Rim de porco transplantado para homem com morte cerebral funciona bem após 32 dias da cirurgia

O paciente, de 57 anos, recebeu o órgão modificado geneticamente; procedimento foi autorizado pela família

 24/08/2023 - Publicado há 8 meses
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Em 16 de agosto, foi divulgado que um homem de 57 anos, com morte cerebral, recebeu rim geneticamente modificado de um suíno e que, 32 dias após o procedimento, o órgão funcionava bem e sem sinal de rejeição. O transplante foi realizado pelo médico Robert Montgomery em 14 de julho de 2023, com autorização da família, que optou por doar o corpo dele à ciência.

De acordo com a reportagem, os cientistas inativaram um único gene no suíno doador (o gene que codifica uma biomolécula denominada alfa-gal, um tipo de açúcar). Além disso, eles bloquearam a glândula do timo do animal, que contribui para a resposta imune. “A combinação dessas duas estratégias foi suficiente para prevenir a rejeição do órgão, preservando a sua função”, relata Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudo sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP.

Estudos anteriores já mostraram que os órgãos dos suínos são os mais semelhantes aos seres humanos, mas, em caso de transplantes, corre-se o risco de haver rejeição hiperaguda, que ocorre naturalmente alguns minutos depois que o órgão do animal é conectado ao ser humano. Com o avanço das pesquisas em genomas foi possível identificar, nos suínos, quais eram os genes responsáveis por essa rejeição.

Em seguida, a técnica de CRISPR-Cas9 de editar genes permitiu que esses genes fossem silenciados ou inativados. “Hoje, há debates entre os diferentes grupos de pesquisa sobre quantos genes de suíno precisam realmente ser inativados (que chamamos de knock-out) e também quantos genes humanos precisam ser introduzidos (knock-in) para garantir um animal geneticamente compatível com o receptor”, detalha Mayana.

Ainda de acordo com a geneticista, “o experimento mostra que estamos cada vez mais próximos de levar o xenotransplante para a clínica médica com o potencial de salvar inúmeras vidas”.


Decodificando o DNA
A coluna Decodificando o DNA, com a professora Mayana Zatz, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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