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Educação museal em tempos de crise: reflexões sobre novas práticas educativas acaba de ser lançado no Portal de Livros Abertos da USP, resultado de um curso de extensão coordenado por profissionais que atuam em programas educativos de diferentes museus, e que foi proposto no bojo da reabertura dessas instituições, em março de 2022, dois anos após o início da pandemia de covid-19. A obra é organizada em parceria pelo Museu de Microbiologia do Instituto Butantan, Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP e Museu de Anatomia Veterinária (MAV) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), também da USP. O objetivo é inspirar novas práticas nos profissionais de museus e também em interessados no assunto. Para fazer o download gratuito clique neste link.
“Este período de isolamento social foi marcado por uma crise em diferentes setores educativos de vários museus brasileiros, alguns tendo sido fechados, equipes inteiras demitidas, enquanto outros tiveram que reinventar suas estratégias, dedicando-se exclusivamente à ações virtuais e remotas, em função da necessária imposição da quarentena. Influenciados pelo novo contexto social, marcado pelas orientações da saúde pública, pela instabilidade do cenário político, da degradação ambiental e pelas lutas sociais afirmativas e inclusivas, o projeto didático previa uma abordagem que dialogasse com as questões emergentes”, afirmam os organizadores Adriano Dias de Oliveira (Instituto Butantan), Maurício André da Silva (MAE) e Maurício Candido da Silva (MAV) na apresentação do livro. E continuam: “Essa busca por novos desafios pretendia relacionar a prática do dia a dia dos setores educativos com as teorias que estão sendo debatidas por pesquisas atuais, em diálogo com a crise efervescente do momento contemporâneo”.
Ainda segundo os organizadores, “a proposta do curso não teve por objetivo a busca de respostas para as novas demandas, muito menos de modelos de abordagem e práticas educativas exemplares, mas a problematização de temas em tempos de crise, por meio de reflexões das novas questões que deveriam ser abordadas pelos diferentes programas educativos museais, independentemente da caracterização do perfil institucional”. O livro traz as discussões realizadas durante o curso sobre temas atuais que têm impactado a ciência e a vida no planeta, como as controvérsias científicas, os marcadores sociais da diferença e as multiespécies, e sobre como esses temas têm influenciado as diferentes atividades comunicativas nos museus. “É importante ressaltar que, embora cada instituição (que promove essa iniciativa) possua suas particularidades teóricas e práticas, todas compartilham ao mesmo tempo de problemas comuns dentro do campo da comunicação museal”, destacam os organizadores.
Entre os assuntos abordados, estão as controvérsias científicas, que, segundo a professora Martha Marandino, da Faculdade de Educação da USP, são oriundas do contexto escolar, mais precisamente dentro da relação entre alfabetização científica e ciência, tecnologia, sociedade e ambiente. Para ela, essa relação deve ser considerada quando se pensa nos processos educativos realizados pelos museus, desde atividades de divulgação até programas de formação de equipes, assim como nos cursos de formação para professores.
Outro tema importante, as famílias multiespécies estiveram no centro dos debates, e teve como um dos exemplos um relato de caso que foi amplamente divulgado nas redes sociais, quando, em abril de 2023, uma capivara foi resgatada pelo Ibama, tirada de seu cuidador, o jovem Agenor Tupinambá, um influenciador digital com milhões de seguidores na internet, dividindo opiniões a favor do órgão federal e do cuidador, que tinha a Filó como animal de estimação. “Frente a essa questão controversa, é importante levarmos em consideração o significado de família”, apontam os autores Ingriddy Moreira e Felipe Barbosa Dias.
É possível compreender a relação entre pessoas e animais como família? A relação da capivara com o jovem pode ser entendida como um grupo familiar? Existem interesses por trás desse episódio específico?, questionam o autores, informando que são questões importantes, principalmente, ao analisar o caso à luz do entendimento de “famílias multiespécies”. Essas novas configurações familiares, afirmam, vêm ganhando espaço em diferente áreas do conhecimento – como Veterinária, Psicologia e Direito – devido à importância dada às questões de comportamento entre as pessoas e os animais domésticos.
O livro na íntegra pode ser acessado clicando aqui.