Reunião do Brics ignora crises globais do mundo atual

Na coluna de hoje, Pedro Dallari faz uma avaliação da reunião da Cúpula do Brics, parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, que terminou no último dia 24 de outubro

 Publicado: 30/10/2024 às 7:56
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Na coluna de hoje, dia 30 de outubro, o professor Pedro Dallari faz uma avaliação da reunião da Cúpula do Brics, parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, que terminou no último dia 24 de outubro e foi realizada em Kazan, na Rússia.

“O mundo vive hoje um quadro de crises globais muito preocupantes, como aquecimento global, os riscos de conflito nuclear, pandemias e descontrole da inteligência artificial, e a reunião do Brics e o documento final que ela produziu se omitem completamente em relação a esses temas. Para não dizer que não se falou nada, há apenas algumas considerações gerais, sem que os países desse espaço de integração tenham formulado propostas concretas de objetivos e metas para lidar com essas ameaças à própria humanidade. É importante lembrar que o Brics é um espaço de integração que reúne países muito importantes. É o acrônimo das iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. E ao Brics já se associaram novos países, como Irã, Etiópia, Emirados Árabes Unidos, Egito e, mais recentemente, Bolívia, Cuba, Tailândia e Nigéria”, afirma.

Segundo Dallari, era esperado “de uma articulação de países tão importantes um compromisso mais efetivo com os grandes problemas do nosso tempo e isso não ocorreu. Fora algumas considerações muito genéricas, não há nenhum tipo de compromisso efetivo diante desse cenário”. O professor avalia que “o Brics, ao renunciar ser um ator importante para o equacionamento dos problemas atuais graves que o mundo vive, acabou se convertendo em um espaço de articulação política para a disputa do poder em escala global, uma organização voltada a objetivos fundamentalmente geopolíticos, e baseia isso na defesa bastante genérica de uma reforma do multilateralismo, com propostas de concepção praticamente inviáveis, como a reforma do Conselho de Segurança, a substituição do dólar como moeda básica para as relações negociais internacionais, deixando, portanto, de exercer um papel mais efetivo”.

Sobre a participação do Brasil na reunião, o professor avalia que “o País fica em uma situação muito difícil, porque é visto como um país relevante no mundo e com o compromisso com os direitos humanos, com a democracia e, portanto, com muito mais peso para a solução dos problemas do nosso tempo. E, nesse contexto em que se encontra o Brics, a presença brasileira é muito constrangedora”.


Globalização e Cidadania
A coluna Globalização e Cidadania, com o professor Pedro Dallari, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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