Queimadas no Cerrado representam uma elevação na emissão de gases do efeito estufa

Girley Cunha diz que em um ano mais seco, como o que estamos vivendo, a vegetação torna-se mais suscetível a incêndios fora de controle

 19/09/2024 - Publicado há 3 meses
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Imagem de cerrado em que despontam formações rochosas e áreas verdes espalhadas por muitos quilômetros
O Cerrado já teve 10.647 focos de queimadas desde o início do ano -Foto: Thiago Amaral/Governo do Piauí;
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Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram um crescimento de 80% no número de queimadas no Brasil. Foram detectados 112 mil focos de incêndio de janeiro a agosto de 2024. Isto representa um aumento de 50 mil casos em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo divulgação da Agência Brasil. O Estado de Mato Grosso lidera a lista de focos de queimadas, seguido pelo Pará, Amazonas e Mato Grosso do Sul. No Estado de São Paulo são 5.300 casos. Esta é a pior seca dos últimos 44 anos. As queimadas controladas são autorizadas pelo poder público e pelos órgãos ambientais de cada um dos Estados do Brasil. A queima controlada é o uso planejado, monitorado e controlado do fogo. Seu objetivo tem fins agrossilvipastoris em áreas determinadas e sobre condições específicas.

Girley Cunha, engenheiro e consultor florestal do projeto Corredor Caipira, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, explica que esses incêndios fora de controle são ocasionados pelo excesso de calor. “No Cerrado são muito frequentes, é uma coisa meio cultural no Brasil o pessoal utilizar, principalmente na zona rural, a queimada como uma medida para limpar terreno, áreas esperando a pastagem nova para preparar o terreno, alguma coisa nesse sentido. O aumento delas neste ano, especificamente, se deve às condições climáticas. A gente está num ano muito seco, principalmente aqui na região de São Paulo, mas no interior do Brasil também, é um ano mais seco do que o de costume, em função do El Niño que tivemos. A vegetação torna-se mais suscetível a incêndios fora de controle e o pessoal, embora exista o artifício legal da autorização para queimada, normalmente não usa, e faz por conta e risco esse método de controle para facilitar o manejo da vegetação da sua propriedade e geralmente isso sai de controle. Temos as estradas também, a estrada é um fator que aumenta a incidência de focos de incêndio. O pessoal que joga bituca de cigarro ou coloca fogo propositadamente nessas áreas, as estradas são fator de focos de incêndios.”

Girley Cunha – Foto: Linkedin

O Cerrado já teve 10.647 focos de queimadas desde o início do ano. Isto representa um aumento de 31% em comparação ao mesmo período do ano passado,  quando foram registrados 8.157 casos. A principal fonte das emissões no Brasil são as queimadas. Esse aumento vai repercutir e representar uma elevação na emissão dos gases de efeito estufa pelo País e vai ser contabilizado, além de apresentar um problema ambiental para o aquecimento global.

Agronegócio

A expansão do agronegócio no Cerrado apresenta pontos positivos e negativos com relação às queimadas. “Do ponto de vista ambiental, ela é péssima, porque a gente está substituindo áreas de vegetação natural por áreas agrícolas, leia-se principalmente soja no Centro-Oeste do Brasil, área onde está concentrada a maior parte desse bioma. Com relação à economia, ela é positiva para a região, porque aí você está girando economia com uma plantação, principalmente desses grãos, de cereais e isso é positivo. Já para o meio ambiente, para a sociedade em geral, do ponto de vista ambiental ela é negativa.”

O Brasil não conta com muitas áreas de Cerrado protegidas e há pesquisadores que indicam que o fogo apresenta aspectos vantajosos, na medida em que reduz biomassa, e os incêndios florestais da vegetação natural de grande magnitude não são tão intensos, não são tão frequentes. O Cerrado não está protegido de uma maneira adequada, está desprotegido. E essas queimadas que estão ocorrendo neste momento, no Brasil inteiro e nos últimos anos, são negativas, diz o especialista.

As áreas florestais e campestres do Cerrado sofrem com o fogo e são afetadas, apesar da redução de biomassa, mas há outros pontos negativos. A conversão de uso do solo é mais preocupante do que o fogo, explica o consultor florestal. “Quando você retira o Cerrado e transforma isso aí em uma área agrícola ou uma área de pastagem, a redução de habitat é o prejuízo maior para a conservação da biodiversidade. E aí, quando eu falo em biodiversidade, eu estou falando em flora e fauna, em micro-organismos também. Então essa conversão de uso do solo é muito mais maléfica, prejudicial, do que o fogo.”

A fauna vai ser impactada, ela vai ser deslocada, se ela não morrer durante o incêndio e após o incêndio. A fauna, que tem capacidade de deslocamento em maiores distâncias, vai procurar as áreas que não estão queimadas para se alojar, para sobreviver e se alimentar. Com essa mudança de habitat ficarão mais suscetíveis a predadores. Os que não conseguirem fugir irão morrer queimados.


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