Profissionais de saúde poderão examinar fundo de olho com o celular. Vão precisar apenas de um dispositivo que acopla lentes à câmera do aparelho e fixa o rosto do paciente. A ferramenta já existe, foi desenvolvida por alunos e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, batizada de Smart Eye Cap, e deve chegar em breve ao mercado.
A ideia de conferir mais um uso ao celular surgiu em uma aula de oftalmoscopia (técnica que observa fundo de olho), ministrada pelo professor Rodrigo Jorge, durante o I Simpósio da Liga de Oftalmologia da FMRP em 2017. “Eu comentei que a gente podia documentar o fundo de olho com um celular e, depois da aula, dois alunos vieram me procurar”, conta Jorge.
Alunos de graduação da FMRP na época, os médicos generalistas Carlos Augusto Servato Borges e Igor Fernando Almeida Teodoro, discutiram a ideia com o professor e partiram para a ação. Com a ajuda da Oficina de Precisão, da Prefeitura do Campus USP em Ribeirão Preto, obtiveram um protótipo que foi aperfeiçoado depois com outra parceira, a empresa Viewmed Equipamentos Médicos.
“Com sua mecânica e sua óptica, o dispositivo permite que a câmera do celular foque o fundo de olho e também que tire foto do segmento anterior do olho, da córnea, do cristalino, da íris, da conjuntiva”, informa o professor Jorge. Na verdade, garante, o celular é acoplado à estrutura do novo equipamento, fixando as distâncias e mobilizando a imagem para garantir o foco. Uma das principais dificuldades encontradas pelos desenvolvedores do Smart Eye Cap foi a estabilização da imagem, já que “uma mínima variação pode comprometer todo o processo diagnóstico”, acrescenta o oftalmologista Borges.
Agora, aprovada cientificamente (estudo comprovando eficiência publicado no International Journal of Retina and Vitreous) e patenteada, a novidade passa pelos últimos ajustes e está com previsão de lançamento no mercado para setembro próximo.
Acessibilidade diagnóstica com pouco recurso tecnológico
“Qualquer médico, qualquer profissional de saúde que deseja avaliar o fundo de olho dos pacientes” pode utilizar a nova ferramenta, adianta o ex-aluno e atual médico Teodoro, que informa existir uma série de doenças que acometem o fundo do olho (neurológicas, endocrinológicas e outras doenças sistêmicas). “Qualquer médico que quer avaliar a repercussão dessas doenças no fundo do olho se beneficiaria do dispositivo”, insiste o médico.
A grande vantagem, continua Teodoro, é o baixo custo. Hoje, as tecnologias existentes no mercado para este tipo de exame são muito caras. “A nossa solução permite que a avaliação do fundo de olho de doenças seja levado para regiões de baixa renda, com poucos recursos, com baixo aparato tecnológico”, diz.
Por Vinícius Botelho e Ferraz Jr
Ouça no player abaixo entrevista com o oftalmologista Carlos Augusto Servato Borges, o médico generalista Igor Fernando Almeida Teodoro e o professor Rodrigo Jorge ao Jornal da USP no Ar – Edição Regional.