Publicação da USP traz análise sobre evolução no consumo de alimentos nas últimas duas décadas

A revista “Hortifruti Brasil”, publicação de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, faz uma análise detalhada sobre a evolução de consumo de alimentos nas últimas décadas, além de tendências e projeções para os próximos anos, até 2040

 15/03/2024 - Publicado há 2 meses
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil via Fotos Públicas

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A edição de março da revista Hortifruti Brasil, publicação do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, traz uma análise detalhada sobre a evolução do consumo de alimentos nas últimas duas décadas (anos 2000 e 2010) e na atual (anos 2020). Além disso, a equipe também abordou as tendências e expectativas para os próximos anos (projeções até 2040), e fica evidente que o futuro tende a ser promissor ao setor de HF. “A avaliação é que saímos de um forte consumo de ultraprocessados e caminhamos para uma evolução mais consciente sobre alimentação e o seu processo de produção”, afirmam as organizadoras Daiana Braga e Renata Meneses, no editorial da revista. A publicação está disponível gratuitamente neste link

“Nos anos 2000, o brasileiro aumentou o consumo de refeições prontas e elevou o gasto com a alimentação fora do lar. Diante disso, a indústria de alimentos se movimentou e passou a ofertar um vasto menu de produtos processados e ultraprocessados, cenário que pesou forte contra o setor de frutas e hortaliças frescas”, informam as organizadoras. E continuam: “Já em 2010, o uso das redes sociais permitiu que as pessoas expusessem sua opinião e também ouvissem o que outros tinham a dizer”, fase em que surgem os influencers iniciando um movimento para alavancar vendas de grandes marcas. “Paralelo a isso, também nas redes sociais, surgem discussões sobre a qualidade do alimento que as pessoas consomem e o despertar para a ‘comida de verdade’”, destacam. 

Por sua vez, nos anos 2020, com a pandemia de covid-19 e os efeitos de pós-pandemia, e a conscientização das consequências das mudanças climáticas os consumidores passaram a se preocupar com os hábitos de alimentação e de vida e também com o modo de produção dos alimentos, explicam. “E essa preocupação deverá permanecer em pauta pelo menos até 2040, com ações coletivas entre consumidores, setor produtivo e empresas de alimentos”, revelam, acrescentando que o bem-estar, a saúde mental e o uso cada vez maior de inteligência artificial também estarão no radar. “O fato de a população buscar bem-estar e saúde mental traz ao setor de HF muitas vantagens, já que este continua sendo um importante fornecedor de alimentos seguros e saudáveis. Mas o produtor precisa colocar no papel como ele conseguirá lidar com as intempéries climáticas e o quanto isso impactará na oferta e nos preços”, alertam. 

Edição da revista Hortifruti faz balanço sobre consumo de alimentos no Brasil – Foto: Reprodução/HF Brasil

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Analisando o setor

A equipe estudou diferentes relatórios sobre tendências de consumo elaborados por importantes organizações e consultorias globais, como Euromonitor, Mintel, FAO/ONU (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), entre outras. Assim, foi possível observar quais são as tendências para o setor hortifrutícola e também as oportunidades de negócios. “Avaliando o consumo de alimentos nos últimos 20 anos e as perspectivas para as próximas décadas, o saldo é positivo.”

Ainda segundo a publicação, as questões ambientais devem ter ainda mais prioridade nos próximos anos: “O consumidor acredita que ações sustentáveis individuais são insuficientes e já transfere a responsabilidade às grandes empresas e aos órgãos governamentais. De fato, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), em seu relatório Macrotendências Mundiais até 2040, publicado em 2022, aponta que o consumo e a produção devem se adequar principalmente aos fatores ligados à sustentabilidade e ao clima”. 

Quanto ao aspecto tecnológico, informa que o uso de inteligência artificial deve ajudar a melhorar a eficiência dos processos da cadeia de alimentos, e também na consolidação de produção de alimentos à base de plantas. “O uso cada vez maior de inteligência artificial está redefinindo as expectativas e o cotidiano dos consumidores. Esperam-se interações mais personalizadas, respostas instantâneas e serviços e produtos adaptados às suas preferências individuais. A IA é uma capacidade de os dispositivos e sistemas eletrônicos imitarem o pensamento e o comportamento humano, e é uma ferramenta que pode ser usada para melhorar o atendimento ao consumidor até a inovação de produtos.”

Pesquisadores fazem linha do tempo da evolução do consumo de alimentos – Foto: Reprodução/HF Brasil

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Revolução da IA

A revista traz um exemplo do uso de IA no setor de alimentos e bebidas: “O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) destacou alguns exemplos de empresas do segmento de alimentos e bebidas que adotam o emprego da IA; uma delas está no uso de algoritmos para modelar sabores de acordo com grupos específicos de consumidores”. E indicam um software da Gastrograph AI, que considera a faixa etária, classe econômica e etnia, entre outros elementos, para desenvolver sabores personalizados. 

“Outra ação interessante por meio da IA é a reprodução de sabores, como as empresas que produzem alimentos que normalmente envolvem proteína animal, mas com ingredientes vegetais. A empresa chilena NotCo, fundada em 2015, utiliza a IA para elaborar fórmulas de alimentos conhecidos, baseando-se apenas em ingredientes vegetais, imitando o sabor e a textura dos alimentos a serem replicados”, analisam os autores. As empresas que abraçam efetivamente a inteligência artificial aumentam sua eficiência e criam laços mais estreitos com seus clientes, como prevê o Consumer Trends 2024, da Opinion Box. 

De acordo com o Relatório da Euromonitor Commerce 2024, os consumidores poderão viver, trabalhar, fazer compras e se divertir em 2040, explorando como a tecnologia poderá mudar diferentes mundos de consumo nos próximos 20 anos. “Em particular, esta análise foca no futuro do comércio – tanto como é conhecido hoje quanto pode evoluir nas próximas duas décadas”, concluem.

Radar HF

A revista ainda traz duas novidades do setor hortifrutícola: um estudo recente da Nutrients mostrou que consumidores diários de manga ingeriram mais nutrientes benéficos e teriam uma melhor qualidade da dieta do que os não consumidores da fruta. A pesquisa, que englobou idosos e mulheres grávidas, documentou que os níveis de vários nutrientes, como zinco, ferro, magnésio, cálcio, folato e vitaminas A, C, D e E, estavam abaixo da necessidade média estimada em muitos idosos e mulheres grávidas, e comer mais a fruta poderia aumentar significativamente a qualidade da dieta, aumentando a ingestão de nutrientes essenciais. Outra pesquisa, publicada na revista científica Food & Function examinou o impacto do consumo regular de uva nos principais indicadores da saúde ocular, reforçando estudos anteriores, onde se descobriu que a ingestão de uvas protegia a estrutura e a função da retina.

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