O álcool continua tirando vidas com anuência dos pais

Além disso, ainda tem o uso do cigarro eletrônico, sem fiscalização em todo o País, na véspera do Dia Nacional de combate ao fumo, adverte João Paulo Lotufo

 28/08/2023 - Publicado há 8 meses
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Um vídeo que circulou dias atrás nas redes sociais mostra um senhor de 42 anos bebendo cerveja e instruindo seu filho, de apenas 12 anos,  a pilotar um avião bimotor. No vídeo, é possível ver o pai colocando a garrafa em suas pernas. O mesmo vídeo mostra o pai escondendo com a mão a matrícula do avião para que não seja identificado pelas autoridades. Os dois morreram dois dias depois em um acidente aéreo no interior de Rondônia.

Em outro vídeo, uma jovem de 22 anos foi abandonada desacordada por um motorista de aplicativo na porta de casa. O crime chama atenção pela sucessão de erros que culminaram no estupro da jovem. A  vítima estava em um evento de pagode quando decidiu ir embora; ela tinha ingerido grande quantidade de bebida alcoólica e seus amigos a colocaram sozinha em um carro de aplicativo. Serão investigados e podem ser responsabilizados pelo caso, assim como o motorista de aplicativo por tê-la deixado em coma alcoólico na calçada.

Na minha opinião, nos dois casos há um agravante que não foi discutido pela mídia: a ingestão de bebida alcoólica que colocou ambos em situação de vulnerabilidade. Não se pode omitir a responsabilidade de um pai que permite um filho menor de idade ter o controle de um avião em voo, tapando o número de série da aeronave e consumindo bebida alcoólica, ridicularizando a legislação em questão. Não se pode omitir a responsabilidade dos amigos da jovem de 22 anos, do motorista que a abandonou na rua, mas pouco se discutiu o uso de álcool nos dois casos, como se fosse algo menor.

Não somos contra bebida alcoólica, mas, sim, somos a favor da regulamentação do seu uso no Brasil, como é feito em outros países. A  impunidade característica do nosso meio estimula excessos que levam a situações de risco. O exemplo dos pais é um fator determinante na orientação das crianças e dos jovens. Se o pai não cumpre as normas legais da sociedade, há muita chance dos filhos também não as seguirem. Isso vale não só em relação às drogas, mas a toda a educação dos nossos filhos.

Na véspera do Dia Nacional de Combate ao Fumo, dia 29 de agosto, o cigarro eletrônico está tomando um vulto grande demais para que não nos coloquemos na prevenção de algo que faz mal à saúde; às vezes mais mal do que o cigarro normal, porque ele está sendo utilizado pela juventude que acredita que o cigarro eletrônico não vicia e desconhece o efeito maléfico que pode produzir. É a mesma situação dos nossos avós com cigarro normal. Onde estão os pais desses jovens?

Em relação à liberação do porte de maconha, acho incrível que não se faça uma ampla campanha sobre o possível malefício que pode trazer, com os mesmos problemas pulmonares do cigarro habitual. Ainda é possível que a maconha produza uma lesão cerebral irreversível.

Os políticos tentam “tapar o sol com a peneira”, retardando ou engavetando qualquer possibilidade de regulamentação de uso de álcool no Brasil, fechando os olhos para a venda livre do cigarro eletrônico — proibido no País, mas não fiscalizado — e aprovando a descriminalização do porte de maconha sem ampla campanha de orientação sobre seus malefícios. O uso das drogas começa dentro de casa. Abramos os olhos, prevenção é tudo.


Dr. Bartô e os Doutores da Saúde
A coluna Dr. Bartô e os Doutores da Saúde, com o professor João Paulo Lotufo, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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