Publicações humorísticas de Brasil e Argentina veiculavam, no início do século 20, conteúdo antifeminista

As revistas ilustradas PBT, da Argentina, e O Malho, do Brasil, foram analisadas em pesquisa desenvolvida na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP; Ambas ridicularizaram e deslegitimaram o movimento feminista

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 Publicado: 02/05/2024     Atualizado: 16/05/2024 as 18:48
Novos Cientistas - USP
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Publicações humorísticas de Brasil e Argentina veiculavam, no início do século 20, conteúdo antifeminista
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Entre os anos 1904 e 1918, repercutiam na imprensa discussões sobre possíveis reformas para implementar direitos políticos e civis para as mulheres. Contudo, duas publicações de teor humorista, uma argentina e outra brasileira, buscavam deslegitimar os ideais das feministas da época. “Em primeiro lugar é preciso lembrar que os feminismos já possuíam, naquele período, um caráter plural”, disse a historiadora Thaís Batista Rosa Moreira ao jornalista Antonio Carlos Quinto. A pesquisador foi a entrevistada desta quinta-feira (2) no podcast Os Novos Cientistas.

Thaís é autora do estudo de mestrado Na mira do traço: representações antifeministas nas revistas humorísticas PBT e O Malho (Argentina e Brasil, 1904-1918), apresentado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Sob a orientação da professora Stella Maris Scatena Franco, a pesquisa analisou uma série de publicações de teor antifeminista veiculadas nas revistas ilustradas humorísticas PBT (argentina) e O Malho (brasileira). “E eu escolhi PBT e O Malho pois foram as duas revistas onde eu encontrei um corpus documental mais significativo na etapa de busca de fontes, quando montei o projeto de pesquisa. Mas isso não quer dizer que esse conteúdo não aparecia em outras publicações da época”, destacou Thaís.

A pesquisadora também contou que tanto a PBT como O Malho manifestaram uma tendência hegemônica da imprensa da época, retratando as demandas feministas e a luta pelo sufrágio feminino em tom satírico, de modo a ridicularizar e deslegitimar a ação política desses setores. “As revistas ilustradas humorísticas, que eram razoavelmente acessíveis e impressas em formato moderno e visualmente atrativo, tiveram um papel de destaque na proliferação desses discursos contrários ao feminismo, uma vez que mantinham um alto número de tiragens e que suas principais fontes de conteúdo eram as atualidades do campo político”, disse Tahís. Além do direito de voto, a perspectiva de alcançar outras reivindicações, como igualdade de direitos civis e acesso ampliado à educação e profissionalização, gerava desconfiança e oposição nos periódicos.

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