Você é metamoderno?

Metamodernismo nada mais é do que o nome que está se dando para a mudança de comportamento social com relação ao futuro do mundo

 27/10/2023 - Publicado há 6 meses
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Hoje (27) o tema da coluna de Luli Radfahrer é metamodernismo, nome que está se dando para a mudança de comportamento social com relação ao futuro do mundo. “Se você cresceu antes dos anos 80, você tinha uma visão mais ou menos otimista de progresso tecnológico. Em 1977, teve  a crise do petróleo, em 80 teve todos aqueles excessos das bolsas de valores e aquelas maquiagens, aqueles cabelões etc. Ainda era um mundo razoavelmente otimista. Com os anos 90 e a primeira década do século 21, veio uma onda de pós-modernismo que já tinha começado nos anos 80, mas ela se tornou muito mais forte nos 90, que era uma onda pessimista, cética, aquela coisa que você vê muito em série de televisão, em filme, que o ator vira para a câmera e fala: ‘Eu sei que isto aqui não é um filme de verdade’, coisas, tipo irônicas, mas que no fundo são muito amargas, algo sem esperança.

Hoje em dia […]  uma coisa que a gente tem é uma mistura de sinceridade com ironia, com autenticidade, com esperança. A gente fala assim: ‘Ok, eu sei que o mundo não é maravilhoso e eu sei que eu não estou indo para a utopia tecnológica, mas também sei que eu não vou ganhar nada com essa atitude pessimista, então eu vou fazer alguma coisa’. Aí você vê as greves contra o clima, o combate da arte, a quantidade de ações afirmativas, quantidade de gente virando vegana ou vegetariana, então parece ser uma resposta muito melhor do que ficar deprimido.

É legal porque ela é uma resposta madura, porque ela combina a nostalgia das referências do passado. Então pode ver que essa molecada de hoje adora um brechó com a visão voltada para o futuro. É uma turma, por exemplo, que não quer ter carro, é uma turma que não concebe nem ter uma casa, vai viver alugado e está tudo bem. Quer dizer, eu quero entender que a verdade absoluta é limitada. Eu quero entender: essa verdade se aplica a mim? Será que a ideia desse emprego é boa para mim? A narrativa pessoal passa a ser muito importante.

O metamodernismo é basicamente pessoal e interativo, quer dizer, como ele evita a ideia de que trabalho é bom e descanso é ruim […] ele navega nessa tensão conflituante […] você vê aquele menino claramente hetero, estaria completamente enquadrado dentro de uma sociedade dos anos 60, dos anos 70, e ele usa lápis no olho, ele usa saia de vez em quando, e está tudo certo, porque ele quer experimentar aquela saia, por que homem não pode usar saia?

É muito bacana isso, é muito mais rico. É muito bom para a experimentação, a experimentação é a principal saída, experimentar é uma coisa extremamente subversiva. Como eu não tenho toda uma estrutura filosófica para dizer  ‘olha, o capitalismo é ruim ou o comunismo é ruim’, então eu consigo experimentar. É legal porque dá esperança, como é uma experiência, ela não precisa ser pronta, ela não precisa ser definitiva, então ela é muito legal, e isso acaba gerando uma mudança que é muito positiva.”


Datacracia
A coluna Datacracia, com o professor Luli Radfahrer, vai ao ar quinzenalmente, sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP Jornal da USP e TV USP.

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