedimento dormindo, respirando normalmente sem auxílio de qualquer dispositivo. “Na nossa experiência, os indivíduos com autismo compõem o grupo mais numeroso de pacientes com necessidade de tratamento odontológico sob narcose. Mas depende de uma avaliação da extensão e complexidade do procedimento odontológico, além do quadro de saúde do paciente, para escolhermos entre a sedação ou a anestesia geral”, explica Marina.

O tipo de contenção é variável, de modo que procedimentos mais rápidos e simples são facilmente realizados no paciente não colaborador, com uma sedação moderada. “Às vezes há a necessidade, por exemplo, de realizar uma raspagem  periodontal, realizar uma exodontia simples, ou fazer uma restauração. Esses tipos de procedimentos odontológicos podem ser muito complicados sem a colaboração. Com a sedação, realiza-se com calma, sem que o paciente fique traumatizado por ter sido contido fisicamente”, conclui.
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Área do Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape) – Foto: Divulgação/FO USP

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Técnica fundamental para alguns públicos

A técnica de sedação é fundamental para que um centro odontológico especializado no atendimento de pacientes com necessidades especiais atue de forma plena. “Existe uma parcela grande da população que não permite a manipulação odontológica ambulatorial convencional. Essa população vai desde crianças e adultos fóbicos, passando pelos indivíduos com transtorno do espectro autista, paralisia cerebral, doenças e síndromes que afetam o comportamento e o desenvolvimento neurológico”, diz a coordenadora do Cape.

Nestes casos, uma primeira abordagem é a contenção física, procedimento que hoje não é considerado o método mais adequado segundo diversos trabalhos científicos, por ser prejudicial e estressante tanto para o paciente quanto para o cirurgião-dentista. A segunda alternativa utilizada pela odontologia é a contenção química, feita através de sedação do paciente, conferindo conforto para o paciente e sua família, além de fornecer maior segurança aos profissionais envolvidos.

“Queremos possibilitar ao paciente especial não colaborativo a oportunidade de receber tratamento odontológico humano e de qualidade, proporcionando conforto e saúde. Certamente a família que cuida desse paciente se beneficiará muito, uma vez que vai se tranquilizar ao saber que seu ente querido não está mais com dor nem qualquer infecção”, destaca a coordenadora.

A parceria entre a FO e o HU contou com apoio dos gestores do hospital Paulo Francisco Ramos Margarido e  Simone dos Reis Brandão da Silveira, além dos professores Rodney Garcia Rocha e Giulio Gavini, da Faculdade de Odontologia.

Sobre o Cape

O Centro de Atendimento a Pacientes Especiais (Cape) oferece tratamento odontológico gratuito para pessoas com doenças infecto-contagiosas, sistêmicas e neuromotoras, incluindo pacientes HIV positivos, com cardiopatologia, hepatopatologia, deficiências físicas e mentais e síndromes de malformação. O tratamento especializado é oferecido nas áreas de prevenção, semiologia, periodontia, dentística, cirurgia, endodontia, prótese dental e ortopedia funcional dos maxilares.

A triagem para novos pacientes acontece anualmente, para saber mais acesse a página do Cape neste link, ou entre em contato pelo telefone (11) 3091-7838 ou e-mail cape@usp.br.

Clique no player abaixo para conhecer o Cape:


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Texto adaptado de Gabriel Cillo, da FO-USP

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