Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em média, mais de um bilhão de refeições foram jogadas fora por dia no ano de 2022 e o número é quase um quinto de tudo o que é produzido no mundo. Nadine Marques, pesquisadora da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), examina os números da pesquisa e a importância desse mapeamento para as políticas de controle dos países.
De acordo com a pesquisadora, o relatório da ONU evidencia que o desperdício de alimentos ainda hoje prejudica a economia, fomenta as mudanças climáticas, a perda da natureza, aumenta a poluição e prejudica as pessoas. Ela conta que um dos objetivos da organização é reduzir pela metade a escala global de alimentos desperdiçados até o ano de 2030, mas, na verdade, os números recentes indicam que estão se afastando dessa possibilidade.
De todo alimento jogado no lixo, segundo a ONU, 28% são de serviços de hotel, refeitórios e restaurantes; 12% vem do comércio varejista, como açougues e mercearias; e cerca de 60% é oriundo do desperdício familiar nos lares. Nadine chama atenção para esse número de desperdício doméstico, que quase dobrou em relação ao ano anterior à pesquisa e representa cerca de 600 milhões de refeições diárias.
“Para além desses números assustadores, o relatório é muito importante, pois serve como um guia prático para os países medirem e comunicarem de forma mais consistente e confiável o desperdício alimentar. Portanto, saber o tamanho do problema é o primeiro passo para conseguirmos resolver”, esclarece.
Dificuldades
Conforme a especialista, os sistemas alimentares são compostos por uma cadeia de fatores que influenciam no consumo de cada país e englobam desde o cultivo dos alimentos e passam pelo transporte até o comércio e consumo. Ela explica que essa complexidade de elementos torna ainda mais difícil um controle preciso daquilo que é desperdiçado.
“Na verdade, a gente empenha recursos naturais na produção, no armazenamento, no transporte e na distribuição de alimentos e esses recursos vão se perdendo de forma silenciosa, juntamente com os alimentos quando são desperdiçados. Então, a gente tem que olhar muito necessariamente para esses dados, porque eles mostram a magnitude do problema”, conta.
Lares
Para Nadine Marques, alguns comportamentos das pessoas nas suas residências e convívio familiar explicam os altos índices de alimentos jogados no lixo. Ela explica que as pessoas precisam planejar melhor o momento de comprar os alimentos, evitar preparar refeições que ultrapassem o que cada um suporta comer, verificar as sobras na geladeira antes de preparar uma nova refeição e também se atentar ao armazenamento de comidas frescas.
A especialista alerta, no entanto, que a culpa por esse desperdício não deve ser totalmente direcionada às famílias, uma vez que existem fatores externos que impactam na vida útil dos alimentos. Ela chama atenção para as altas temperaturas que atingiram o mundo no ano passado e afetam principalmente os países de terceiro mundo, onde as pessoas não têm acesso a refrigeradores e condições adequadas de armazenamento de alimentos.
“Eles não têm cadeias de refrigeração adequadas e robustas e os alimentos acabam estragando, mas isso é uma realidade cada vez mais presente, e não só nos países mais quentes, mas também em regiões que têm enfrentado ondas de calor severas; vale lembrar que 2023 foi o ano mais quente nos registros. Muitas vezes esse desperdício não é uma escolha das pessoas, mas um fator associado às condições de desigualdade socioeconômica”, finaliza.
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