Publicação especial faz balanço da produção e consumo de hortifruti no Brasil

Publicada por grupo de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, revista “Hortifruti Brasil” publica neste mês o Especial Hortaliças, setor que, depois de dois anos de alta nos preços, traz uma boa notícia 

 26/06/2023 - Publicado há 10 meses
Produção de hortifruti no País tem queda nos custos de acordo com análise de pesquisadores – Foto: Freepik

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“A Hortifruti Brasil traz uma boa notícia aos produtores de tomate e cebola: após dois anos de forte alta nos custos de produção, tudo indica que produtores das hortaliças devem, enfim, atravessar um período um pouco mais ‘calmo’ em 2023”, como informam as pesquisas publicadas na Revista Hortifruti Brasil, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agrigultura Luiz de Queiroz, disponível para download gratuito neste link
Desde 2008, a revista publica nos meses de junho o Especial Hortaliças, com o tema Gestão Sustentável & Custos de Produção, e neste ano traz os resultados da safra de verão 2022/23 de Caçador (SC), de inverno de Mogi Guaçu (SP) e de cebola em Lebon Régis (SC). 

“O levantamento realizado mostra que, no caso do tomate de mesa produzido na região de Mogi Guaçu (SP), os custos totais podem crescer apenas 1% de 2022 para 2023. Porém, a alta nos custos de produção dos últimos anos foi muito acentuada, e esse cenário ainda está limitando a margem e os investimentos em área no setor in natura nacional”, afirma João Paulo Bernardes Deleo na introdução da revista. Uma avaliação criteriosa do fechamento da safra de 2022/23 é importante e está contemplada nesta edição da revista, que traz ainda os custos finais da safra de cebola em Lebon Régis (SC). “Essas lavouras foram colhidas no primeiro semestre de 2023 e, portanto, foram cultivadas com insumos adquiridos em 2022. Vale lembrar que os preços dos fertilizantes e de outros insumos atingiram patamares muito elevados no início do segundo semestre de 2022 e, a partir de então, iniciaram uma trajetória de queda”, comenta.  

O professor ainda ressalta que a equipe da Hortifruti levanta junto a produtores qual é o calendário mais comum de compra de insumos, justamente para ter mais precisão nos dados de custo de produção. “Quando avaliadas as safras 2020/21 para 2022/23, o avanço nos custos é bastante elevado. No caso do produtor de maior escala de produção de Caçador, os gastos com o tomate de mesa no verão de 2022/23 ficaram 24,3% acima dos de 2021/22 e expressivos 70% superiores aos de 2020/2. Quanto ao produtor de pequena escala da mesma região catarinense, os incrementos nos custos de produção em 2022/23 são de 28% frente aos da safra anterior e de fortes 93% em relação aos de 2020/21.”, revela. 

Pesquisadores da Esalq analisam dados do setor hortifruti – Foto: Revista Hortifruti

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Para a safra 2023/24, os atuais dados sinalizam possível queda nos custos, mas os gastos ainda devem ficar bem acima dos registrados na temporada 2020/21, como espera o professor, mas o contexto depende do calendário de compras dos insumos e também da intensidade do reajuste da mão de obra (salários) em 2023. Segundo ele, os custos cresceram muito devido a uma junção de fatores que resultou em dois anos seguidos de acentuado aumento dos custos de produção. “Primeiramente, a pandemia de covid-19, em 2020, elevou a demanda por alimentos no mundo, ao mesmo tempo que houve uma interrupção na cadeia global de distribuição de commodities, diante de medidas de isolamento social”, lembra, informando ainda que na  naquele momento inicial da pandemia, havia o receio de déficit de oferta de alimento no mundo, o que acabou impulsionando a demanda e, consequentemente, os preços globais. 

“Diante disso, a demanda por insumos – para a produção de alimentos – também cresceu, gerando uma inflação global desses produtos”, garante. Por outro lado, continua, a pandemia desacelerou a produção de insumos em diversos segmentos das economias (não apenas os aplicados diretamente na agricultura, como os fertilizantes, mas também de outros componentes, como eletrônicos, que são necessários para produção de determinadas máquinas utilizadas na agricultura). “Esse cenário intensificou o movimento de alta nos preços globais de insumos, como fertilizantes, petróleo, metais, acarretando em elevados custos no campo entre 2020 e 2021. Em 2022, com o mundo retornando a uma rotina normal, parecia que haveria um melhor ajuste entre oferta e demanda, mas, logo no início daquele ano, iniciou-se a guerra entre Rússia e Ucrânia”, relata, explicando que o conflito novamente veio a causar problemas na oferta de diversos insumos, e até mesmo alimentos já processados, tendo em vista que o leste europeu é um importante fornecedor de fertilizantes. 

Insumos x Rentabilidade

Para o professor, embora a Rússia e a Ucrânia ainda estejam em conflito, a região voltou a comercializar seus insumos e outros fornecedores se destacaram no mercado global. Assim, como diz o professor, o ajuste da cadeia de produção em 2023, aliado a um crescimento global muito baixo neste anos, os preços das commodities recuaram, e os agricultores brasileiros também desaceleraram a ânsia de aumentar a produção, o que, consequentemente, vem limitando a demanda por insumos agrícolas. “O insumo que registra uma das maiores desvalorizações é justamente o fertilizante, que foi fortemente impulsionado nos últimos anos”, revela, informando que nos próximos meses, e até mesmo em 2024 essa tendência de ajuste nos preços de insumos deve se sustentar.

Sobre rentabilidade, o professor diz que a forte alta nos custos de produção de hortaliças limitou os lucros do produtor na temporada de 2022. Por isso, indica, é importante que cada horticultor faça suas contas. “Isso porque, diferentemente dos custos, não há um valor médio de receita que reflita o cenário da maioria dos produtores – isso depende de diferentes aspectos, como qualidade, quantidade e modalidade do negócio (principalmente se se trata de uma venda consignada ou realizada a um preço pré-fixado)”, informa, acrescentando que os estudos de rentabilidade presentes na revista são uma simulação da receita, tendo como base preços médios de referência, sem levar em conta várias particularidades de descontos que ocorrem nos valores ao longo do período de comercialização. Segundo ele, a receita apurada pelo Cepea é teórica e estimada com base na produtividade declarada pelos produtores, pelos preços médios ponderados pelos calendários de colheita e classificação. “Como um instrumento importante de gestão, as medições de custos e de receita precisam ser corretas e estar em dia, para que o produtor tenha melhor exatidão de sua lucratividade”, conclui.

Sobre a publicação

Muito mais do que uma revista, a Hortifruti Brasil é o resultado de pesquisas de mercado desenvolvidas pela Equipe Hortifruti, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP de Piracicaba. As informações são coletadas através do contato direto com aqueles que movimentam o setor de frutas e hortaliças, como produtores, atacadistas e exportadores, e esses dados são estudados criteriosamente por pesquisadores e analistas de mercado que integram a equipe da Hortifruti Brasil.

Desde 2016, o Hortifruti disponibiliza o seu conteúdo em diversas plataformas digitais (site, redes sociais e mobile), tornando as pesquisas cada vez mais acessíveis e interativas. A novidade desta edição, é que, como o público da revista já é maior no meio digital do que no impresso, a revista também estará em formato flip no site hfbrasil.org.br. Isso significa que os leitores podem “folhear” as páginas da publicação, como na versão em papel. Além disso, a revista impressa continuará sendo distribuída gratuitamente em todo o Brasil em 2023, e há também a publicação em formato exclusivo para WhatsApp.

Confira a última edição da Revista Hortifruti Brasil neste link.


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