Processo de “savanização” da Floresta Amazônica já é realidade e pode atingir ponto crítico até 2050

Pedro Luiz Côrtes explica o caráter progressivo do processo e comenta os principais pontos do estudo

 16/02/2024 - Publicado há 3 meses
Os modelos utilizados na pesquisa apontam que as secas na região amazônica aumentarão em duração e intensidade Foto: Vinícius Mendonça/Ibama – Flickr CC BY-SA 2.0
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De acordo com um trabalho de pesquisadores brasileiros publicado pela Nature, a Floresta Amazônica está sofrendo um processo de “savanização” e pode, até 2050, atingir seu ponto crítico. Isso ocorre em decorrência de ações antrópicas, como desmatamento e queimadas, e foi explicado pelo professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP).

Principais pontos do estudo

O docente explica que a Floresta Amazônica é tropical úmida e, por isso, a água representa um papel importante nas dinâmicas da região. Contudo, ao longo dos últimos anos, houve um aumento da intensidade dos fenômenos climáticos — chuvas e secas muito fortes, como exemplifica o especialista ao citar a estiagem histórica ocorrida no ano passado na Amazônia.

“Os modelos utilizados na pesquisa apontam que as secas na região amazônica aumentarão em duração e intensidade e que elas serão excepcionalmente quentes e se tornarão mais comuns, criando condições que provavelmente vão impulsionar outros tipos de perturbação, tais como grandes e destrutivos incêndios florestais”, comenta Côrtes, que ainda esclarece o caráter progressivo do processo, ocorrendo entre os anos de 2024 e 2050.

Pedro Luiz Côrtes

O professor complementa que, em consequência disso, haverá uma redução significativa do volume anual de chuvas, o que tornará a floresta mais suscetível a entrar em colapso e deixará os meses naturalmente secos com uma duração prolongada. “Há uma tendência forte de redução dos volumes de água na região central do Brasil. As hidrelétricas, que dependem dessas chuvas amazônicas, vêm sofrendo uma redução do volume de água que elas recebem da Amazônia, ou seja, vem acontecendo realmente alguma coisa com a floresta, de tal forma que a chuva amazônica vem perdendo espaço”, alerta.

A “savanização” já é atual

“O trabalho menciona que as savanas se expandiram localmente, particularmente nas regiões periféricas onde os incêndios provocados pelo homem são mais frequentes. Manchas de savana também se expandiram dentro da Floresta Amazônica devido aos incêndios, que passaram a ser frequentes também no interior da floresta”, explica Côrtes, ressaltando que o processo pode ficar cada vez mais intenso.

O docente ainda comenta da importância do mercado de créditos de carbono e lamenta a demora para aprovação do projeto que o regulamenta. “Uma empresa vai ter um limite de emissão de gases de efeito estufa aqui no Brasil e, caso ela não consiga, de imediato, essa redução, ela pode comprar créditos de carbono, em que ela financia um projeto que vai sequestrar esse carbono da atmosfera. Isso teria uma grande importância no sentido de ampliar, de maneira significativa, a recuperação florestal”, finaliza.


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