“Tradicionalmente, os estudos sobre a arte modernista focam as artes visuais e a literatura, com alguma atenção para a música, mas sem dialogar com a rica produção de caráter industrial que marca o período e bebe nas fontes do construtivismo, núcleo da coleção do casal Fulvia e Adolpho Leirner”, explica Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens, da Rádio USP (clique e ouça o player acima). E é esse um dos aspectos do livro Art Déco no Brasil , da Editora Olhares, que Ana Paula Simioni e Luciano Migliaccio, professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP e professor Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, abordam. “Outro ponto alto do livro é, obviamente, a discussão sobre o art déco, mapeando as tendências dessa arte que emerge em meados dos anos 20.”
Segundo avalia Giselle Beiguelman, em uma edição primorosa, os autores contextualizam a gênese da coleção do casal Leirner e propõem uma outra história do Modernismo. “Basicamente, há duas orientações distintas – e antagônicas – para os novos rumos das chamadas artes aplicadas de então.”
A colunista explica que, de um lado, estavam os artistas decoradores dedicados a recuperar elementos da tradição nacional francesa e readequá-los às demandas do presente, o que implicava manter a sofisticada cultura artesanal secular do País, adaptando-a a novos usos, funções, espaços e gostos; esses eram os chamados contemporâneos. De outro, um grupo de jovens artistas ansiosos justamente por romper com o passado, instaurando uma estética calcada na funcionalidade, livre de quaisquer ornamentações que absorvessem novos processos produtivos e materiais considerados adequados ao mundo do presente, o mundo das indústrias, da ciência, do trabalho, do movimento, da higiene; esses eram chamados de modernos.
Ouvir Imagens
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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