Foi para entender como evoluiu o cérebro das tartarugas que um grupo de cientistas do Brasil, da Alemanha e do Reino Unido reconstruiu em 3D o sistema craniocervical (cabeça e pescoço) da mais antiga tartaruga com casco completo encontrada na Alemanha, a Proganochelys quenstedti. Esse estudo acaba de receber o prêmio Bernhard Rensch como melhor tese de Sistemática Biológica de 2019, no encontro anual da Sociedade de sistemática biológica da Alemanha.
O estudo foi o doutorado de Gabriel de Souza Ferreira, do Laboratório de Paleontologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Segundo Ferreira, mesmo que dos resultados não surja “um medicamento novo, ou a cura de uma doença”, eles são importantes para que a humanidade se aproxime um pouco mais dos mistérios que envolvem a evolução.
Para o pesquisador, em tempos de “questionamentos da Terra plana, da Teoria da Evolução e do criacionismo junto à ciência”, ter a cada dia mais estudiosos divulgando evidências científicas é de extrema importância, pois “falar de paleontologia é uma forma de fazer as pessoas se interessarem pela ciência em geral e, ao se interessar pela ciência, elas entendem que pensamento crítico é uma coisa importante para a nossa convivência em sociedade”, afirma.
O prêmio
A pesquisa Padrões e evolução da morfologia no crânio de tartarugas: contribuições da paleontologia digital, neuroanatomia e biomecânica levou para casa o prêmio alemão Bernhard Rensch como melhor tese de Sistemática Biológica de 2019.
Inspirado no biólogo alemão Bernhard Rensch, um dos principais desenvolvedores da síntese evolutiva moderna, o prêmio é concedido pela Sociedade de Sistemática Biológica da Alemanha, durante seu encontro anual, a teses de doutorado e trabalhos acadêmicos nas áreas de paleontologia, botânica e zoologia realizados em território alemão.
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Neste ano, o encontro aconteceu de 12 a 15 de fevereiro, quando Ferreira apresentou o trabalho e recebeu o prêmio. “Ganhar esse prêmio é sinônimo de reconhecimento e prova de que o trabalho que vem sendo desenvolvido é de nível internacional e que, apesar de no País não termos reconhecimento atualmente, fora dele isso existe, provando que no Brasil existem pesquisadores bons e ciência de qualidade sendo feita.”
A pesquisa é um trabalho de dupla-titulação em doutorado realizado por Ferreira no Brasil, sob orientação do professor Max Cardoso Langer, do Departamento de Biologia da FFCLRP, e na Alemanha com co-orientação de Ingmar Werneburg, do Instituto Senckenberg da Universidade de Tübingen.
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